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Como não perder seu emprego para um robô?
As novas tecnologias serão protagonistas de um novo mundo não muito distante que levará à morte e ao nascimento de várias profissões
As novas tecnologias serão protagonistas de um novo mundo não muito distante que levará à morte e ao nascimento de várias profissões
10 de outubro de 2016 - 14h28
Pare para pensar quantas inovações tecnológicas surgiram nos últimos 15 anos.
O iPod foi inventado em 2001. O BlackBerry, primeiro smartphone, em 2002. O Skype, que quebrou o paradigma do mercado de telecomunicações, em 2003. O Facebook, parece mesmo que foi ontem, em 2004. O YouTube, em 2005. O Twitter em 2006. O Kindle, primeiro leitor digital, em 2007, mesmo ano do nascimento do iPhone, que ganhou seu concorrente Android no ano seguinte, iniciando a batalha pelo mercado mobile entre os gigantes Apple e Google, não por coincidência hoje avaliadas entre as maiores empresas do planeta.
Todas estas surpreendentes e instigantes transformações na última década e meia construíram um legado que, podem apostar, são apenas os pilares digitais da aclamada quarta revolução industrial, já em pleno curso, trazendo inúmeros benefícios econômicos e sociais, mas, claro, duros desafios para o futuro do seu emprego.
Por quê?
É simples. Em 2005, as cinco maiores empresas do mundo, segundo o ranking FT Global 500, do Financial Times, eram a General Electric, a ExxonMobil, a Microsoft, o Citigroup e a Royal Dutch / Shell. Neste ano, o Google estava em 95o lugar. Em 2015, 10 anos depois, o mesmo ranking traz nas 5 primeiras posições a Apple, a Exxon Mobil (a única a não mudar de posição), a Berkshire Hathaway, o Google (em 10 anos subiu 91 posições) e a Microsoft, ou seja, 3 das 5 são do setor de tecnologia. (Vale observar que o Google, fundado depois da explosão da Internet, ultrapassou a Microsoft, nascida antes da era digital).
Tem mais.
De acordo com relatório da ONU, a população mundial vai passar dos atuais 7,3 bilhões de habitantes para 9,7 bilhões em 2050, podendo alcançar 11,2 bilhões em 2100, um crescimento de 53% nos próximos 34 anos. A União Internacional das Telecomunicações, órgão ligado à ONU, contabiliza 3,2 bilhões de internautas, ou seja, metade da população do planeta. Em conexão móvel são 7 bilhões de pessoas, quase a totalidade da raça humana.
Não é difícil imaginar como iremos viver neste mundo digital, interconectado, acessível a um simples toque no smartphone. Certamente a Internet estará no centro de tudo (recomendo a leitura do meu artigo “Esta coisa de Internet está só começando”). Não é por acaso que o investimento em mídia digital, segundo o eMarketer, irá ultrapassar a TV este ano.
Segundo o IDC, a Internet das Coisas deverá movimentar US$ 1,7 trilhão em 2020, um futuro não muito distante. A mágica da Web está mesmo apenas começando e as empresas líderes de hoje não serão necessariamente as líderes de amanhã. Pergunte aos millenials se conhecem empresas como Kodak, Blackberry, Compaq ou a Sun. Provavelmente não.
O avanço da robótica e da inteligência artificial, da biotecnologia e da nanotecnologia, da Internet das Coisas e da Realidade Virtual, a computação em nuvem, o aumento exponencial na capacidade de processamento e transmissão de dados e a interconexão das novas tecnologias e das que ainda serão inventadas serão protagonistas de um novo mundo não muito distante que levará à morte e ao nascimento de várias profissões.
Talvez a sua esteja ameaçada e você precise se reinventar. Ou talvez o que se apresenta como uma ameaça possa ser uma oportunidade.
Basta observar que hábitos já abandonamos e quais adotamos por conta das inovações relacionadas na abertura deste artigo. A começar pelo smartphone, que se tornou tão disruptivo para catalisação de novos modelos de negócios e como combustível de uma nova economia quanto foi a máquina à vapor na primeira revolução industrial.
Não vamos mais ao banco, fazemos compras sem sair de casa, chamamos um carro compartilhado com um toque na tela (vale o parênteses, em pouco tempo ele virá sem motorista), alugamos um apartamento, planejamos a próxima viagem, pedimos comida, nos relacionamos e nos comunicamos, estudamos, descobrimos como chegar em um endereço onde nunca fomos antes, assistimos filmes sem ir ao cinema ou ligar a TV, baixamos músicas sem precisar ir na loja de CDs e sabe-se lá o que um gadget inseparável, que cabe no bolso e está se tornando vestível, ainda poderá fazer por nós.
Se o carro for autônomo e dirigido por inteligência artificial o que será dos motoristas? E o que farão os corretores de imóveis se conseguimos pesquisar onde vamos morar recebendo ofertas de um banco inteligente de dados de acordo com nosso perfil e, depois, visitar virtualmente, economizando tempo e combustível, centenas de apartamentos vendo fotos, vídeos e opiniões de outros locatários? Se compramos tudo pela Internet, qual será o futuro dos vendedores? Se a mídia é programática, o que irão fazer os profissionais de marketing? E se os algoritmos conseguirem ser muito mais rápidos e eficazes para funções até então realizadas apenas pelo cérebro?
Pois bem, queira o leitor enxergar ou não, e para seu bem é melhor que enxergue, seu trabalho pode estar com os dias contados. Muitas atividades que foram criadas pelas revoluções industriais anteriores serão, sim, substituídas por learning machines na Quarta Revolução Industrial.
É um caminho sem volta que continuará sendo pavimentado pela inovação e a digitalização da economia e dos negócios, impactando setores tão distintos quanto transportes, agricultura, finanças, varejo, enfim, qualquer indústria que ainda depende da força humana de trabalho.
Na semana passada a greve dos bancários completou 30 dias, a mais longa em 12 anos. Entre as reivindicações, além do reajuste de salários, uma demanda compreensível, está o extermínio das agências digitais, uma luta que a categoria já pode considerar inglória. É a mesma briga dos taxistas contra o Uber. Será como enxugar gelo (sugiro a leitura do artigo “Por que você (não) irá trocar de operadora de celular?).
O principal retrato desta quarta revolução industrial que ganhou cores mais fortes nestes últimos 15 anos, depois da democratização da Internet, foi a rápida ascensão de unicórnios (empresas de rápido crescimento e abrangência global) que exterminam sem dó concorrentes antes líderes incontestáveis em seus mercados.
São empresas que têm como grande vantagem competitiva a capacidade de desenvolver produtos e serviços a partir da integração e aplicação inteligente das novas tecnologias. Repare nos modelos de alguns dos maiores símbolos desta revolução: o Uber não possui frota de veículos; o Airbnb não tem imóveis; o Facebook não cria conteúdo, mas se monetiza dele, assim como o YouTube não produz vídeos; o Alibaba não tem estoque e o Whatsapp não é uma operadora de telefonia.
Adivinhe o que todas elas têm em comum? A Internet.
O maior segredo de todas elas está em terem criado inovações que mudaram nossas vidas para sempre, o que foi possível não somente pelo surgimento e avanço da Web, mas do uso que fizeram dela para estruturar negócios absolutamente disruptivos e capazes de mudar definitivamente vários hábitos que cultivávamos há décadas, séculos.
E o que isso tem a ver com seu trabalho? Tudo. Se as empresas líderes da quarta revolução estão criando novos modelos e quebrando as regras de diversos mercados você precisa estar pronto para trabalhar nelas ou encontrar um nicho para desenhar o plano de negócios da sua própria startup.
Antes de mais nada, identifique que habilidades precisa desenvolver como profissional e empreendedor, especialmente quais realmente continuarão fazendo a diferença e quais poderão ser substituídos por inteligência artificial. O robô, tenha calma, não é seu inimigo. Bem ao contrário, será um grande aliado para que possa adquirir novas habilidades e se dedicar a afazeres que somente nós, humanos, temos neurônios para realizar (sobre robótica sugiro a leitura de meu outro artigo “Você ainda terá um robô – e mais rápido do que imagina”).
Ter qualificação não é mais necessariamente sinônimo de sucesso. Carl Benedikt Frey e Michael Osborne, da Universidade de Oxford, realizaram um estudo em 2013 que analisou 700 profissões para avaliar qual o risco de serem substituídas por computadores. A resposta: empregos que tenham maior envolvimento com inteligência criativa e inteligência emocional têm maiores chances de sobreviver.
Ou seja, teremos que ser mais humanos do que nunca. Profissionais de telemarketing, auditores, contadores e vendedores estão entre os que apresentam riscos mais elevados de desaparecerem. Terapeutas, personal trainers, bombeiros e editores são alguns com maior probabilidade de resistir.
Qualquer área onde algoritmos possam desempenhar tarefas mais eficazmente que o homem ou serviços em que a Internet ofereça maior conforto e praticidade são mais suscetíveis. As que dependem de criatividade e envolvimento social provavelmente não serão ocupadas por robôs.
Aliás, não se pode falar de emprego e futuro profissional das próximas gerações sem falar de educação e rever nossos ultrapassados modelos pedagógicos. A Austrália incluiu programação de computadores no ensino médio, enquanto por aqui ainda estamos debatendo qual deve ser a grade curricular do ensino médio.
Como bem pontuou a Dra. Luciana Allan em recente artigo: “não há porque estruturar a escola em cima de um currículo pré-determinado, mas sim focando em quais habilidades os estudantes precisam se desenvolver para enfrentar a realidade profissional, que, a propósito, também terá seu sucesso cada vez menos associado aos diplomas que ostenta, mas pelo que efetivamente aprendeu e sabe fazer”.
Se sua função é automatizável, coloque as barbas de molho. Se ela exige criatividade, sensibilidade e constante inovação e adaptação para ir ao encontro das demandas das corporações da quarta revolução, então continue investindo. Se está pensando em mudar de profissão ou ainda está escolhendo o que vai fazer da vida, recomendo sempre levar em conta uma máxima: “Conhecimento é ter a resposta certa. Inteligência é fazer a pergunta certa. Sabedoria é diferenciar e dominar ambas”.
Mais do que pessoas essencialmente sábias, as empresas estão em busca de pessoas inteligentes. São as perguntas que geram inovação. As respostas geram apenas produção. Produção é possível copiar, mas leva tempo. Já as perguntas certas levam à liderança do mercado. Pense nisso.
(*) Omarson Costa é formado em Marketing, tem MBA e especialização em Direito em Telecomunicações.
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