Meio & Mensagem
7 de maio de 2012 - 8h50
Restabeleceu-se a ordem. O município de Paulínia, no interior de São Paulo, voltou a gozar da ampla e irrestrita mediocridade depois de quatro anos se passando por uma Hollywood tupiniquim com inspiração Bandeirante pela pretensão de conquistar o status de capital do cinema nacional. Ufa! Tivemos de amargar esse tempo ouvindo as vozes do cinema nacional falando maravilhas sobre a política cultural do município do interior paulista.
O tal Festival de Paulínia e tudo que se prognosticou a partir dele não passaram de ignorância de alguns e picaretagem de outros tantos envolvidos com a cadeia de produção do cinema nacional. Uma farsa ou coisa muito pior, dependendo do ângulo do observador.
Um dia, do nada, um prefeito resolve promover um festival de cinema. Detalhe, a cidade não possuí nenhum vínculo com a sétima arte, ninguém de cinema nasceu no município, ela está a apenas 126 quilômetros da cidade de São Paulo, não tem nenhum atrativo natural, é crivada de indústrias e, para não dizer que eu não falei de flores, tem um jardim botânico, um mini pantanal (?), dois parques para caminhadas e uma Maria fumaça que promove um tour pelas atrações (?).
Como de costume, é só agitar alguma verba para o financiamento da produção de qualquer coisa que possa ser denominada de cinema, que baixa a trupe do “me dá um dinheiro aí” animada com suas cantorias de madrugada, suas longas entrevistas que não dizem nada e um misto de prepotência intelectual com mendicância conformada, ou seja, exatamente aquilo que vemos nas telas impostas pelas cotas do cinema nacional.
Outro dia, do mesmo nada, um outro prefeito resolve cancelar o festival de cinema com uma coleção de motivos tão torpes quanto os que o criaram. Como não tem mais verba, ninguém aparece para passar o ridículo de explicar o que aconteceu. O que era manchete se transforma em melancólicas notícias que tendem responsabilizar a atual administração do município.
Não há dúvida que a decisão sobre o cancelamento foi política, portanto, os incomodados com a medida devem culpar o prefeito, por sinal, eleito pela população de Paulínia. Mas a questão é mais complexa e, sinceramente, não acredito que alguém confie nas boas intenções dos dois dirigentes municipais, o que criou e o que acabou com o festival. Prefeito é tudo igual. O problema está nos integrantes da indústria (SIC) nacional do cinema. Produtores, diretores e atores gravitam em torno do paternalismo público atrás de migalhas para executarem seus projetos sem nenhuma preocupação com a consolidação do negócio do cinema no Brasil.
A indústria do cinema nacional tem dificuldades em entender que atitudes como essa são tomadas na certeza de que nada acontecerá ao dirigente público graças à inoperância, a falta de liderança e o “salve-se quem puder” em que se transformou o negócio da produção, distribuição e exibição do cinema brasileiro.
Paulínia se foi e não deixará saudades porque é uma forma frágil de financiar e divulgar o cinema nacional. Suas cerimônias e atividades, com pretensa relevância, não significaram nada para o negócio, portanto são absolutamente dispensáveis. A lição que Paulínia deverá deixar é o alerta para que a pequena indústria do cinema brasileiro pare de se encantar com ações isoladas e elabore um plano de longo prazo que objetive sua consolidação. Portanto acredite, culpar o prefeito é contar somente parte dessa história.
* André Porto Alegre, jornalista e publicitário, membro do Conselho de Administração e da Diretoria Executiva da APP – Associação dos Profissionais de Propaganda, Conselheiro do CONAR – Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária, Conselheiro do FAC – Fórum do Audiovisual e Cinema. Foi Diretor Comercial da Mobz S.A., Circuito Digital S.A. e Promocine, empresas operadoras de mídia cinema. Vencedor do Prêmio MaxiMidia em 2004 e 2007 pelo Melhor Uso da Mídia Cinema. Trabalhou no jornal Folha de São Paulo, na Mauricio de Sousa Produções, no Grupo Young & Rubicam e na Ammiratti Puris Lintas. É professor dos cursos de MBA da Faculdade Rio Branco e FACCAMP.
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