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Cara gente publicitária, vamos debater?

Vagner Soares e Letícia Pereira, da Artplan, falam sobre a repercussão positiva de "Dear Publicidade People"


29 de agosto de 2017 - 8h03

Dear White People, da Netflix, discorre sobre as diversas faces do racismo (Crédito: Divulgação)

Lançada em abril deste ano, Dear White People conseguiu sintetizar, em dez episódios, diversos conflitos causados pelo racismo em uma renomada universidade norte-americana passando por nuances delicadas que permeiam o tema, como as divergências entre militantes negros. As denúncias feitas no rádio pela protagonista Sam provocaram alvoroço negativo dentro do campus e fora dele, na vida real: produção original da Netflix foi alvo de boicote nos EUA após a veiculação de um teaser, além de inúmeras avaliações negativas.

Não é novidade que, assim como em diversos ambientes acadêmicos, a presença negra em agências de publicidade é escassa e inversamente proporcional ao racismo que ainda perdura na sociedade. Inspirado pela série ficcional, Vagner Soares, assistente de arte da Artplan, decidiu chamar de Dear Artplan People a apresentação sobre racismo que montou há mais ou menos dois meses quando, nas palavras dele, “acordou muito louco na problematização”.

Perguntou a Zico Farina, diretor de criação da agência, se poderia levar o tema para o projeto onzeemeia. Realizado às sextas-feiras, a iniciativa abre espaço para a equipe debater temas pertinentes à publicidade e já contou com sessões sobre trilhas sonoras e SXSW mas, até então, nenhuma com conteúdo com teor social. Sob o aval entusiasmado do chefe, Vagner fez um compilado de explicações das mais básicas, como o que é racismo, às mais complexas, como colorismo, privilégio branco e apropriação cultural. Já que uma das preocupações era frisar a importância do lugar de fala, ele convidou a colega Letícia Pereira, analista de mídia, para discorrer a respeito de feminismo negro.

 

Vagner Soares, assistente de arte, e Letícia Pereira, analista de mídia da Artplan São Paulo (Crédito: Divulgação)

A dupla divulgou com antecedência que haveria uma apresentação sobre racismo em um grupo da Artplan no Facebook, que reúne equipes dos três escritórios da agência. Mais de 90% da equipe em São Paulo assistiu à palestra e os times do Rio e de Brasília acompanharam a live. O sucesso foi tamanho que eles refizeram a apresentação para as duas cidades por conferência. “Muita gente nos apoiou, deu feedbacks positivos, disseram que o tema precisava ser falado e que foi muito legal essa iniciativa ter partido de quem tem propriedade para falar porque vive isso”, conta Vagner.

Um dos desafios da dupla foi condensar 500 anos de história e traçar um paralelo com a publicidade de forma que coubesse em um espaço de uma hora. “A gente sabe que existem rodas de debates coletivos onde se discute cada um dos tópicos que abordamos por dias e horas. Mas é preciso criar um background didático para chegar na publicidade”, explica Letícia.

 

(Crédito: Reprodução)

Privilégio branco
Um dos slides que compõe a apresentação elenca 45 frases que ilustram por que o simples fato de nascer branco já configura um privilégio, o que, de acordo com Letícia, é uma reflexão que vai além de entender que o racismo está errado. Para estimular a compreensão dos participantes, ela e Vagner fizeram um exercício em que convidaram alguns dos participantes para ler em voz alta afirmações como “Posso me dar ao luxo de me afastar da discussão sobre o racismo quando ela fica desconfortável demais”, ou “Se eu conseguir um emprego muito bom, não preciso temer que as pessoas pensem que eu consegui a vaga não por competência, mas para cumprir cotas”.

A esperança da dupla é que, ao incutir essas e outras reflexões não somente no ambiente corporativo, mas no cotidiano das pessoas, o efeito seja de um avanço positivo contra velhos estigmas e preconceitos. Na Artplan pós-“Dear Artplan People”, Vagner e Letícia enxergam uma abertura maior de diálogo nos processos de planejamento e criação das peças, ainda que a agência já estivesse em um estágio avançado nas conversas sobre diversidade em geral. “Organicamente criou-se um filtro e isso ocorre não só para peças, mas para o dia a dia das pessoas”, avalia Letícia.

Ao que tudo indica, essa contribuição já está acontecendo. Nas redes sociais, o material tem sido compartilhado e comentado, e os dois profissionais já foram convidados a apresentarem o conteúdo em faculdades e em outras agências. Por isso, a iniciativa foi renomeada para “Dear Publicidade People”. “E o mais incrível disso tudo é que ainda não apareceu hater”, brinca Vagner.

Ubuntu

 Em meio a ondas racistas e discursos de ódio como o episódio em Charlottesville, nos EUA, o profissional enxerga uma maioria empática e consciente. “Quando um negro chega em uma agência nova e vê outro negro, sente-se representado. Mesmo que não role muito contato no dia a dia, rola uma identificação”, comenta Vagner.

Ao mesmo tempo, o profissional faz coro à afirmação de Ian Black, fundador da New Vegas, publicada na reportagem “Retrato Desconfortável”, na edição de 21 de agosto do Meio & Mensagem, na qual reforça a importância de ter figuras negras apolíticas e que não carreguem um discurso para evitar a noção errônea de que todo negro pensa igual. “Ao introduzir o privilégio, a gente salienta que o número de negros que consegue chegar à faculdade e consegue terminá-la, é muito baixo. Os que conseguem entrar em agências como a Artplan, também é muito baixo. Tem mudado e tende a mudar mais. Só que o negro não pode ser visto como ‘o diretor de arte negro’. O negro é muito mais do que apenas negro, ele é pai, gosta de assistir comédia romântica. Tem muitas peculiaridades escondidas pelo simples fato de ser negro. Às vezes, perguntam minha opinião não como Vagner, mas como pessoa negra. É errado basear a opinião de toda uma raça a partir da opinião de uma pessoa”, alerta Vagner.

Acesse a apresentação aqui.

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