Pyr Marcondes
28 de maio de 2018 - 8h00
O acordo com Telefonica abrange 14 países da América Latina mais a Espanha. 15 no total, portanto. Cinco devem começar a operar imediatamente, entre eles o Brasil.
Pelo acordo, Netflix vai estar à disposição dos usuários Telefonica internacionalmente, e Vivo no Brasil, no setup box da companhia, Movistar Pay, ou Vivo Play para nós brasileiros. O assinante poderá pagar o novo serviço direto na fatura da operadora.
Dessa forma, o setup box da Telefonica/Vivo se transforma numa espécie de Apple TV, ou seja, de um aparelhinho técnico e de conexão, passa a ser um centro de entretenimento full.
Esse acordo coloca pressão, na América Latina, sobre a America Movil/Claro, de Carlos Slim, e o que circula nos bastidores do mercado telecom é que o mega-empresário mexicano não vai ficar apenas vendo a Telefonica, sua arqui-inimiga na região, passar.
Vale a pena também imaginar o que farão companhias como Oi, Tim e SKY (AT&T). TIM tem já acordo também com Netlix, mas apenas para sua base de celulares, não contemplando TV a cabo.
Para todas as operadoras de telefonia do Planeta, o jogo do conteúdo se tornou vital e Netflix é o objeto de desejo de boa parte delas. Lembremos que a segunda maior companhia de telecom dos EUA, a AT&T, comprou Time Warner, enquanto a primeira, a Verizon, comprou AOL/Yahoo! (entre várias outras empresas que anabolizam mídia e conteúdos).
O terceiro e o quarto carriers dos EUA, respectivamente, T-Mobile e Sprint, estão em fase de validação legal de sua fusão diante da FCC.
Nos EUA, a T-Mobile e a Comcast têm já com Netflix o mesmo tipo de acordo que a Telefonica acaba de fechar.
Tenha consciência do tamanho das coisas
Semana passada, Netflix se tornou maior do que a Disney e Comcast, sendo agora a maior companhia de entretenimento e mídia do mundo, o que inclui, além das duas antes líderes, também as companhias clássicas do setor que todos conhecemos há décadas, a saber, Time Warner, 21st Century Fox, Sony, CBS e Viacom.
A empresa atingiu um market cap de US$ 152 bilhões. Para que tenhamos parâmetros de comparação, a agora parceira Telefonica tem valor de mercado de US$ 16 bilhões.
A maior companhia telecom do mundo é a China Mobile, com market cap de US$ 72 bilhões.
Para você ter no radar, as 10 maiores companhias de telecom do mundo hoje, na ordem, são: 1) China Mobile (China); 2) Verizon (USA); 3) AT&T (USA); 4) Vodafone (UK); 5) NTT (Japan); 6) Softbank (Japan); 7) Duetsche Telekom (Germany); 8) Telefonica (Spain); 9) America Movil (Mexico); e 10) China Telecom (China)).
A maior companhia do mundo em market cap é a Apple, que vale US$ 925 bilhões. No ranking que você pode consultar neste link, Netflix é hoje a 32ª. companhia.
Para você entender direito o que está acontecendo
O contrato entre Netflix e Telefonica não é apenas um acordo comercial entre uma companhia produtora e distribuidora de entretenimento e uma operadora de telefonia. É uma transformação histórica na forma como se produz e distribui conteúdo no mundo.
O sistema OTT, que usa a internet como rede de distribuição, operado pela Netflix e agora por outros grandes players como Amazon e Apple, permite acesso on demand, interação digital e ações em tempo real, em um mundo que era gerido (em grande medida, na verdade, ainda é) pela grade.
Essa é a revolução.
A Microsoft já anunciou que vai entrar também nesse jogo de conteúdo nesse mesmo modelo Amazon/Netflix like. Especulações de que a companhia fundada por Bill Gates estaria interessada na compra de Netflix circularam no mercado recentemente. Para a Netflix eu não sei, mas para Microsoft faria enorme sentido.
Complementando, sem compromisso, cito que Reed Hastings, fundador e CEO de Netflix, senta no board do Facebook. Tire suas próprias conclusões.
A entrada das telcos amplia essa revolução e a torna global, um vírus. Isso afeta toda a indústria de comunicação, não só os players de conteúdo via TV. Afeta de Hollywood e toda a indústria do cinema, às TVs abertas, passando pelas TVs pagas. Afeta ainda emissoras de rádio e toda e qualquer produção de conteúdos online que se imagina, mesmo os corporativos.
Aliás, em breve, vamos ver como as marcas vão se posicionar nesse tabuleiro, possivelmente não mais como carrapatos grudados nos conteúdos que na verdade as pessoas querem consumir, mas como players do ecossistema.
É um novo paradigma que se instaura, toda uma nova indústria, em verdade, que se forma, introduzindo novos modelos de negócios, novas estruturas de produção, distribuição e monetização. Que atende, por sua vez, a um novo consumidor, uma audiência que já se revolucionou a si mesma na forma como acessa e consome conteúdo (entre outras coisas, passando a produzir conteúdos ela mesma).
Assistiremos a outros acordos assim nos próximos 12 meses. Baita filme, esse. Cheio de emoção, histórias de amor e ódio, e, aparentemente, ainda sem final definido.