Vimos todos, nestas últimas semanas, as notícias de busca por abertura de capital do Pag Seguro, do UOL, e a venda do 99 Taxis para o Didi, opa, a Didi Chuxing, chinesa.
São ambas a ponta exposta de um grande iceberg em consolidação: o mercado brasileiro de empreendedorismo.
Todo mercado de empreendedorismo maduro gera Unicónios, empresas com valores acima de um bilhão (preferencialmente, de dólares). Essas duas são fortes candidatas. Mas não são só elas.
Banco Neon, Youse, Guia Bolso e Nubank são outras. Há ainda a RD, Minuto Seguros e Creditas. Não tenho a menor ideia se essas cinco empresas vão de fato virar Unicónios ou não. Para ser bem objetivo aqui, nem seus empreendedores e investidores. Mas não é esse o ponto.
O ponto é que não seria nenhuma surpresa se virassem. As condições estão dadas. Se essas não forem, outras startups brasileiras serão. Isso está traçado.
Pela primeira vez na história do empreendedorismo contemporâneo tecnológico brasileiro, podemos criar empresas que tenham valor superior a um bilhão de dólares, mas o mais interessante ainda é que o iceberg completo existe. Ou seja, há uma consistente massa de negócios e startups se consolidando fortemente abaixo dessas estrelas de primeira grandeza, a tal ponta do iceberg.
Não há números precisos sobre o tamanho desse mercado, mas estamos falando de, sei lá, umas 50 mil startups em fase de gestação, umas em estágio inicial de investimento anjo, outras (um grupo bem menor, mas já existente) de startups prontas para receber investimentos de VCs e, daí pra cima, ainda pouca coisa, mas enfim, temos essas 5 aí no topo da cadeia e tantas outras recebendo milhões de investimento.
Mais no detalhe, vemos que o buraco que havia antes entre aqueles primeiros investimentos tipo family & friends (50k a 100k) e os aportes de 700k e 1MM para cima foi coberto. Fundos como Domo, Canary, Triple Seven, Duxx e outros entraram nesse segmento, compondo um elo mega-importante da cadeia, que vai exatamente dos 100k ao 1MM.
Então, preste atenção: estamos falando de um setor estruturado em suas bases mínimas. Temos as startups, com suas entidades representativas, como a ABStartups. Mas temos também organizações de anjos, com a emblemática entidade Anjos do Brasil. Temos aceleradoras como a ACE. Temos ainda um novo e vigorosíssimo elo dessa cadeia que é a Bossa Nova Ventures, certamente a maior iniciativa da América Latina de capital anjo hoje em operação. Temos o crowdfunding representado pelo pioneiro Broota. Temos grandes empresas de VC de várias naturezas, como a Astela (nacional) e o Red Point (destaque no Vale do Silício). Ou ainda a A5 e a eBricks, já setorizados e de nicho. Temos butiques de captação de recursos, como a Cypress. Temos fundos de Private Equity. E temos o Governo Federal, notadamente através da APEX, mas também outras iniciativas de incentivo em estados e municípios.
Temos ainda o setor privado entrando forte nisso tudo, seja através das grandes companhias, seja através das consultorias. Nesse ambiente, podemos destacar, para citar apenas alguns, o Cubo, do Itaú, e, em breve, o Habitat, do projeto Inovabra, do Bradesco. O Google tem seu campus, idem a Telefonica com a Wayra. A Microsoft também.
E temos ainda a sempre tardia (no Brasil) academia, que nos EUA foi o berço do empreendedorismo tecnológico, que agora também aqui está acordando para criar cursos para o setor, e até fomentar elas mesmas suas próprias startups.
Vemos um co-work em cada esquina e a chegada do We Work elevou o sarrafo para níveis internacionais no segmento aqui no Brasil.
Uma maravilha tudo isso. Creio fielmente que esse é o Brasil do futuro. E o futuro do Brasil. Como já é em vários outros países do mundo.
Será esse ecossistema todo, com cada peça jogando sua relevância, que vai nos levar a atravessar a ponte para uma economia conectada com as novas tecnologias e os novos parâmetros de desenvolvimento econômicos, que em verdade não são mais nacionais, mas globais.
Unicórnios verde-amarelos começarão a nascer e se multiplicar mais e mais. Nosso futuro no bucho.