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Os verdadeiros mobile first
A televisão está se tornando realmente apenas mais um meio. Mais uma tela.
A televisão está se tornando realmente apenas mais um meio. Mais uma tela.
31 de maio de 2016 - 13h15
Sou de 1980. Ainda consegui me salvar como millennial. Nós, millennials maduros, não nascemos mexendo em computador. Mas o computador foi e é central nas nossas vidas. Entramos num mercado de trabalho em que computador e internet já eram totalmente acessíveis.
A internet cresceu. Desde que comecei a trabalhar com marketing digital, acompanhei o número de acessos no Brasil pular de alguns milhões para mais de cem milhões. No meio desse período, começou a se falar em multitela. Falava-se em duas, depois em três e até em quatro telas, com o surgimento do smartphone e do tablet.
Em seguida, a discussão passou a ser sobre qual era a principal – ou a primeira tela. Por muito tempo, a primeira tela sempre foi a TV. E acredito que continue sendo. Não só de um ponto de vista estatístico, mas, principalmente, sob um aspecto cultural e geracional.
Apesar da minha relação com a TV ter mudado bastante ao longo da vida, ainda chego em casa e uma das primeiras coisas que faço é ligar a televisão. Seja para ver Netflix, GloboNews ou, quem sabe, o futebol (confesso que só vejo futebol quando o Internacional está bem, ou seja, tenho visto pouco). De qualquer forma, a TV, para mim, representa o momento do fim do dia, quando sento no sofá, relaxo, não penso em nada, apenas olho para a tela, ao mesmo tempo em que, não vou negar, também estou na minha segunda tela (que minha mulher insiste em dizer que é a minha primeira).
E, por falar em multitela, lembro das gerações atuais. Minha sobrinha, que tem nove anos, já é de uma geração bem diferente. Nasceu no meio de computadores, DVDs e BlackBerries usados pelos adultos. Ela é da geração que via Galinha Pintadinha em DVD no quarto de brinquedos. Hoje, claro, ela tem seu smartphone e tem também igual ou mais familiaridade com o tablet do que eu tinha com o computador anos atrás.
Já ao observar meu filho, que está com quase dois anos, percebo o que é ser mobile first de verdade. Que as crianças estão acostumadas a ver uma tela e sair passando o dedo, não é novidade para ninguém. Mas, há uns dias, enquanto ele fazia um Facetime com meus pais, ao querer falar com o vovô enquanto minha mãe aparecia na tela, o vejo arrastar o dedo para o lado, na tentativa de tirar minha mãe dali e trazer meu pai, como se estivesse dando um skip para o próximo vídeo. Foi uma atitude tão natural para ele e, ao mesmo tempo, surpreendente pra mim, o que me deixou pensando… Não tive nenhuma epifania sobre como a humanidade consumirá mídia nos próximos anos. Mas algumas coisas me vieram à mente.
A televisão está se tornando realmente apenas mais um meio. Para muitas pessoas, até mesmo da minha geração, isso já parece ser uma verdade. Mas, de fato, quando falo de TV, não me refiro somente ao consumo tradicional de conteúdo zapeando canais. Estou falando do ato de sentar no sofá e olhar para uma tela pendurada na parede. Para alguém da minha geração, assistir uma série no celular é bem comum, mas, na maioria das vezes, é só um quebra galho. Sabemos que o “certo” é ver num aparelho de televisão.
Já nessa nova geração, digamos que nascidos depois de 2007 (ano de lançamento do primeiro iPhone), o celular é, efetivamente, a principal tela. É lá que eles assistem ao Mickey, à Peppa e muitos outros. De vez em quando, os pais ligam a televisão, onde eles podem assistir aos mesmos programas, só que com mais atenção, recostados e confortáveis. A TV para eles é como o cinema para nós.
Ainda não tive uma conclusão maior sobre o que isso pode querer dizer. Apenas que essa geração é exposta a novas coisas (assim como a nossa também foi). Mas essas novas coisas, às quais eles estão sendo expostos, devem influenciar e mudar de verdade o modo pelo qual a mídia e o conteúdo serão consumidos. O cinema não morreu e o rádio também não. Nem mesmo o jornal ou a revista morreram. Assim como a TV também não morrerá. Mas me parece que, quando essa geração crescer, a TV passará de central a apenas mais um meio, apenas mais uma tela.
(*) Henrique Russowsky é sócio e diretor de mídia da Jüssi
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