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A energia limpa vai impactar as vendas de chicletes?

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A energia limpa vai impactar as vendas de chicletes?

Em 2021, compartilhar o uso de carros elétricos será 4 a 10 vezes mais barato do que comprar um novo carro, gerando uma economia anual de US$ 5,600 por família (cerca de R$ 18 mil).


19 de outubro de 2017 - 8h47

 

 

Fonte da imagem: BMW

Omarson Costa (*)

Você chega em casa com seu carro elétrico fabricado pela Tesla, conecta o veículo na tomada e o abastece a custo zero com a energia gerada pelas placas solares, também da Tesla, que estão instaladas no seu próprio telhado. Se tiver horas extras, pode transferir o excedente para rede e reforçar a economia doméstica com o uso de uma energia limpa que se tornará predominante, acreditem, em poucos anos.

Tem mais: com o rápido avanço dos carros autônomos e de modelos de compartilhamento, você não precisará mais dirigir e provavelmente irá optar por não ser mais dono de um veículo que hoje passa a maior parte do tempo estacionado na sua garagem. Teremos menos carros nas ruas que, utilizados por mais passageiros, serão bem menos ociosos e irão rodar mais quilômetros consumindo uma energia renovável abençoada pelo sol.

O império do petróleo, anotem, está com os dias contados.

As empresas do setor, que até pouco tempo ocupavam o topo da lista das mais valiosas do mundo, tendem a desaparecer e dar lugar a novas empresas de energia limpa. E o motivo é simples. Nas próximas décadas, a produção e uso de combustíveis fósseis para abastecer a indústria automotiva irão sofrer reduções drásticas e até mesmo ser interrompidos em diversos países.

Não, não é uma previsão. França e Reino Unido já decidiram que irão proibir a venda de veículos movidos a gasolina e diesel a partir de 2040, a Noruega e a Holanda já em 2025, a Alemanha em 2030 e até mesmo a China e a Índia, que estão entre os maiores consumidores do mundo em decorrência do acelerado crescimento da frota de veículos em circulação, deverão seguir na mesma direção.

Aqui no Brasil, o projeto 304/2017, do senador Ciro Nogueira, prevê a proibição da venda de carros abastecidos com combustíveis fósseis a partir de 2030 e a circulação a partir de 2040.

Mas a aguardada transição para o motor elétrico é apenas uma das grandes inovações em curso que terão forte impacto na maneira como iremos nos locomover em um futuro não muito distante.

Neste exato momento, além da Tesla de Elon Musk, as principais montadoras do mundo, como GM, Ford, Volkswagen, Hyundai, Toyota, Honda, Nissan, Renault, Audi e BMW, estão disputando a liderança na corrida pelo desenvolvimento de carros elétricos autônomos e de serviços de compartilhamento de corridas.

E o que isso significa?

Basicamente que esta “servicificação” irá revolucionar e flexibilizar nosso hábito de consumo de automóveis. Não iremos mais comprar carros; iremos contratar serviços de transportes integrados em que os veículos serão mais uma alternativa.

Você poderá embarcar no metrô para realizar parte do trajeto e fazer uma conexão para um carro sem motorista ou um micro-ônibus elétrico que estarão disponíveis em alguma estação nas proximidades ou simplesmente chamá-los pelo smartphone – montadoras, as gigantes da tecnologia, empresas de apps de transporte e locadoras já estão articulando parcerias para lançar serviços de ‘car sharing’, como a Ford com a Lyft; o Google com a Avis; e a Apple com a Hertz.

Caso prefira, use o Turo, que oferece o aluguel de carros particulares e funciona como um Airbnb das locadoras. Nos Estados Unidos é também crescente o uso de clubes de carros, como o ZipCar. Basta baixar o app e se associar para receber um cartão que, ao ser aproximado do para-brisas, libera o carro. O cliente pode circular de 1 hora até 7 dias e o pagamento é feito de acordo com o tempo utilizado. Para devolver é só estacionar em uma área reservada pelo clube e usar o aplicativo ou o cartão para trancar o carro.

Por aqui, já é possível recorrer a serviços de assinatura como os lançados pela Porto Seguro e Unidas, que funcionam como uma espécie de Netflix dos automóveis. No caso do Unidas Sempre Zero o assinante tem sempre um carro zero quilômetro à disposição por um período de 12 a 36 meses. Os custos de manutenção, IPVA e o seguro são pagos, claro, pela locadora.

O site da locadora faz a comparação: o valor de compra de um Nissan Kicks SL é de R$ 114.183,00, inclusos IPVA, documentação, seguros e manutenção. Para assinar por 12 meses, o valor total é de R$ 33.571,56, também incluindo todos os mesmos itens. A economia é de R$ 80.611,44. Para quem troca de carro a cada 2 anos e quer ter sempre um zerinho na garagem é um bom negócio.

Não tem marcha à ré. É bem provável que logo logo você prefira não ter mais um carro pra chamar de seu.

Um estudo feito nos Estados Unidos apontou que o número de proprietários de carros irá despencar em 80% até 2030 no mercado americano e o número de carros nas estradas cairá de 247 milhões em 2020 para 44 milhões em 2030. Se você trabalha em uma concessionária, é melhor começar a repensar sua carreira.

Em 2021, ainda segundo a pesquisa, compartilhar o uso de carros elétricos será 4 a 10 vezes mais barato do que comprar um novo carro, gerando uma economia anual de US$ 5,600 por família (cerca de R$ 18 mil). O mesmo levantamento prevê ainda que a demanda global por petróleo atingirá um pico de 100 milhões de barris por dia em 2020 e reduzir 30% em dez anos para estacionar em 70 milhões por dia em 2030.

Além de combater a poluição, são muitos os benefícios da adoção da energia limpa e do uso de aplicativos em substituição a ter um carro próprio estacionado com todos seus custos diretos e indiretos (nos Estados Unidos os veículos ficam sem circular 95% do tempo). Com menos veículos nas ruas, a configuração das cidades irá mudar, reduzindo o tamanho das estradas e de áreas de estacionamento para, bendito seja, abrir mais espaço para áreas verdes e de lazer.

E o que podemos esperar dos carros do futuro? A única certeza é que as mudanças serão constantes e surpreendentes.

A disputa pela liderança na produção de carros movidos a energia limpa está cada dia mais acirrada. A General Motors, uma das líderes mundiais do setor, que já havia lançado o carro totalmente elétrico Chevy Bolt no fim do ano passado, anunciou há poucos dias que planeja colocar no mercado, até 2023, nada menos que 20 carros elétricos, sendo dois deles já em 2018.

Em busca de maior autonomia, a GM está investindo em duas alternativas de bateria combinadas, uma convencional e outra de hidrogênio. Para concorrer com a Tesla e as outras fabricantes de carros autônomos, a empresa adquiriu a Cruise Automation.

Outra forte concorrente é a Nissan com o Leaf, lançado em 2010 e atualmente o carro elétrico mais vendido do mundo. A nova versão, que acaba de ser apresentada, vem equipada com a tecnologia ProPilot para uma direção autônoma em estradas e sua bateria de 40 kWh garante energia suficiente para rodar 400 km, 40% a mais que a versão anterior. O carro carrega totalmente em 8 horas em tomadas de 6kWh. Em um comercial genial e divertido do Leaf, a Nissan pergunta: “e se tudo fosse movido a gasolina?”

Mas, não perca por esperar, o carro das próximas décadas será muito mais do que elétrico e autônomo. Ele não será mais apenas um hardware. Será essencialmente um software. Para circular sem motoristas, será conectado e digital, com cada vez mais alta tecnologia embarcada.

Isso porque esta revolução dependerá do desenvolvimento e avanço da Inteligência Artificial, da Internet das Coisas e das próximas redes móveis, como a 5G, que irão assegurar velocidades cada vez maiores de tráfegos de dados e com capacidade para absorver a necessária integração dos veículos com os sistemas de monitoramento de tráfego das grandes cidades.

Como em um smartphone, os mapas e softwares dos carros terão que ser constantemente atualizados para que não corram o risco, por exemplo, de entrar na contramão em uma rua que trocou de direção. Mais uma vez, a Tesla foi a primeira montadora a atualizar os softwares dos seus veículos. Se já está acostumado a baixar a última versão do sistema operacional do seu computador ou celular, será também natural fazer o download do mais recente no seu carro; isso se você realmente continue sendo proprietário de um.

Fonte da imagem: TESLARATI

O layout interno e a interface também irão mudar completamente. Vamos repensar a “interface” dos automóveis. Se o carro dirige sozinho, por que precisamos ter todos os bancos virados para frente? Aliás, qual é a frente? Por que os bancos não são virados uns para os outros e criamos uma sala de estar dentro do automóvel? Já imaginou uma mesa para jogar cartas? Será que o carro continuará tendo câmbio e volante? O carro terá pedais ou apenas um como o último lançado pela Nissan?

Múltiplas telas irão trazer opções de entretenimento, como filmes, games, acesso a redes sociais e aos seus emails. O sistema operacional do carro irá sincronizar com seu celular (ou relógio) seu próximo compromisso, traçar a rota e sob seu comando te levar até o endereço marcado na agenda. Se atrasar, irá comunicar todos os participantes que horas deverá chegar, o motivo (lembre-se que o mapa com Inteligência Artificial “sabe” o motivo do trânsito) e talvez remarque o compromisso automaticamente na agenda de todos (por que precisaremos das secretárias?).

O artigo 3o da Resolução 242 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) proíbe a instalação, em veículo automotor, de equipamento capaz de gerar imagens para fins de entretenimento, salvo se “I – instalado na parte dianteira, possuir mecanismo automático que o torne inoperante ou o comute para a função de informação de auxílio à orientação do condutor, independente da vontade do condutor e/ou dos passageiros, quando o veículo estiver em movimento; II – instalado de forma que somente os passageiros ocupantes dos bancos traseiros possam visualizar as imagens”.

Mas como o motorista não precisará mais dirigir é bem provável que o carro se torne uma nova mídia, trazendo recomendações de produtos e serviços, inclusive por geolocalização, funcionando como uma “Elemídia dos automóveis”. Mas quem será o proprietário deste espaço de mídia e irá cobrar pela veiculação de anúncios? A montadora? O Google? A Apple? A fabricante das telas? Ou uma agência que irá comprar o inventário anualmente e revendê-lo? A publicidade geolocalizada, que será baseada em softwares, poderá ser exibida (ou não) mediante o interesse do(s) passageiro(s).

Sua saúde poderá ser monitorada por sensores e no caso de um ataque cardíaco o carro vai te levar rapidamente até o hospital mais próximo e avisar seus familiares, amigos e sua empresa.

Frente a tantas mudanças são válidas algumas reflexões. Os carros elétricos e autônomos não afetarão apenas o setor de petróleo, mas toda uma grande cadeia de produtos e serviços. A regulamentação e a legislação também precisarão se adaptar. Deixo algumas perguntas para pensarmos juntos:

– O que será dos postos de gasolina? E das lojas de conveniência? As vendas de gomas de mascar, bebidas e outros produtos comercializados nestes estabelecimentos serão afetadas?

Estas pequenas lojas são pontos de venda estratégicos para produtos alimentícios. De acordo com pesquisa do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom), as vendas nas lojas de conveniência cresceram 6,2% em 2016, alcançando faturamento de R$ 7,2 bilhões e um ticket médio 7,3% maior, de R$ 11,91, enquanto as no varejo caíram os mesmos 6,2% no ano passado de acordo com o IBGE. Mas, se não precisaremos mais parar para abastecer, qual será o futuro dos empregos destes pontos de venda e dos produtos hoje vendidos por estes pequenos varejistas?

– Qual o futuro dos fabricantes de autopeças, como os escapamentos, que não serão mais necessários na fabricação de carros elétricos? Certamente a conversão para os motores elétricos irá abrir oportunidades para novos fornecedores da indústria automotiva e exterminar outros que se tornarão dispensáveis. Provavelmente um fornecedor de softwares irá substituir o de escapamentos.

– Se o carro for autônomo e cometer uma infração (toda máquina está sujeita a ‘bugs’) quem será multado? O dono do carro, o Uber ou a Hertz? E se ocorrer um apagão na Internet o que irá acontecer com o trânsito?

 

– E se o carro autônomo precisar escolher entre atropelar um pedestre que desobedeceu ao semáforo ou jogar seu carro no poste com você a bordo? Qual vida decidirá preservar? Quem será processado? O programador do software? A montadora que decidiu quem irá correr risco de vida? A rede 5G da operadora que “falhou”? Quem decidirá o que é ético e aceitável sob o aspecto da lei? Os políticos?

 

Fonte da imagem: iQ by Intel

Hoje você talvez tenha receio de embarcar em um carro sem motorista. Mas fique tranquilo. Se preferir voar é só reservar sua passagem para fazer seu check-in no Volocopter, um drone autônomo para transporte de passageiros que recentemente fez seu primeiro teste de voo em Dubai. Em breve ele deverá ser seu próximo Uber.

Os xeiques do petróleo terão mesmo que se conformar com a derrocada de seus reinados. É só questão de (pouco) tempo para energia limpa enterrar de vez a supremacia do ouro negro.

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No próximo artigo, vamos conversar sobre interfaces e plataformas.

 (*) Omarson Costa é formado em Análise de Sistemas e Marketing, tem MBA e especialização em Direito em Telecomunicações. Em sua carreira, registra passagens em empresas de telecom, meios de pagamento e Internet.

 

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