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Do Chacrinha ao Porta dos Fundos. Por Renato Abdo
O processo de construção de uma celebridade mudou profundamente depois da internet, especialmente em função da cultura da participação estimulada pelas redes sociais
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12 de dezembro de 2013 - 11h06
POR RENATO ABDO
Fundador da aceleradora de talentos Sneezy
A palavra celebridade, do latim celebrìtas, significa aquilo que é conhecido, falado ou comentado. Em resumo, significa ser ilustre. Esse é o desejo que move corações e mentes há gerações. Uma das possíveis explicações para esse desejo de status, como diz o filósofo suíço Alain de Botton, nada mais é que a necessidade de se sentir amado, ideia aplicada aqui no sentido mais amplo.
Independentemente das razões, uma coisa é certa: o processo de construção de uma celebridade mudou profundamente depois da Internet, especialmente em função da cultura da participação estimulada pelas redes sociais. E o importante a observar aqui são as consequências diretas desse fenômeno no universo do marketing, da comunicação e dos negócios.
Para entendermos melhor essas transformações, vamos analisar a relação entre o sistema de mídia e as estratégias de promoção da indústria fonográfica no Brasil, por exemplo, nos anos 1980, quando o rock nacional explodiu como produto de massa. Para emplacar uma nova banda, era fundamental estar presente no ecossistema midiático – rádio, TV, jornais e revistas.
Uma estratégia bem formulada deveria conjugar muito bem as ações em todos esses meios, de modo que um alimentasse o outro: a FM colava hits na cabeça dos ouvintes, que, por sua vez, queriam ler nos impressos notícias sobre o trabalho e as curiosidades da vida dos seus cantores preferidos, que, do outro lado, precisavam aparecer nos principais programas de televisão, ávidos por conquistar a audiência dos fãs. Imagine o caminhão de dinheiro necessário para fazer essa roda girar…
Dentre os espaços na TV quase obrigatórios para quem quisesse explodir nacionalmente no País nessa época estava o Cassino do Chacrinha. Entre bacalhaus e o rebolado das chacretes, grupos e músicos novatos, como Léo Jaime, Titãs, Barão Vermelho e Ultraje a Rigor, eram apresentados nacionalmente pelo Velho Guerreiro a milhões de consumidores e fãs no Brasil inteiro. Suas buzinadas tinham o poder de alavancar jovens promessas da indústria musical.
Agora, pense nos dias de hoje: o que mudou exatamente? A espinha dorsal desse modelo foi alterada por um fator crucial: o consumidor, o fã, o usuário ou o nome que se dê a ele, agora tem voz. Ele produz e distribui seu conteúdo e assiste ao que quer e quando deseja.
Ok, isso não é em si uma novidade. O ponto central, no entanto, é que, a partir do momento em que a capacidade tecnológica não é mais exclusividade da indústria – ela está agora também nas mãos do usuário, com as redes sociais, smartphones, câmeras e tablets –, a lógica da construção de uma imagem pessoal muda radicalmente.
Hoje, a próxima celebridade pode surgir na Internet. Basta citar o fenômeno do momento, o Porta dos Fundos, para constatar isso. Seu sucesso no YouTube foi tão estrondoso que escancarou as portas – sem trocadilho – dos anunciantes, da publicidade, da TV e até do cinema para seus criadores. Com a Internet, o ecossistema de mídia foi ampliado e ficou mais democrático.
Isso obviamente não quer dizer que basta colocar uns vídeos engraçadinhos no YouTube ou no Facebook para acreditar que o caminho da glória está pavimentado. Na era digital, fazer de um jovem talento uma marca forte na Internet requer estratégia, planejamento, análise de audiência e criação de conteúdos capazes não somente de engajar o público, mas de tornar-se um hit que transcenda os muros da web.
É nesse ponto que entram em cena profissionais que podem ser chamados de aceleradores de talentos. Sua missão é aproximar a marca certa do influenciador certo nas redes sociais para maximizar resultados. Esse trabalho se torna ainda mais importante se observarmos que as marcas parecem desnorteadas, sem saber como alcançar uma geração multiconectada, que acessa diversos canais ao mesmo tempo e de onde for: mídias sociais, tablet, smartphone, games, podcasts, blogs, vlogs e até mesmo da TV.
Na outra ponta da história, há muitos talentos que ainda não se digitalizaram e têm um grande número de fãs fora da Internet. Isso sem falar que vários outros nasceram na rede, mas não desenvolveram ainda todo potencial por não saberem como se tornar o próximo campeão de visualizações no Youtube ou como arrebanhar milhões de seguidores nas redes sociais. Como se vê, um trabalho de construção de imagem, hoje, precisa de muito mais ferramentas que a buzina de Abelardo Barbosa.
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