Meio & Mensagem
29 de abril de 2013 - 1h40
Até o dia do aniversário do Brasil, 22 de abril, o filme Uma História de Amor e Fúria (Luiz Bolognesi, 2012), que de maneira criativa aborda aspectos relevantes da história nacional, havia vendido 23.189 ingressos após três semanas em cartaz. Um número muito aquém da qualidade do longa metragem. De quem é a culpa?
O filme é bem produzido e bem dirigido. A história é boa e o roteiro é correto. Duas das vozes que dublam os personagens são de Selton Melo e Camila Pitanga, portanto há um sotaque conhecido e televisivo a dar vida aos bonecos animados. A culpa não é da produção.
Desde Akira (Katsuhiro Otomo, 1988) a animação para adultos é tratada com naturalidade pelas platéias do mundo inteiro que veem nessa forma de contar histórias uma linguagem moderna. A culpa não é da animação.
O filme não é em 3D, mas a “modinha” da estereoscopia acabou e o espectador entende que essa é mais uma opção, mas não a única. A culpa não é do 2D.
Há várias referências à história do Brasil. Da descoberta ao golpe militar de 64 e a uma suposta (mas absolutamente plausível) corrida pela água potável em um futuro não tão distante. Não temos mais vergonha de sermos brasileiros, portanto a culpa não é da história.
Mas por que totalizar, em três semanas, um número compatível a um jogo desinteressante do Corinthians no Campeonato Paulista?
A culpa é da distribuição. Não é de hoje que a indústria do cinema nacional padece pela falta de inteligência nos lançamentos. Os filmes são tratados como comodites, sem diferenciação. Não há preocupação com o posicionamento, com o público, com aspectos regionais, com o perfil das salas e com qualquer outro fator que determine a performance de um longa metragem.
Os discursos são recorrentes, tanto por parte dos executivos que compõem a indústria da distribuição, quanto por parte da imprensa que cobre a área. Só há preocupação com o número de cópias, com os números da “abertura” (que é como a indústria do cinema chama a sexta, sábado e domingo de lançamento) e se há mídia na líder de audiência da televisão brasileira.
Além de reféns dos shoppings, que são poucos para atender a necessidade da exibição no país, nos tornamos reféns do tempo (uma má abertura significa a condenação do filme, independente de sua capacidade de recuperação) e reféns da mídia televisiva, assim como as palhas de aço.
Uma História de Amor e Fúria é um belo filme. Daqueles que precisam ser degustados, com tempo e reflexão. O problema é que a pequenez dos distribuidores, nacionais e internacionais, faz com que não entendam que esse tipo de produto também é e tem mercado. A ditadura da distribuição comoditizada impôs um único tipo de produto, o blockbuster.
Essa é a maneira errada de fazer cinema, porque essa expressão não diz só respeito à produção. Fazer cinema também é construir salas e platéias e, sob esse ponto Uma História de Amor e Fúria tem muito a contribuir.
É lamentável que o senso comum rasteiro dos participantes dessa indústria faça-os acreditar que os produtores dos conteúdos nacionais já se remuneraram nas linhas de crédito e fomento da produção e que os produtos tem maiores oportunidades em outras janelas de exibição como o VOD, o home vídeo ou o cabo. Ou seja, cinema não precisa dar dinheiro.
Amor e fúria não são somente os sentimentos do protagonista do filme, mas o dia a dia daqueles que, como os produtores de Uma História…, se dedicam a fazer cinema de qualidade e se deparam com o fato de interessar para muitos um mercado limitado, sem inovação ou criatividade. Essa é a forma de garantir o emprego e os bônus no final do ano.
* André Porto Alegre é diretor comercial da Mariana Caltabiano Criações
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