Existem 1001 maneiras de criar aplicações de Inteligência Coletiva. Invente uma.
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Philippe Bertrand
30 de outubro de 2012 - 12h19
É bastante provável que a ideia de fazer um ‘video colaborativo’ tenha passado por suas mãos. Foi assim que começamos a fazer comunicação 2.0. Hoje porém, vemos novas possibilidades com o surgimento a todo instante de “aplicativos de Inteligência Coletiva” desenvolvidos nos campos da medicina, informática, ensino, ciências sociais, economia, política, ativismo, entretenimento etc. Iniciativas que partiram da premissa de que a Web está cheia de gente disponível para colaborar direta ou indiretamente. Não apenas em troca de prêmios, fama e futilidade, mas também em nome de causas relevantes para a sociedade.
E que diabos são aplicativos de Inteligência Coletiva?
São ferramentas, ou sistemas que transformam a colaboração coletiva em geração de conhecimento. Poderíamos passar o dia dando exemplos como: o Wikipedia, sites crowdfunding (de shows aos mais variados projetos), Wikileaks, abaixo-assinados digitais (Avaaz, Greenpeace), mobilizações de ajuda em catástrofes (connecting lifelines, da Honda), a nova Constituição da Islândia (escrita a partir de inputs das redes sociais), geomapping 2.0 de Marte feito pela Open.Nasa , etc.
Para as marcas, essa é uma grande oportunidade de explorar novas fronteiras da comunicação 2.0 e engajar seus públicos através de atitudes, expressões e colaboração por um mundo melhor, mais aberto, mais acessível.
Aqui 4 exemplos inesperados de aplicações de inteligência coletiva em medicina diagnóstica, biogenética e geração de conhecimento acessível e gratuito. Ações muito além dos vídeos colaborativos, que espero inspirarem a criação, planejamento ou aprovação de novos projetos de comunicação 2.0.
1. Re-Captcha: a universidade coletiva que ensina computadores a ler livros antigos
Sabe aquelas letrinhas irritantes que você é forçado a digitar tantas vezes por dia para comprovar quem você é? O Captcha é um procedimento anti-hacking usado em quase todos os sistemas web do mundo que envolvem cadastro. O captcha funciona justamente porque humanos conseguem ler essas letrinhas tortas e computadores ainda não (e isso impede que hackers interpretem esses códigos de segurança).
Mas o que tem isso a ver com inteligência coletiva? Um dos inventores do Captcha – Luis von Ahn– observou que a humanidade gasta 500 mil horas por dia digitando captchas e criou uma maneira de usar essas horas para ajudar computadores a digitalizar livros, através do Re-Captcha. Ao invés de um montão de letras, esse sistema (que você notará que é cada vez mais comum) mostra uma palavra scaneada de um livro (que o computador não consegue ler) e outra palavra usada para o sistema anti-hacking. Ou seja, 750 milhões de internautas estão ensinando computadores a lerem livros indecifráveis a uma velocidade de 500 mil horas-aula/dia, ou 100 milhões de palavras/dia.
2. Duolingo: uma metodologia de ensino grátis e online de idiomas, criada para traduzir toda a Web aos principais idiomas do mundo.
Os inventores do Re-Captcha então, felizes com os resultados obtidos, decidiram inventar um novo desafio: traduzir a Web para todos os principais idiomas do mundo. A solução foi o Duolingo: o site que convida usuários a aprenderem um idioma novo grátis, enquanto traduzem a Web e ampliam o acesso da informação a mais gente no planeta. A ideia parte do fato de que existem 1.2 bilhões de pessoas no mundo aprendendo um idioma novo e de como usar esse interesse e massa de colaboradores para realizar algo que parecia impossível.
O projeto tem demonstrado que, além dos alunos conseguirem aprender novos idiomas dessa maneira, é possível obter traduções eficazes e precisas a partir das lições dos alunos (analisadas por computador para eliminar erros). Segundo seu criador, com 100 mil usuários, o Duolingo levaria apenas 5 semanas para traduzir toda a wikipedia do inglês para o espanhol. Um trabalho que custaria 15 milhões de dólares se fosse feito por tradutores contratados, mas que sai grátis se conta com a colaboração de alunos aprendendo espanhol pela Internet.
3. MalariaSpot.org: o jogo online de diagnóstico de malária por celular
MalariaSpot é a primeira campanha mundial de diagnóstico de imagens médicas crowdsourced. Trata-se de um jogo online em que os internautas encontram parasitas de malária em imagens reais digitalizadas a partir de amostras de sangue.
O objetivo é testar a viabilidade do diagnóstico crowdsourced pelo celular e criar uma comunidade de jogadores, ou seja, pessoas qualificadas para diagnosticar a malária online.
Através do aplicativo, amostras de sangue podem ser scaneadas e distribuídas pela Web para que especialistas a avaliem de forma remota. Ou seja, funciona como uma plataforma de conexão mobile entre pacientes em áreas afetadas por malária e especialistas em todo o mundo. Assim, o projeto prevê a capacitação de um novo tipo de especialista: jogadores-trabalhadores treinados para diagnosticar malária. Isso possibilitará oferecer ao mundo diagnósticos precisos e em grande escala.
Segundo Dr. Luengo-Oroz – investigador chefe do projeto – uma pequena porcentagem do tempo gasto por usuários de celular em jogos permitiria diagnosticar todos os casos de malária do mundo e assim evitar a morte dos quase meio milhão de crianças todos os anos.
4. GPUGRID.net: a rede social de compartilhamento de computadores que permite a qualquer usuário participar da investigação de curas biogenéticas
Estive numa visita ao PRBB (Parque de Investigação Biomédica de Barcelona) conhecendo uma de suas áreas que investiga medicamentos e tratamentos bio-genéticos contra câncer e HIV. E qual não foi meu susto ao descobrir que esses cientistas não misturam apenas biologia molecular, física, química e design 3d, mas também gamefication!
Explico. A investigação deles está baseada na simulação de sistemas genéticos em 3d, para analisar como funciona a interação das proteínas com os genes. E tudo isso, custa muita memória de processamento para imagens. Uma investigação pode levar meses de computadores fazendo cálculos. Um dos investigadores – Dr. Ignasi Buch – conta que inicialmente, os cientistas hackeavam placas de PlayStation para processar essas imagens, até que tiveram a ideia de criar uma rede social. Qualquer pessoa pode se cadastrar no GPUGRID.net e contribuir com a ciência compartilhando a memória de seus computadores pela Web por algumas horas/semana.
O mais interessante é ver gênios como Dr. Ignasi terem de dividir seu precioso tempo entre desvendar o complexo ecossistema genético humano e pensar em maneiras de engajamento do público na rede social deles: analisando perfil, comportamento de público; fazendo community management; criando estratégias de badges, fidelização e premiação social.
Fora essas 4, existirão pelo menos outras 997 maneiras de criar ferramentas de inteligência coletiva. Invente uma … e compartilhe!
Philippe Bertrand é diretor de conteúdo da DM9DDB
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