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A bolha (da startups) murchou. Por Leandro Ramos
Sócio-fundador da Indike comenta sobre a preferência dos fundos de investimentos estrangeiros nas startups brasileiras
A bolha (da startups) murchou. Por Leandro Ramos
BuscarA bolha (da startups) murchou. Por Leandro Ramos
BuscarSócio-fundador da Indike comenta sobre a preferência dos fundos de investimentos estrangeiros nas startups brasileiras
16 de julho de 2013 - 1h45
Por Leandro Ramos
Sócio-fundador da Javali Digital e da Indike
Em maio de 2012 escrevi um artigo aqui na ProXXIma em que questionava a existência de uma bolha entre as startups brasileiras. Na ocasião não era possível afirmar que tínhamos uma bolha, mas era fácil notar uma série de inconsistências nesse ambiente empreendedor, que poderiam culminar em um estouro, e levar muita gente à frustração.
Já se passou mais de um ano, o que para qualquer startup é uma longa jornada – e hoje pode-se dizer que se existia uma bolha no passado ela não estourou, mas murchou. Nos últimos dois anos o Brasil virou o alvo preferencial de fundos de investimentos estrangeiros. Muitos investidores abriram escritórios no país sem falar uma única palavra em português, diversas startups receberam elevados investimentos apenas com um PowerPoint encantador. O resultado é que em 2012 850 milhões de dólares tenham sido empregados em nossas startups, como apontam estimativas. Uma vitória, não?
O cenário que começou a predominar no mercado em 2013 é bem diferente da euforia que havia no último ano. Ao invés do otimismo exacerbado com o potencial do mercado brasileiro, um questionamento mais aprofundado passou a fazer parte das conversas entre investidores e empreendedores. Grandes fundos passaram perguntar se não existia recursos em excesso no mercado brasileiro, pois havia mais dinheiro para startups brasileiras do que bons projetos.
Na prática, algumas premissas que sustentavam a euforia das nossas startups mostram-se pouco consistentes e colocaram investidores e empreendedores em contato com a realidade do mercado de tecnologia nacional. Veja duas dificuldades que diversas startups enfrentaram e que ajudou acender o sinal amarelo no mercado:
Cópia de modelos estrangeiros
Qualquer empreendedor que apresentava sua ideia para um investidor, ouvia a seguinte pergunta: “qual o espelho desse negócio no exterior (leia-se Estados Unidos)?” Por trás dessa pergunta estava a crença de que algo que deu certo fora do Brasil funcionaria aqui, com no máximo alguns ajustes.
Muitos empreendedores entenderam rapidamente a lógica do mercado e passaram a buscar replicar modelos de negócios que estavam em evidência nos Estados Unidos.
Quem fez esse movimento conseguiu investimentos. Um caso clássico é do ZocDoc, uma startup norte-americana que realiza agendamento de consultas online com médicos e dentistas e recebeu mais de 100 milhões de dólares em aportes. Parecia meio obvio que bastava replicar a ideia no Brasil e o sucesso seria garantido. Após a primeira cópia, em pouco tempo surgiu mais de uma dezena de sites que realizavam agendamentos, alguns com pesadas mensalidades para o profissional de saúde. Não demorou muito para essas empresas flexibilizarem o modelo de cobrança para tentar ganhar uma base de usuários. Hoje, os sites de agendamento de consultas no Brasil possuem o imenso desafio de montar uma base relevante de profissionais e serem lucrativos. Não parece que existem muitas semelhanças entre mercado brasileiro de agendamento de consultas e o norte-americano.
Escassez de mão-de-obra
A realidade para as startups brasileiras tem se mostrado também mais dura no que se refere à contratação de mão-de-obra qualificada. Não importa se você precisa de um programador, um webdesigner, um gestor de comunidades ou especialista em SEO.
Existem poucos profissionais no mercado e eles custam uma fortuna.
A disputa por esses profissionais é alta e a escassez ocorre pois não apenas as startups brigam por eles, mas também as agências digitais e os departamentos de marketing digital e TI das grandes empresas.
A lógica para possuir bons profissionais em uma equipe passou a ser o aumento escalonado dos salários, o que o onera o limitado caixa de uma startup e não garante que em breve esse profissional irá embora seduzido por um salário maior. No final das contas, tem muita startup que não consegue avançar com seus projetos por falta de gente qualificada. Desse modo, não basta uma boa ideia com um modelo de negócio e dinheiro para fazer uma startup dar certo.
Embora todo esse processo possa levar a uma redução de expectativas e dificultar a captação de recursos, ele é muito positivo para as startups brasileiras. Estamos aprendendo o que funciona ou não no país, como ter um sócio-investidor e como levar adiante uma startup diante de todas as incertezas que só o mercado brasileiro possui. Talvez a maior riqueza de todas seja a formação de uma geração de empreendedores que vão fracassar com seu primeiro negócio e que terão a oportunidade de começar um negócio mais fortes e com uma bagagem que não possuem hoje.
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