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A China já está entre nós.
Startups chinesas já estão no Brasil e não estamos acompanhando esse movimento de perto.
Startups chinesas já estão no Brasil e não estamos acompanhando esse movimento de perto.
21 de dezembro de 2016 - 8h24
In Hsieh (*)
Semanas atrás num coquetel descontraído que aconteceu em São Paulo foi lançada a chinesa Meitu, que recentemente abriu capital na Bolsa de Hong Kong, levantando US$ 629 milhões e atingindo valuation de US$ 4.6 bilhões. Os principais produtos da Meitu são aplicativos de edição de fotos, maquiagem virtual e, principalmente melhoria de selfies, usados por uma base de mais de 400 milhões de usuários ativos, além de smartphones de marca própria. Segundo a agência de pesquisa iResearch, no país de origem da Meitu, 70% dos usuários de redes sociais postam pelo menos 1 foto por semana e mais da metade deles usa algum aplicativo da empresa antes de postar.
Assim como a Meitu, temos entre nós outras startups de presença relevante no Brasil mas que a maioria desconhece ser de origem chinesa. São cerca de dez que já tem equipe local, sendo dois unicórnios (ou seja, empresas que valem mais de um bilhão de dólares … eram três com a Meitu, mas como ela abriu capital em bolsa, deixa de fazer parte desse time seleto). Se considerarmos e-commerce também, há pelo menos mais uma que já fez IPO.
Desde iniciativas ainda em early-stage até os tais unicórnios, os fundadores dessas startups da China trazem no DNA uma característica que determina seu estilo: surgiram no mercado mais competitivo do mundo. Esses empreendedores nasceram no país com a maior população do planeta, o que significa que em cada uma das etapas de suas vidas, precisam ser melhores do que milhões de pessoas para se destacarem.
Estudantes prestando vestibular, o gaokao.
Feira de empregos para universitários e recém-formados.
E num país com um dos mais altos padrões educacionais do mundo.
Qualquer uma das duas primeiras fotos poderia representar o nível de concorrência que uma startup enfrenta naquele pais. Agora, imagine-se nessa situação. Por isso, muitas dessas empresas estão buscando o exterior. Em um mercado onde gigantes como Alibaba dominam mais do que 70% de alguns segmentos, internacionalizar é uma das poucas saídas. E não só para startups grandes como a Meitu, mas também no caso das recém-nascidas.
Estive recentemente com uma delas. Ela atingiu em poucos meses mais de 140 mil usuários no Brasil, com pico de 20 mil ativos diários. O detalhe é que essa é a base total, ou seja, atua só no Brasil. Sim, só aqui! E sem que os fundadores ou qualquer funcionário tenha colocado o pé no nosso país antes. Eles sequer falam Português.
Essa é uma das grandes tendências daquele mercado – as startups que já nascem internacionais.
Mas não são só os talentos que são abundantes – capital também. Segundo levantamento do blog de tecnologia Tech In Asia, foram investidos US$ 60 bilhões em capital de risco (venture capital) na China, bastante próximo dos US$ 68 bilhões levantados nos EUA.
Se antes as empresas dos nosso pais competiam com os produtos fabricados na China, agora, muitas de nossas startups concorrerão com as digitais daquele pais. Precisamos olhar para além dos Estados Unidos. Assim como essa empresa chinesa criada para atuar no Brasil, nascem muitas dessas iniciativas diariamente. Uma delas pode estar sendo fundada para concorrer contigo exatamente agora. Imagine se você fosse um brasileiro que acabou de criar um app de maquiagem virtual.
Da mesma forma, existem muitas oportunidades entre os dois países. Pude ver isso de perto quando fui Head de Ecommerce Latam da Xiaomi e agora empreendendo novamente em iniciativas internacionais. Quem sabe o próximo IPO a ser comemorado não possa ser de uma startup sino-brasileira?
Pense nisso.
(*) In Hsieh é empreendedor, mentor e investidor de startups, foi Head de Ecommerce, Costumer Experience e IT na Xiaomi e, além de professor da FGV, hoje é também CEO da China Brazil Internet Promotion Agency.
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