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Shane Smith, da Vice, diz que operadoras são lerdas e estúpidas ao distribuir Netflix!

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Shane Smith, da Vice, diz que operadoras são lerdas e estúpidas ao distribuir Netflix!

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Shane Smith
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Blog do Pyr

Shane Smith, da Vice, diz que operadoras são lerdas e estúpidas ao distribuir Netflix!

Será? Há bem mais em jogo. No MWC 2017, ficou claro que, queira ele ou não, elas irão sim investir em conteúdo. Como aliás já deveriam ter feito faz tempo.


6 de março de 2017 - 6h05

Lembro-me de ter comentado com um amigo, importante líder da indústria telecom no Brasil, que sua empresa deveria investir em conteúdo. Ela tinha (e segue tendo) uma gigantesca base de dados de seus assinantes, tinha o relacionamento diário com eles, tinha tecnologia para encantá-los e poderia ter outras mais, bastava querer. Faltava só o conteúdo. Seria game changer.

Ele meu olhou como se eu fosse um E.T. Que mané conteúdo. A briga era, e ainda é, pelos pacotes de preço. Essa sim uma estupidez já então. Uma estupidez gigantescamente maior ver isso rolando ainda hoje.

Essa conversa foi há mais de 5 anos e perdi a conta de quantos artigos já escrevi sobre isso nesse tempo. Já não mais in private com meu amigo, mas publicamente, para quem quisesse ler. O único cara da indústria que falou sobre esse assunto com propriedade e visão foi Amos Genish, mas melhor deixar isso e ele de lado.

Pois no MWC 2017, todas as grandes operadoras de telefonia do mundo subiram ao palco para afirmar que agora vão apostar em conteúdo. O jogo passa a ser encantar os seus assinantes com novas tecnologias, no caso Inteligência Artificial e Internet das Coisas, tudo fundamentado no estreante 5G, que logo, logo, vem aí. Ah, e baseado em dados, já que elas (as operadoras) têm o contato diário com seus clientes logo ali, na mão (literalmente, via mobile). Basta acioná-los.

Curioso, né?

Pois bem: mesmo muitos anos depois do que poderia ter sido, essa transformação vai ser game changer de qualquer maneira agora.

Shane Smith, sócio fundador de CEO da Vice, o maior fenômeno de digital media publishing da nova era, pós-internet, (e estou aqui falando de publishing de verdade, aqueles que fazem jornalismo, essas coisas) subiu ao palco do evento para fazer o que sempre faz de melhor em eventos: dizer certas verdades que ninguém diz em público. Exatamente como os vídeos do excelente jornalismo que sua empresa produz. Verdades que você só encontra ali.

Foi em meio a essas verdades que afirmou que as teles são lentas (falei) e fazem agora um jogo estúpido (stupid, em inglês) se todas passarem a distribuir Netflix ao mesmo tempo. Que não seria essa a diferenciação que estão buscando, porque estariam transformando um conteúdo premium em comoditie e que não é inteligente essa estratégia. E falou isso para uma plateia cem por cento composta por profissionais, líderes e empresários de telecom.

Pois ele está certo. E está errado.

Certo porque não há diferenciação mesmo se todas as teles distribuírem Netflix. Errado porque, para elas, é um atalho para compensar a estupidez que cometeram persistentemente durante tantos anos a fio.

Para ter e distribuir Netflix, basta um contrato assinado. O resto está pronto. E aí, pimba na gorduchinha! Elas estão no jogo. E terão dado um primeiro e indispensável passo para entrar no grande game do conteúdo. Além disso, reduzem seu churn, que é o balanço entre os assinantes que entram e os que saem de suas bases diariamente, em todo o mundo.

Shane talvez esteja preocupado – se é que está preocupado – porque esses são jogadores pesados, que via acordos com Netflix e outras operações de conteúdo, não estavam no campeonato até agora. Limitavam-se a ser um tubo burro (é assim que o setor tecnicamente define-se a si mesmo … em inglês, dumb pipe) de transmissão de dados e voz. Um negócio e tanto, sem dúvida, mas que tende a ser mais e mais comoditie com o passar dos anos. Poucos anos. (As telcos sabem disso.)

Com conteúdo, seus tubos, numa penada, ficam inteligentes.

E mais: esse poderá ser apenas um primeiro lance, o tiro de meta do goleiro. Por que, afinal, uma companhia de telefonia não poderia então, num segundo movimento, já no meio do campo, comprar uma grande empresa de conteúdo e começar a entrar nesse jogo pra valer?

Ooops! Essa bola já rolou. ATT comprando a Time-Warner. Viacom comprando AOL e Yahoo!

E agora, o que impede outras telcos de roalrem a bola mais pra frente e comprarem outras operações de conteúdo, partindo então para um ataque fulminante já lá na área adversária? A própria Vice, por exemplo, quem sabe?

Bem, nada.

Os estúdios de Hollywood não vivem seus melhores momentos financeiramente (nem as teles, a bem da verdade), mas continuam sendo excelentes produtores de conteúdo de qualidade. Estão todos hoje preocupados com duas coisas: a puta mancada do Oscar e com seu destino. Acham-se alvo para os grandes players do Vale do Silício, como Amazon, Apple, Microsoft, Facebook e Google. No que estão redondamente certos: são mesmo.

Mas porque não das teles também?

Não tem porque não.

Netflix, correndo por fora, é a bola da vez. O modelo mais arrebatador de produção e distribuição de conteúdo de entretenimento premium do momento. Sendo seguido cada vez mais de perto pela Amazon. E pelos demais big players de tecnologia, em muito breve.

Se eu fosse o nosso simpático lorde, o brilhante Reed Hastings, sócio fundador e CEO do Netflix, faria sim o tal acordo com as teles. Porque não? Sua relevância e penetração se amplificariam gigantescamente em pouco tempo, em todo o mundo.

Assim, o que estamos assistindo agora é a um roteiro com vários ingredientes dos grandes blockbusters. Jogos de sedução e muita ação. Astros de primeira grandeza em cena: Mark Zukerberg, Sergey Brin e Lerry Page, Bill Gates, Tim Cook, Shane Smith, Reed Hastings, Jeff Bezos. Coadjuvantes: Time-Warner, Fox, Disney, Viacom, Comcast. Um filme arrebatador, que vamos acessar dos nossos celulares, sendo bombardeados por ofertas personalizadas de toda espécie.

Um thriller, ainda sem final definido. Oba!

 

 

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