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Concorrência para casar

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Ponto de vista

Concorrência para casar


8 de agosto de 2013 - 11h56

Ulisses era um sujeito boa praça. Todo mundo gostava dele. Se vestia bem e era sempre o centro das rodinhas no final da festa. Quem não o conhecia, queria conhecê-lo. Queria estar por perto. Queria ser o melhor amigo. Tinha até gente que nem o conhecia, mas fazia questão de botá-lo na lista de Melhores Caras para se Relacionar.

Ulisses, já com 40 e poucos anos, não era casado. Nem namorada tinha. Como pode um sujeito como ele não ter uma cara metade? Quando perguntado, sempre se esquivava dizendo que não gostava de relacionamentos duradouros. Preferia diversificar do que ter algo sério, fiel, profundo. Assim conseguia ver o que tinha por ai. E sempre achava que comia a melhor.

Mas o tempo foi passando. Os amigos do Ulisses foram casando. Casamentos felizes e que davam a eles experiência, maturidade e foco. E claro, filhos. Ulisses, que nem casado era, começou a deixar de ser convidado para os acontecimentos familiares. Nos encontros anuais dos amigos, deixou de ser assunto até mesmo porque, sua vida não era tão profunda assim. Faltava papo.

Ulisses deixou de ser tendência para virar decadência. O cara descolado, que pegava as menininhas por ai, virou o cara que não conseguiu casar aos 40 anos.

E ser exposto assim, no 1º Congresso dos Amigos, fez com que Ulisses se mexesse. E resolveu dar um rumo certo na sua vida.

Botou na sua cabeça que ia achar a mulher ideal. E isso tinha que ser rápido. Primeiro listou as moças que achava que tinha a ver com ele. Na falta de conhecimento, pediu ajuda para os amigos completarem a lista. Chamou todas para um Happy Hour num barzinho descolado – tipo briefing coletivo – e contou a sua estratégia. E olha que nem fez as pretendentes assinarem um NDA.

Disse que queria se casar com a moça que tivesse mais afinidade com ele. Que gostasse de jogar tênis, viajar para Maresias, que quisesse ter filhos, e uma lista infindável de atributos. Deu a elas uma semanas para se prepararem. Iria então sair com uma de cada vez, dia após dia. Depois, ia se reunir com os amigos, na Mesa de Compras, ops, Bar, e ia tomar uma decisão.

As moças, algumas solteiras, outras separadas e algumas até viúvas não podiam deixar esta chance passar. Afinal, Ulisses, um quarentão solteiro tinha um bom dinheiro na conta bancária e um produto pra lá de interessante, que se lapidado, daria um bom portfólio.

Foi um tal de gente se matricular em aula de tênis, conhecer tudo sobre Maresias e ver documentários sobre filhos que na semana seguinte, não deu outra.

Ulisses foi saindo com cada candidata. Ouvindo coisas super interessantes e assustadoramente padronizadas. Incrível como tinha escolhido candidatas a dedo e todas tinham quase a mesma proposta, achava ele. Algumas ficaram na cerveja, outras avançaram para um jantar e até uma transa quente, mas não passavam da meia-noite. Afinal, no dia seguinte tinha mais uma candidata para ser avaliada.

Depois de uma semana de análise profunda de propostas superficiais, chegou o momento da Mesa dos Amigos se reunir. Cada um dava o seu palpite e destacava um atributo. Até que na decisão final, depois de muita moça parecida, eis que o mais velho dos amigos solta a frase matadora: “Na dúvida, fique com a mais baratinha”. Silêncio na mesa, até que as frases de concordância começaram a pipocar.

Concluindo, Ulisses não teve dúvidas. “Se todas podem me dar o que eu quero, fico com aquela que vai me custar menos”, pensou. Assim, ele poderia fazer mais, com menos.

Na semana seguinte, após anunciar sua decisão, e depois de varias ligações de protestos das candidatas, Ulisses começou a namorar e já marcou o casamento.

O casamento foi uma grande festa e Ulisses voltou a ser o centro das atenções. Seu nome e sua festa saíram em tudo que era revista. De Meio & Mensagem a Caras.

Mas na lua-de-mel, o pesadelo começou. A moça ideal começou a botar suas garrinhas de fora. Ulisses, que até então não tinha acordado ao lado dela quase não conseguiu dormir de tanto que a distinta roncava. Sem maquiagem parecia mais um bruxa. Recuperado do susto, marcou um jogo de tênis, mas teve que interromper porque uma semana de aula não foi suficiente para a Sra. Ulisses aprender a pegar na raquete. O clima foi esquentando, mas a bomba estourou mesmo na hora de voltar para a realidade. O hotel apresentou uma conta de extras por conta de uma série de despesas não planejadas por ele, mas bem utilizadas por ela.

Não preciso dizer que em um mês Ulisses estava de volta ao mercado. Chegava a conclusão que a “baratinha” saiu bem caro e não entregou o que tinha prometido.

Na primeira oportunidade, se reuniu com os amigos na Mesa do Bar e contou a sua saga. Claro que “Eu te disse” sobrou na mesa.

Quase desiludido, e acreditando que toda mulher era igual, Ulisses matou o copo de Chopp, levantou da sua cadeira e foi ao banheiro. Na fila, encontrou uma linda e discreta morena, de olhos azuis, que sorriu para ele mas quase-que-na-dela não deu bola. Ulisses não perdeu a chance, mas tomado pela curiosidade perguntou: “Não te conheço?” A moça não perdeu tempo e respondeu: “Já nos vimos uma vez, num Happy Hour surreal que você promoveu para achar a sua mulher ideal. Mas como não jogo tênis, evito Maresias por causa do trânsito, filhos eu já tenho e não pretendo ter mais, e achei que aquela concorrência de mulher não ia te levar a lugar nenhum, declinei. Me levantei e dei tchau. Mas você nem prestou atenção, porque estava entretido com as suas pretendentes quase perfeitas”.

Foi o suficiente para Ulisses cair na real. A noite foi longa e nasceu ai uma grande história de amor, uma parceria duradoura e um case de sucesso.

Moral da história: Pra achar sua parceira ideal rasgue o seu briefing e tire a bunda da cadeira. Você não imagina o que pode encontrar onde menos espera.

Fernando Figueiredo é bem casado, pai de dois filhos e não conheceu sua mulher em uma concorrência. É sócio-presidente do TalkabilityGroup/Bullet
@feof 

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