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Opinião

O Bom, o Belo, o Nobre e o Marketing

O papel do Marketing é criar pontes. Mas como criá-las no contexto atual, tão delicado, sem ser brutal, insensível, oportunista-psicopata, agente de greenwashing?


5 de abril de 2022 - 6h00

(Crédito: Hurca/ Shuttersotck)

Pensando no que eu gostaria de cobrir aqui, nessa primeira coluna (que honra!), me achei num vácuo onde só conseguia ver, de fato, uma coisa: o mundo em que estamos vivendo e qual o sentido contemporâneo do Marketing, a disciplina que escolhi estudar.

Há um mês, nossas vidas foram invadidas por uma ideia assustadora: a tirania de um líder global tentando se apossar de um país independente e o risco de uma terceira guerra mundial. Isso depois de termos passado pelo moedor humano que foi a pandemia, em todos os sentidos. Sem esquecer que tudo veio em cima de nossas crescentes preocupações com o aquecimento global e a sustentabilidade do planeta.

Yuval Harari se pergunta, numa de suas últimas reflexões: “será que somos incapazes de aprender com nossas próprias experiências históricas?”. Olhando do ponto de vista dos jovens, qual é a perspectiva? Qual é o sentido disso tudo?

Esse é o pano de fundo da vida de hoje, a vida que não para, como diria Lenine. E essa vida que não para produz em nós necessidades e desejos que precisamos resolver com produtos e serviços que alguém possa nos oferecer. Nunca nos bastamos sozinhos. É aí que entra o Marketing. O papel do Marketing é criar pontes. Mas como criá-las no contexto atual, tão delicado, sem ser brutal, insensível, oportunista-psicopata, agente de greenwashing?

Um episódio do controvertido Russell Brand no seu canal no YouTube me chamou atenção nos últimos tempos. O vídeo, publicado em junho do ano passado, fala sobre o jogador Cristiano Ronaldo na conferência de imprensa da UEFA 2020. Nele, Brand aborda também a extrapolação dos benefícios emocionais na construção de uma marca, a despeito da realidade do produto que a carrega. Fala sobre como o Marketing abusou, a ponto de criar construções insólitas, que não ajudam as pessoas a entenderem o que estão comprando. “Pontes flutuantes”? “Pontes da Ilha da Fantasia”?

Num mundo incerto, penso que precisamos de pontes que conectem nossas necessidades com formas positivas e tangíveis de satisfazê-las; da realidade do produto à estratégia de comunicação, passando pelo impacto gerado no processo.

Já tínhamos uma Greta pra nos fazer pensar em como estivemos nos comportando “na indústria da construção de pontes”. Agora, temos um Zelenski. Um herói que levanta uma nação por meio da ignição de valores humanos primordiais. Um homem que faz a OTAN tremer toda vez que a endereça publicamente, simplesmente porque está fazendo a coisa certa. A coisa moralmente certa.

Zelenski encarna os ideais Gregos do Bom, do Belo e do Nobre (kalos aghatos) e seu povo, bem como todos nós, respondem a isso. Queremos ser melhores, como Zelenski. Queremos ter mais coragem e combater o bom combate. O “efeito Zelenski” também me lembra o que o Arcebispo Desmond Tutu falou sobre Mandela certa vez: “Ele é bom, e o coração das pessoas acelera quando o escutam porque pensam ‘podemos ser assim também!’”

Zelenski me inspira a pensar num Marketing possível pros dias de hoje. Humano, corajoso, próximo, real. Com a construção de pontes (talvez menores!) Boas, Belas e Nobres, das quais possamos nos orgulhar. Nas quais nossos filhos, vizinhos e amigos possam, finalmente, acreditar.

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