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Opinião: Tarefa para as empresas

Inovação tem um sentido prático. Invenção, nem tanto. Inovar é, ao fim, emitir mais e melhores notas fiscais


21 de maio de 2013 - 9h00

(*) Por Francisco Saboya

Leonardo da Vinci era um sujeito notável. Escrevia ao contrário, pintava e bordava. E inventava. De um tudo. Bicicleta, helicóptero, paraquedas, planador. Cidades, pontes giratórias, tanque de guerra, canhão. E olha que isso tudo se deu quando o Brasil nem tinha nascido. Ele era radical, pensava e desenhava coisas nunca antes vistas. Confiram aqui: Museo Scienza.

Da Vinci era um inventor muito famoso. Ocorre que muito antes dele alguém, um anônimo, inventou o arado. Outro, o moinho, e por aí vai. E vem, porque depois dele tivemos vacina, rádio, ar-condicionado, computador, numa lista que não acaba mais. O caso de Da Vinci é emblemático, pois nos mostra que nem sempre as grandes ideias são implementadas. Pelo menos no seu tempo. É por essa razão que diferenciamos invenção de inovação.

Passeando pelo The Oxford Handbook of Innovation (US$ 51,37 na Amazon ou pedaços free neste site), vimos que invenção é a primeira ocorrência de uma ideia para um novo produto ou processo, enquanto inovação é a primeira tentativa de colocar isso em prática. Vista dessa maneira, inovação seria mesmo uma coisa muito velha, pois desde as cavernas o homem foi se armando para enfrentar a dureza da vida lá fora. Há registros de utensílios datados de 50.000 a.C.

A descoberta das possibilidades de uso de pedras apontadas, crânios como vasilhas e pedaços de grandes ossos provavelmente nos ajudaram a chegar até aqui. A trajetória civilizatória, então, pode ser contada a partir da própria história da evolução tecnológica. Essa perspectiva foi magistralmente captada por Kubrick em 2001 – Uma Odisseia no Espaço, ao conectar, em pouco mais de um minuto, dois universos distantes, num dos cortes geniais do cinema — aquele que converte um osso-arma em um espaço-nave (veja aqui).

Inovação tem um sentido prático. Invenção, nem tanto. Há muitas vezes uma distância temporal considerável entre ambas. Isso decorre essencialmente de condições objetivas. A invenção pode estar à frente de seu tempo, e se a sociedade não perceber valor na mesma, não haverá nenhuma razão para se investir no seu desenvolvimento. E ainda que haja tal sincronicidade, a conversão de uma ideia-invento em um produto ou processo substancialmente novo — ou seja, inovação — regularmente enfrenta obstáculos de diversas naturezas, como escassez de recursos e conhecimentos em áreas complementares, dificuldades práticas de produção ou limitações nas estruturas de comercialização, entre tantas outras.

Além de sentido prático, a inovação tem essencialmente um caráter econômico. Embora ela também se manifeste em contextos não econômicos, em especial em universidades, instituições públicas ou organismos privados sem fins lucrativos, ela está predominantemente associada às engrenagens de mercado. Mas onde se dá e quem provê para a sociedade a inovação nossa de cada dia? Recorremos aqui a Joseph Schumpeter, um dos teóricos pioneiros do papel da inovação nas mudanças sociais e econômicas (leia aqui).

Para ele, a inovação não brota em qualquer canto. Manifestando-se na forma de novos produtos, novos métodos de produção, novas fontes de recursos, na exploração de novos mercados ou em novas maneiras de organização dos negócios, a inovação é nos dias de hoje essencialmente uma tarefa que cabe às empresas. Por trás de firmas existem empreendedores — sujeitos vocacionados para negócios, tomadores de risco e desbravadores de futuros. Empreendedores-inovadores misturam sonhos com forte senso prático, e talvez seja essa a principal diferença entre eles e os inventores. Inventores brilhantes não são, via de regra, as melhores referências quando o assunto é extrair ganhos financeiros, mesmo quando se consideram suas invenções mais brilhantes e disruptivas.

Afinal, como costuma lembrar o cientista-chefe do C.E.S.A.R. – Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife, Sílvio Meira, inovar é, ao fim e ao cabo, emitir mais e melhores notas fiscais.

Um abraço e até a próxima.

(*) Francisco Saboya é diretor-presidente do Porto Digital e jurado da categoria Inovação no Cannes Lions 2013. Ele escreve uma vez por mês para Meio & Mensagem. Este artigo foi publicado na edição 1560, de 20 de maio, nas versões impressa e para tablets, exclusivamente para assinantes.

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