Power to the Pixel: além do algoritmo
A produção de conteúdo inovador exige uma prática pouco comum em países como o Brasil, prototipar, testar e, também, errar
A produção de conteúdo inovador exige uma prática pouco comum em países como o Brasil, prototipar, testar e, também, errar
Meio & Mensagem
14 de outubro de 2015 - 8h30
Nessa semana está acontecendo em Londres um evento chamado Power to the Pixel. Se trata de um fórum de cross-media que acontece junto com o BFI London Film Festival. O evento é uma espécie de vitrine que mostra pensamentos visionários, práticas e modelos de criação, distribuição e financiamento de projetos de inovação. Nesse ano, o evento recebeu uma comissão da América Latina, formada por produtores e criadores que de alguma forma têm produzido conteúdo inovador, inclusive no Brasil.
O evento começou com um dia de palestras, ministradas por gente do calibre de Jon Leland, diretor de estratégia e insights do Kickstarter; Ingrid Kopp, do Tribeca Film Festival; Alex Ayling, head of BBC Worldwide Digital Studios, entre outros nomes de peso. Produtores de diversos países, órgãos que financiam conteúdo, e muita gente falando de realidade virtual, a nova febre do momento tanto na publicidade quanto na produção de conteúdo independente.
Dentre eles Alex Bowker, da Samsung; Dave Ranyard, da Sony; e Saschka Unseld, da Oculus Story Studio, núcleo de criação de conteúdo em storytelling da Oculus Rift, empresa fundada por Palmer Luckey e comprada no ano passado pelo Facebook por 2,6 bilhões de dólares.
É difícil resumir o que foi falado, ou dizer qual lição eu guardo desses primeiros dias. O que ficou claro é que a produção de conteúdo inovador exige uma prática pouco comum em países como o Brasil, prototipar, testar e, também, errar.
Trabalhar com inovação traz como premissa básica a necessidade de testar, de colocar nossas ideias em questionamento. E absorver o erro como aprendizado. Em um momento de crise no Brasil, onde mal se consegue verba para pagar as produções tradicionais, como lidar com inovação e como lidar com o erro? Não é uma resposta fácil.
No caso de realidade virtual, por exemplo, que é uma nova forma de contar histórias em pleno desenvolvimento, como convencer um cliente a investir em algo que ainda não tem um ecossistema de produção, uma narrativa, uma forma de distribuição bem definido?
E como lidar com a possibilidade de em 5 anos essa tecnologia não ser mais tão inovadora? O Napster deixou de ser "a grande coisa", para se tornar nada em menos de 5 anos. Esse tipo de questionamento tira o sono de quem trabalha com inovação, de quem se cansou de ver conteúdo sendo entregue de maneira quase automática na internet, anúncios que os algoritmos no Facebook e Google jogam nas nossas timelines e que de certa forma geram retorno mensurável para quem investe neles. Não necessariamente um retorno de qualidade, ou que engaja o público, mas números que provam que o investimento não foi pra lata de lixo.
O interessante desse evento é ver que boas ideias, aquelas autênticas, têm hoje em dia outras formas de financiamento à disposição, como o crowdfunding. O Kickstarter já gerou mais de 93 mil projetos que conseguiram financiamento de pessoas comuns, que gostaram das ideias e investiram nelas. O VOD, OTT e o SVOD são outras formas de exibição que também trazem um novo modelo de investimento em produção de conteúdo independente, e aqui ficamos sabendo que além do Netflix e da Amazon, existem muitas outras plataformas que pagam por conteúdo de qualidade.
Fora isso, existe uma tendência forte apresentada que é dar mais atenção à audiência do que ao briefing. Conversar com a audiência em todas as mídias traz mais sucesso para um conteúdo do que simplesmente exibi-lo da forma tradicional, cria consumidores mais fiéis. E isso também é storytelling, é contar uma história respeitando as características de cada plataforma, e o que as pessoas costumam consumir nelas, dando ouvido a elas.
No fim das contas, a frase que ficou na minha cabeça hoje é "o storytelling sempre trará significado para a tecnologia". Se não tivermos quem pague nossos protótipos no Brasil, ou se temos medo de investir em inovação, vamos pelo menos ficar com isso em mente. Já é um bom começo pra quem busca fazer algo diferente e que tenha algum impacto positivo nas vidas das pessoas.
(*) Janaina Augustin é diretora do núcleo Outras Telas da O2 Filmes
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