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Girls just wanna be CEO*

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Girls just wanna be CEO*

Um dado alarmante, por exemplo, é que menos de um terço dos conselhos administrativos do mundo tenham uma representatividade feminina minimamente relevante, com 30% de suas cadeiras ocupadas por mulheres.


27 de setembro de 2019 - 17h05

Por Thaísa Passos (*)

 

O ano é 1983 e Cyndi Lauper contagia multidões, ao cantar que, ao fim de um dia de trabalho, “garotas só querem se divertir”.  A canção com Girls Just Wanna Have Fun vira hit imediatamente, e se torna um hino à igualdade de gêneros para as várias gerações de mulheres.

Quase três décadas depois, Beyoncé hipnotiza um público de 110 milhões no Super Bowl defendendo que as mulheres é que comandam o mundo. São “espertas o bastante para fazer milhões” e “fortes o suficiente para cuidar dos filhos e depois voltar aos negócios”, diz ela em Run the world (Girls).

Essas músicas, que aliás recomendo fortemente que entrem para sua playlist, são ótimas provocações para pensamos a respeito dos desafios mulheres no mercado de trabalho.

OIT (Organização Internacional do Trabalho), por exemplo, divulgou em maio desse ano que empresas com lideranças femininas impulsionam seus resultados em até 20%. Na prática, a abertura à diversidade de gêneros é latente – 6 em cada 10 companhias monitoradas pela OIT, aliás, se dizem adeptas à ideia. Infelizmente, isso não significa que ela ocorra em todos os níveis.

Um dado alarmante, por exemplo, é que menos de um terço dos conselhos administrativos do mundo tenham uma representatividade feminina minimamente relevante, com 30% de suas cadeiras ocupadas por mulheres.

Além disso, atualmente, em nível global, para cada 10 homens empregados, há apenas seis mulheres exercendo funções remuneradas, número que sinaliza para uma grande desigualdade no mercado de trabalho.

E o que dizer de nossa capacidade de liderança?

Ler na mesma frase as palavras CEO (ou presidente) e um nome feminino ainda hoje é raríssimo, mesmo com todas as conquistas recentes. Nos anos 80, Katharine Graham foi uma das pioneiras ao exibir a famosa plaquinha de CEO em sua mesa. O cargo máximo no Washington Post, e o comando da cobertura do escândalo de Watergate, aliás, garantiu a ela o mérito de botar o jornal na lista das maiores e mais rentáveis corporações do planeta, na lista da Fortune 500, da revista Fortune.

Mulheres para nos inspirarem não faltam. O que precisamos mesmo é de movimentos individuais para, conjuntamente, quebrarmos paradigmas.

E já passamos da hora de quebrar alguns paradigmas. Há séculos uma questão é particularmente preponderante nas discussões sobre empoderamento feminino e trabalho: a maternidade. Essa verdadeira dádiva da natureza, para os empregadores, é sinônimo de “perdas” em doses homeopáticas, com pagamento de licença, ausências devido a doenças da criança, reuniões escolares… isso sem falar no preconceito mais raso e típico, onde se questiona a capacidade de uma mulher em cuidar dos filhos ao mesmo tempo em que exerce seu papel no mundo do trabalho.

Em tempos de Beyoncé, existem várias líderes que confrontam esses discursos limitantes e que carregam, junto com sua prole, o sucesso das empresas que lideram. Esses exemplos devem ser seguidos. Não deixemos que destruam nossos sonhos. Mas, por outro lado, também é preciso compreender a realidade para partirmos para a ação.

Jornada interrompida

Segundo a Unesco, as mulheres já são maioria quando o assunto é graduação, mas ainda são minoria ostentando diplomas em áreas científicas, tecnológicas, de engenharia e matemática. Ou seja: esses setores seguem majoritariamente ocupados por homens.

No Brasil, temos um cenário no qual, de acordo com IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), elas trabalham mais e recebem menos, chegando a espantosos 76,5% dos rendimentos pagos a homens.

E é lamentável que uma pesquisa produzida pela FGV tenha mostrado que quase metade das trabalhadoras gestantes perdem seus empregos após retornarem da licença-maternidade, no Brasil.

Enfim, enfrentamos um enorme desafio. As corporações precisam urgentemente de um olhar mais atento sobre como se formam suas lideranças. Porque hoje a realidade é que, ao sermos lançadas fora do mercado de trabalho assim que nos tornamos mães, mesmo sendo mais estudiosas que os homens, subir novos degraus rumo a cargos de liderança se torna uma verdadeira proeza.

Não deveria ser assim. Afinal, de acordo com a consultoria empresarial Mckinsey, empresas com pelo menos uma mulher em seu time executivo são mais lucrativas.

Em recente estudo, intitulado “Um panorama atual das mulheres no mercado de trabalho 2018”,  onde foram analisados dados de 279 empresas, que empregam no total 13 milhões de pessoas, a Mckinsey alerta para a necessidade de se eliminar as lacunas de gênero na contratação e nas promoções, especialmente no início do processo, quando as mulheres geralmente são negligenciadas. Isso significa adotar medidas arrojadas e efetivas para criar uma cultura respeitosa e inclusiva na qual todos, no mundo corporativo, se sintam seguros e apoiados.

A ideia é, então, promovermos mudança para avançarmos mais rápido. Fórum Econômico Mundial calcula que a igualdade de gênero só será alcançada na América Latina em 74 anos – embora o nosso continente seja uma das regiões mais prósperas do planeta nesse sentido.

É hora de mostrar como as organizações podem tirar o melhor proveito nossos talentos. Por exemplo? Vários cientistas e pesquisadores têm demonstrado como a jornada dupla – maternidade e administração – drenam a nossa energia de maneira particularmente desafiadora, trazendo prosperidade. E até mesmo os altos e baixos emocionais, que enfrentamos com maior frequência e intensidade do que os homens, nos fazem ganhar resiliência para seguir em frente, mesmo quando coisas ruins acontecem. Tudo isso nos traz uma forma mais construtiva de ver o mundo. Vamos estabelecer novos significados para nós mesmas, e aceitar riscos para ajudar a pavimentar um novo mundo empresarial. You go, girl. You can be a CEO!

(*) Thaísa Passos, gerente global de marketing da S.I.N. Implant System

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