Novas diretrizes de marketing

Meio & Mensagem
14 de agosto de 2013 - 1h13

O CEO estranhou quando o diretor de marketing abriu a reunião afirmando tratar-se de uma apresentação pacífica. Olhou ao redor, os outros diretores pareciam felizes com a declaração, recostou-se.

A primeira proposta (de grande impacto, como sublinhado no ppt) foi patrocinar os Black Blocs. "Não seria melhor dizer Afro-descendentes Blocs?", perguntou a VP de RH. "Neste caso não é necessário, já que se trata de marca multinacional", respondeu o apresentador. Um "ah, bom!" tranquilizador percorreu a sala.

No capítulo de eventos, o plano de vestir a linha de frente das manifestações de protesto com camisetas da marca arrancou aplausos entusiasmados. E a notícia de que co-assinariam todas as faixas e cartazes onde estivesse escrito "FORA alguém ou alguma coisa" levou a mesa ao delírio.

Um dedo tímido levantou-se pra perguntar sobre a possibilidade de envolver também os Anonymous, ouvindo a resposta de que havia uma exigência de exclusividade dos Black Blocs, que, dentre outras vantagens, ofereciam como bônus a adesivação de vitrines onde os produtos da empresa estivessem expostos, poupando-as de quebradeiras e saques. Os selos de "marca parceira BB" já estavam inclusive em processo de impressão.

Na mídia tradicional, investiriam pesado nos Ninjas. "Tradicional?", estranhou o CEO que não sabia do que se tratava. "Mídia Ninja", esclareceu o diretor de marketing. "Se autodenominam ‘mídia’ e dizem que fazem ‘jornalismo’… mais tradicional, impossível", concluiu esbanjando confiança.

Todos aplaudiram de pé, gritando palavras de ordem ensaiadas num seminário duas semanas antes. O CEO sorriu, disfarçando suas inquietações. Um diretor cochichou com outro sobre o apresentador: "Acho esse cara meio mascarado". Além disso, nada mais foi dito ou pensado. 

Adilson Xavier é publicitário e escritor