Adriana Barbosa: Negócios sociais e rede de apoio

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Adriana Barbosa: Negócios sociais e rede de apoio

Fundadora da Feira Preta fala sobre seus negócios de impacto social


15 de março de 2022 - 13h42

Adriana Barbosa é fundadora da Feira Preta e do PretaHub (Crédito: Arthur Nobre)

Nas baladas de música negra da Vila Madalena, Adriana Barbosa notou que a cadeia de produção e a frequência dos locais eram compostas por pessoas pretas. Com exceção dos donos das casas de música. Foi a partir desse insight que ela fundou a Feira Preta, há 20 anos, na Praça Benedito Calixto, em São Paulo, com a expectativa de trazer para o centro todo o potencial criativo da população negra. A iniciativa viria a se tornar a maior feira do tipo na América Latina: ao longo do tempo, reuniu 200 mil pessoas e movimentou aproximadamente R$ 6,5 milhões da venda de produtos e serviços. 

Já em 2018, surgiu o PretaHub, que une e fomenta a cultura, a economia e o empreendedorismo negros. Segundo ela, como começou a empreender pela ótica da necessidade — como a maioria das mulheres negras no Brasil –, um dos desafios enfrentados foi o do investimento em educação e sustentabilidade financeira, como acesso à crédito, por exemplo.

Graduada em gestão de eventos com especialização em gestão cultural pelo Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação da ECA – USP., Adriana acredita em empreendedorismo com propósito, o que insere o hub dentro do escopo da filosofia de negócios de impacto social. “Isso tem um papel importante no processo de desenvolvimento do País, principalmente agora quando falamos de ESG e processos de olhar para os aspectos da questão ambiental, mudanças climáticas e governança dentro das empresas e da sociedade”, pontua ela. 

Confira entrevista completa a Women to Watch: 

EMPREENDER COM PROPÓSITO 

“Nosso trabalho está dentro da filosofia de negócios de impacto social. São negócios que precisam gerar riqueza, sim, trazer dinheiro, mas não para acumular entre os sócios e dirigentes. É para ver investimento na sociedade. O nosso fim é ter um impacto na sociedade e, no caso, especificamente, na população negra. Todos os projetos que a gente desenvolve têm essa perspectiva de impactar socialmente a comunidade negra, seja de empreendedores, artistas, público em geral. Todos os programas são suportados por esse propósito, por essa missão. O negócio de impacto social é diferente de um negócio tradicional — o fim dele não é lucro.”  

EMPREENDEDORISMO SOCIAL NO BRASIL 

“Isso tem um papel importante no processo de desenvolvimento do País, principalmente agora quando falamos de ESG e processos de olhar para os aspectos da questão ambiental, mudanças climáticas e governança dentro das empresas e da sociedade.  

As organizações sociais e os negócios de impacto social que atuam dentro de diferentes temas são como se fossem parceiros aliados do terceiro setor, do poder público e da iniciativa privada. Existem muitos negócios hoje que não só impactam socialmente, mas têm um papel fundamental no processo de transformação dentro do País. O que seria hoje se a gente não tivesse um ecossistema de organizações dentro do ecossistema empreendedor que está olhando especificamente para o recorte racial? Boa parte dessas organizações são negócios de impacto social, elas têm essa finalidade de apoiar e de fazer a alavancagem do empreendedor negro. Cada vez mais o sistema tem sido desenvolvido no Brasil.

Quando a Feira Preta se consolidou como negócio de impacto social, há doze anos, foi isso que aconteceu. Hoje, a agenda teve um processo grande de aceleração do tema. Temos investidores que estão olhando só para negócios de impacto social. São organizações que têm fundos de investimento, uma série de atores no ecossistema que trabalham a serviço do fortalecimento dessa cadeia de negócios de impacto.” 

MULHERES DA PERIFERIA 

“Quando olhamos para as regiões periféricas, vemos um público CDE. Cruzando com dados do Sebrae sobre o perfil dos microempreendedores desse corte, é formado por mulheres negras e chefes de família. Boa parte dos negócios que estão alocados em regiões periféricas fazem a economia circular dentro desses territórios. Estamos falando de negócios diversos, na área de comida, serviços, beleza e em diferentes setores — que, inclusive, eu tenho a sensação de que prosperaram no contexto da pandemia. No processo de isolamento e do distanciamento social, passaram a consumir dentro de seus territórios.” 

DESAFIOS 

“Teve uma questão ruim do processo discriminação racial, não vou negar. Isso fez parte da minha trajetória: o racismo estruturante sistêmico, das coisas corriqueiras às mais complexas. Comecei como a maioria das mulheres negras do Brasil, pela ótica dos empreendedores por necessidade, e ao longo do meu caminho tive que investir em educação para o empreendedorismo. Isso foi importante na minha trajetória, pois eu não tinha uma educação empreendedora. Tive que ir atrás de decodificar os temas e os conteúdos para poder empreender. Tem também a parte de sustentabilidade financeira: ter acesso a prédios, saúde, educação e gestão financeira.” 

CONSELHOS 

“A primeira coisa que eu diria para as mulheres é a questão subjetiva: do investimento pessoal, do autoconhecimento. Foi muito importante poder me reconhecer como uma empreendedora. Principalmente as microempreendedoras têm muita dificuldade em se reconhecerem como mulheres empreendedoras. Acho que é uma dimensão subjetiva de fortalecimento da autoestima, de desenvolvimento pessoal, que é importante para o processo de empreendedorismo. Hoje é possível trazer inovação, diferencial no produto e no serviço quando se tem autenticidade. A segunda é atuar em rede. Isso foi fundamental para mim na minha trajetória, tive muitas mulheres que me apoiaram. […] A terceira é o ponto de vista da educação, de investir na educação empreendedora. Muitas coisas mudam, principalmente agora na era digital e da tecnologia, então é preciso estar sempre se atualizando. A educação é um princípio fundamental para se manter como empreendedora e alavancar.” 

 

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