Pyr Marcondes
13 de março de 2017 - 8h38
Há duas semanas, ainda durante o MWC de Barcelona, pudemos registrar aqui que o 5G vai instaurar um poder supremo de infra-estrtura telecom aos eventos ao vivo, que não serão mais apenas assistidos, serão acessados. Porque o pedaço ao vivo será só um pedaço, bem menor, do que de fato será a amplificação do evento através da conectividade da Internet das Coisas e da velocidade jamais vista do 5G.
Aqui no SXSW não se fala de infra-estrutura, nem de telecom, nem de 5G. Fala-se da camada imediatamente acima de tudo isso. A camada de conteúdos ao vivo que começa a expandir-se a um ritmo que não conhecíamos até agora, que por sua vez tem suas bases na migração massiva e definitiva da audiência para o ambiente mobile. Acrescente-se aí as novas plataformas Live lançadas mais recentemente, como Periscope, Facebook Live, além da velocidade urgente do Twitter, Instagram e do Snapchat. Sem contar obviamente o You Tube.
Sobre esse tema vários painéis de debate se sucederam aqui, envolvendo plataformas tecnológicas e produtores de conteúdo, sendo que cada vez mais essas duas areas de negócio se misturam, com plataformas produzindo conteúdo e produtores de conteúdo sendo comprados por grandes plataformas tecnológicas, que antes respondiam apenas pelo pipe da distribuição.
Um deles foi o “Brand Building Trough Live Video”, no qual estiveram presentes Bob Gruters, Group Director for Global Marketing do Facebook; Robyn Peterson. Chief Technology Officer do Mashable (moderador); Ryan Spoon, Senior Vice President, Digital Product, Design & Audience development da ESPN; além de Stephanie McMahon, Chief Brand Officer da WWE, maior rede de luta livre do mundo.
“Quando fazemos um evento ao vivo, ativamos ao máximo e ao mesmo tempo todas as nossas plataformas de distribuição e conexão com nossas audiências”, revela Stephanie, da rede WWE. “Isso faz explodir nossa audiência e cobertura, assim como nossas taxas de engajamento”.
A grande parte dos conteúdos da WWE é ao vivo e à parcela de público mais tradicional e cativa que ainda prefere assistir aos eventos na TV da sala e no sofá, se sobrepõe uma outra audiência, que é cada vez maior, que acessa os conteúdos da WWE via redes sociais, em aparelhos móveis.
Essa mesma dinâmica você pode replicar para tudo que for conteúdo ao vivo que se fará daqui para frente. Aliás, essa nova possibilidade de disseminação e replicação será certamente responsável pelo aumento vertiginoso dos conteúdos ao vivo por todas as partes. Anota aí, põe essa na minha conta.
O mesmo faz a ESPN, sendo que Ryan Spoon nos alerta para o fato de que não se trata apenas de reproduzir o mesmo conteúdo em todo lugar ao mesmo tempo, mas de criar e produzir pedaços e mais pedaços de conteúdos complementares, que tem que se adaptar aos mais variados formatos de telas, como também serem personalizados.
“Graças as tecnologias de dados e as plataformas digitais, conseguimos hoje entregar conteúdos cada vez mais aderentes aos diversos perfis de público com os quais nos relacionamos”, conta ele.
O que ele está dizendo é que pela primeira vez, com uma precisão nunca vista, as plataformas de tecnologia e os produtores de conteúdo podem, a um só tempo, produzirem e distribuírem conteúdo em massa, para acesso imediato, só que personalizado para cada um de nós, audiência. Massa com personalização é um casamento e tanto, convenhamos.
Assim, dados se tornam chave no mundo do entretenimento e de todos os conteúdos live que já estamos assistindo e seguiremos assistindo daqui para frente. Eles são não só a base de metrificação e acompanhamento de performance da audiência, como também a base de segmentação cada vez mais precisa do público-alvo.
Todos os presentes no painel foram unânimes em ressaltar que além da busca por audiência pura e simples é importante atentar para o fato de que o engajamento das audiências ao vivo via redes sociais e mobile é absurdo, aumentando os indicadores em até dez vezes se comparado a conteúdos não replicados nessas plataformas. E engajamento é uma moeda que ninguém quer deixar na mesa, certo?
Essa briga esquenta com a chegada do Google, Twitter e Facebook começando sua aventura no mundo da produção de conteúdo, seja transmitindo grandes eventos já existentes, como a NFL, por exemplo, seja a partir de agora olhando com um olhão bem grandão para o mercado de conteúdo ao vivo em si, através de sua produção própria, mimetizando o modelo Netflix e Amazon.
A fome insaciável das audiências por conteúdo ao vivo para consumo imediato, agora cada vez mais possível pela superposição perfeita da conectividade mais veloz do que nunca, com a capacidade de produção, distribuição e segmentação dos players de conteúdo, midia e tecnologia, tudo isso junto e misturado, cria um cenário inédito para o mundo do conteúdo.
Para as marcas, esse será um negócio dos sonhos, já que poderão elas cada vez mais, além de entrarem nessa brincadeira produzindo seus próprios conteúdos, mas também pegando carona nessa urgência toda, nessa audiência conectada e segmentada como nunca, via consumo imediato.
O mundo nunca foi tão rápido. Nossa fome de urgência nunca foi tão grande. Isso fica mais que claro aqui, no sempre corrido e urgente SXSW.