Um desafio do jornalismo investigativo: capitalizar-se
Painel de abertura do Media On, seminário realizado pelo Terra e Itaú Cultural, detalha a experiência do Pro Publica, portal ganhador de Pulitzer e que depende da filantropia para se manter
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23 de novembro de 2011 - 7h10
Em sua quinta edição, o Media On, evento internacional realizado pelo Terra e Itaú Cultural, volta a debater – até a quinta-feira 24 – o jornalismo online e o impacto do avanço tecnológico na maneira como as notícias são consumidas e produzidas. Transmitido ao vivo pela internet, o painel de abertura, na noite desta terça-feira, 22, teve como tema o jornalismo investigativo. E para explicitar esse assunto o centro do palco foi tomado pelo editor-executivo do Pro Publica, Stephen Engelberg. O debate foi moderado por Fernando Rodrigues, da Folha de S. Paulo e atual presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo.
Criado em 2007, o Pro Publica é um portal de notícias baseado em Nova York, instalado até nas cercanias do decano The New York Times, e que nesse pouco tempo de existência conquistou um prestígio dado aos grandes nomes da imprensa norte-americana: o Pulitzer. Essa láurea foi atribuída pelo trabalho de jornalismo investigativo, que analisa dados públicos e que procura contar histórias em profundidade e que não chegariam a público sem esse caráter dedicado.
Para explicar a origem do portal, Engelberg, que atuou por 18 anos no NY Times, fez referências à crise financeira do jornalismo impresso nos Estados Unidos gerada pelos altos custos de produção e pelo impacto da evolução digital. “Em 2007, toda companhia enfrentou um verdadeiro tsunami. Para cada dólar arrecadado, 80 centavos eram usados para pagar papel, produção, infraestrutura”, disse. Como destacou, o cenário que se apresentava era de declínio da então lucrativa indústria de jornais.
Um dos reflexos desse quadro foi a diminuição do trabalho investigativo. Jornais não tinham como manter redações maiores e nem dedicar mais tempo a reportagens que exigissem muitos dias de apuração. Atenta a essa fato, a Fundação Sandler decidiu bancar a criação de um portal que pudesse exatamente se dedicar a essa missão. “O Pro Publica faz jornalismo investigativo com reportagens extensas e busca assuntos que, ao serem publicados, as pessoas possam perceber que são diferentes”, explicou Engelberg, salientando que o site não tem fins lucrativos e que a estrutura é bancada por filantropia.
A expectativa é que, ao longo do tempo, essa dependência de doações desapareça. O desejo é consolidar um modelo de negócios e uma plataforma financeira que os torne 100% livres da filantropia. Um detalhe fundamental é que na sociedade norte-americana a doação se tornou um hábito. “Existe uma filantropia tradicional. É o que fazem Bill Gates e Warren Buffett”, exemplificou.
A Fundação que os colocou no mundo fez um acordo de que faria contribuições por três anos seguidos. O portal continua recebendo dinheiro vindo de doações. O site tem um gerente geral para encontrar meios de garantir a saúde financeira do Pro Publica. Seu conteúdo entrou, por exemplo, no Kindle, forma pela qual também fatura. A partir deste ano, o portal passou a ter a publicidade como outra fonte de receita. No entanto, as doações continuam a ser o principal sustentáculo do site.
Negócios
Perguntado sobre o desafio para os próximos anos, Engelberg reforçou que o mais importante é ter essa plataforma financeira. O portal conta com classificados também, porém ele considera que isso não será suficiente para que o site atinja essa tão almejada independência. “Ter um modelo bancado somente pelos anúncios no portal não funciona”, afirmou. O Pro Publica, que mantém uma reserva para eventuais processos jurídicos (nesse período, só teve um), já fez acordos com grandes grupos jornalísticos para veicular reportagens suas nesses diários. As parcerias garantem algum dinheiro para o portal e isso não os prejudica no sentido de permanecerem fiéis ao seu conceito, afiançou o editor-executivo.
Outro ponto a respeito do futuro que Engelberg mencionou é o tamanho da estrutura. Segundo ele, o Pro Publica não pode ser cinco vezes maior do que é hoje. Fora isso, o portal ainda não teve maiores decisões quanto ao que serão dentro de cinco, dez anos.
Atuação
O Pro Publica tem atualmente 34 profissionais, com perfis diversos. Há gente com 27 anos, mas há os bem mais velhos. Para construir uma carreira no jornalismo investigativo, é preciso ter um pouco mais de expertise. No entanto, o Pro Publica não descarta a juventude. O principal é que o repórter tenha pensamento crítico.
Há duas características que marcam o portal. Os repórteres recorrem muito à análise de dados e dão condições para que os jornalistas encontrem as fontes originais e críveis de uma boa história. No caso dos dados, isso exige que os profissionais do portal tenham habilidades específicas, não apenas para encontrar essas informações e transformá-las em conteúdo acessível para o público, como também é fundamental encontrar maneiras de oferecer esse material de modo funcional, seja pelo desenvolvimento de um software que facilite a localização de dados ou mesmo de aplicativos para smartphones.
Diferentemente do WikiLeaks, o Pro Publica não “pega informações de forma não filtrada”. Engelberg disse que se utilizam sim do crowdsourcing, mas que não tem uma “caixa” para receber toda sorte de denúncia. Ele preferiu não emitir opinião a respeito do que vem acontecendo com Julian Assange, optando por dizer que o Pro Publica se sente satisfeito de fazer parte do trabalho de jornalismo investigativo que há no mundo.
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