As dificuldades das empreendedoras LGBTQIAP+

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As dificuldades das empreendedoras LGBTQIAP+

Estudo realizado pela Nhaí em conjunto com a AlmapBBDO mostra que a necessidade e a informalidade ainda pesam na jornada de negócios desse grupo


24 de março de 2022 - 13h54

De acordo com a pesquisa, as mulheres LGBTQIAP+ que decidem abrir seu próprio negócio são movidas pela necessidade (Crédito: Isi Parente)

Criar e gerir o próprio negócio é uma tarefa que já traz complexidade de dificuldades para todos que se arriscam no ambiente do empreendedorismo. Para as mulheres, esses desafios ganham um peso ainda maior, uma vez que as desigualdades de gênero e sociais acabam fazendo com que as mulheres empreendedoras encontrem mais barreiras para conseguir crédito e até mesmo em conciliar os negócios com a jornada doméstica.

Essa sobreposição de dificuldades ganha uma camada adicional quando se analisa a realidade das mulheres LGBTQIAP+ que se propõem a empreender. Para mapear esse grupo, a AlmapBBDO e a Nhaí fizeram uma pesquisa para identificar o perfil, os anseios e os entraves das mulheres empreendedoras dessa comunidade.

Os resultados do estudo, que foi composto com base em 174 entrevistas conduzidas pela plataforma On the Go, foi apresentado pela primeira vez nessa quarta-feira, 23, durante o Contaí, evento promovido pela Nhaí para debater as oportunidades de negócios na comunidade LGBTQIAP+.

Necessidade e dificuldades

A maioria das entrevistadas pelo estudo (67%) afirma que empreender foi uma decisão pessoal. Mas, como já acontece no empreendedorismo feminino, de forma geral, as mulheres LGBTQIAP+ que decidem abrir seu próprio negócio também são movidas pela necessidade: 33% das entrevistadas disseram que a decisão de empreender foi tomada pelo fato de precisarem buscar renda, seja por não terem emprego (54%), pela falta de dinheiro (fator citado por 19%) e até mesmo pelo preconceito a respeito de sua orientação sexual (13%).

A pesquisa também aponta que a pandemia acabou acelerando a jornada empreendedora dessas mulheres. Do total de entrevistas, 32% disseram que abriram seus negócios próprios nos últimos 24 meses. As áreas mais procuradas pelas empreendedoras da comunidade LGBTQIAP+ são as de moda e beleza, tendo sido escolhidas por 54% das respondentes da pesquisa. Gastronomia e produção de conteúdo também apareceram como as áreas que atraem as empreendedoras, sendo citadas por 12% e 7%, respectivamente.

Negócios informais

Outro ponto destacado no estudo é o fato de que esse grupo ainda mantém boa parte de seu trabalho na informalidade: 47% das entrevistadas não possuem o registro de suas empresas (CNPJ). E o custo de empreender ainda é algo que recai quase totalmente sobre elas: 82% disseram que usaram investimentos próprios para iniciar seus negócios, enquanto 36% recorreram a empréstimos de familiares e amigos.

Na visão de Raquel Virgínia, fundadora e CEO da Nhaí, além das dificuldades estruturais e econômicas, as mulheres LGBTQIAP+ ainda têm o preconceito como uma barreira para desenvolverem seus negócios. É fundamental, segundo ela, que sejam propostos avanços e iniciativas para que as pessoas não sejam rotuladas por sua identidade de gênero ou orientação sexual.

 

Para Raquel Virgínia, fundadora e CEO da Nhaí, as mulheres LGBTQIAP+ ainda têm o preconceito como uma barreira para desenvolverem seus negócios (Crédito: Arthur Nobre)

Em entrevista concedida ao Meio & Mensagem em janeiro, Raquel Virginia, que é mulher negra e trans, comentou que a agenda de inclusão está mais presente na indústria da comunicação, mas ressaltou que os avanços precisam chegar com mais rapidez. “Existe uma vontade por parte do mercado, mas não existe um projeto consolidado para fazer essa vontade acontecer. Mudamos o percurso da história quando calcamos essa vontade em projetos de médio e longo prazo. Infelizmente temos uma educação de gênero muito conservadora, que faz com que as discussões aconteçam, mas ainda de forma solta”, destacou.

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