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Histórias e modelos de negócios: o que Bob Dylan ensina sobre o mercado

Desde os anos 60 ele é um grande contador de histórias, muito além dos músicos da sua geração e posteriores.


14 de outubro de 2016 - 17h17

Por João Gabriel Chebante*

Quis o destino apresentar uma premiação e um artigo bem interessante sobre empreendedorismo: ao mesmo tempo em que a fundadora da ONG Endeavor lançava uma entrevista em revista de grande circulação falando sobre o perfil do empresário brasileiro,  Bob Dylan recebia um inédito Nobel de Literatura para um artista do mundo da música. A soma de informações constrói um racional que faz todo sentido para quem acredita que muitas vezes o bom aprendizado sobre gestão – ou simplesmente o comportamento típico do mercado – pode explicar-se fora do seu contexto mais tradicional – e é o que Bob Dylan e seu Nobel apresentam.

Linda Rottenberg é taxativa ao dizer que um dos fatores críticos de sucesso do empreendedor brasileiro reside na baixa preocupação na construção de grandes histórias sobre seus negócios; desenvolvemos bons produtos e serviços mas nos esquecemos de reportá-los aos públicos de interesse para construir uma áurea que vai além do tangível e solidifica a famosa proposta de valor.

O sucesso de mais de cinco décadas de Bob Dylan vai exatamente neste sentido: desde os anos 60 ele é um grande contador de histórias, muito além dos músicos da sua geração e posteriores. Ao acompanhar composições como “Homesick Subterranean Blues” ou mesmo “Hurricane” – a última que disseca sobre a trajetória da prisão forjada de Rubin Carter – percebe-se uma construção que não se restringe, como a maioria dos seus colegas, em letras para promoção de uma situação específica. Foi a forma de construir verdadeiros contos, estrofe por estrofe, ainda que sem a melhor melodia disponível, que faz de Dylan alguém muito a frente dos seus pares.

Aqui temos uma ponderação sobre a importância de construção de marcas e suas histórias, afinal, elas sobrevivem ao tempo, diferentemente dos modelos de negócios. A premiação do artista com o Nobel e a polêmica que alguns não resistiram a levantar leva a uma importante reflexão: as mudanças que o perfil do consumidor e do mercado apresentam e como se adaptar a elas.

Ao mesmo tempo em que o Nobel abre espaço para premiar escritores que não possuem um formato “tradicional” (coleções de ensaios publicados, dentro do modelo clássico de premiados), o mercado e o público como um todo se movimenta, revê conceitos e tem suas relações de preferências. Cabe às marcas ao desenvolver suas histórias não exatamente ater-se ao modelo vigente, pelo contrário: quanto mais enxuta e com caixa possível maior a flexibilidade para adaptar-se às demandas pontuais de consumo – como a literatura musicada do percursor da folk music, que foi do violão ao rock mas sem perder sua forma de fazer canções de sucesso.

No fim e parafraseando o maior contador de histórias da música, para não se tornar um completo desconhecido, cada vez mais o diálogo por meio da trajetória, crenças e o DNA da marca (missão, visão, valores) precisa estar presente em cada ponto de contato com o mercado. Os tempos estão mudando, e só a pavimentação de grandes histórias sobrevivem a mudanças de comportamento, formatos de negócios e movimentos da economia. Como as músicas do Bob Dylan.

* João Gabriel Chebante é fundador da Chebante Brand Strategy

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