Meio & Mensagem
18 de outubro de 2011 - 7h50
O Senador da República incomodado com as grosserias do comediante de televisão em relação à mulher e ao filho de um amigo e sócio, entra em contato com o proprietário da emissora e avisa que, se o tal artista não for afastado de suas funções ele, pessoalmente, irá contatar as empreiteiras e as empresas públicas e pedir para que não invistam mais seus recursos publicitários no canal de televisão. Isso é censura.
Portanto não há outro nome para o que ocorreu há duas semanas em relação a uma emissora de televisão, um comediante, várias grosserias e (surpresa!) um ex jogador de futebol.
Pois é, quando todos acreditavam que já havíamos assistido a tudo no país do futebol, somos brindados com a reação do ex-profissional da bola, que ensaia seus primeiros passos no mundo corporativo e, por vocação, antes de habitar as páginas de negócios, volta para as páginas de fatos bizarros.
É direito de todo anunciante cancelar seus contratos comerciais com qualquer empresa de comunicação caso considere que o conteúdo apresentado não está de acordo com seus princípios. Portanto, não haveria a necessidade da intervenção do ex-jogador, dublê de empresário, em alertar a comunidade anunciante para as barbaridades proferidas pelos apresentadores do dito programa. Bastava o anunciante assistir a uma única edição para perceber que a exposição de sua marca é uma agressão aos consumidores.
Também a emissora, concessionária do canal de televisão, não necessita do alerta do prudente ídolo da torcida brasileira para se convencer que há limites para a liberdade de expressão (sim, é isso mesmo que está escrito) e que determinadas posturas são contrárias ao papel social de um veículo de comunicação.
Anunciante e emissora deviam ter tomado a frente e alertado os infantes protagonistas do programa, de inspiração argentina, que, por seus critérios, seria conveniente impor limites à manifestação das idéias sob pena dos recursos de produção cessarem. E isso não é censura.
Mas tanto os anunciantes quanto a emissora foram omissos e não cumpriram suas obrigações sociais caso, verdadeiramente, se sentissem incomodados com os impropérios dos apresentadores.
Quanto ao espectador esse tem o poder supremo de desligar a televisão ou mudar de canal, um direito inafiançável exercido com a plenitude dos que tudo podem.
Recentemente o ex jogador, protagonista do vexame de 98 e herói do sucesso de 2002, se tornou sócio de um dos maiores conglomerados de comunicação do mundo, proprietário no Brasil de, pelo menos, meia dúzia de empresas, entre elas a maior agência de publicidade do país. Isso lhe confere uma condição comercial capaz de fazer valer seus princípios, assim como o Senador retratado no primeiro parágrafo.
Ao mudarmos de protagonista e substituirmos o jogador pelo fictício Senador a história assumiu seu verdadeiro caráter. O que presenciamos naquela semana foi um ato de censura comercial, motivada por interesses pessoais e não por valores sociais como tentaram nos convencer.
* Sócio-diretor da Mobz
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