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O público, o privado e o bom humor

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Ponto de vista

O público, o privado e o bom humor


13 de novembro de 2013 - 11h28

Esse caso foi bastante badalado há algumas semanas. Mas, propositadamente, eu esperei algumas semanas para ver os desdobramentos do caso. E algo me surpreendeu.

A jovem Marina Shifrin, escritora, pediu demissão da empresa onde trabalhava através de uma forma completamente diferente. Ela postou um vídeo no YouTube (veja abaixo) com uma dança bem pessoal que se tornou hit na web e ganhou destaque pelo mundo. O vídeo teve tanta repercussão que colocou a música "Gone", do cantor Kanye West, de novo nas paradas.

O vídeo da Marina era claramente um protesto dirigido ao seu chefe, mas ao postar no YouTube, acredito que milhares de pessoas se identificaram com a sua atitude e se imaginaram fazendo a mesma coisa ou algo parecido. Não houve ofensas ao chefe ou a empresa, apenas uma performance bem divertida e uma comunicação direta mostrando a motivação de sua saída.

Duas coisas me chamaram a atenção em relação ao fato, e não foi a atitude da ex-funcionária ou a repercussão do vídeo. Estou falando da banalização do ato da demissão e, melhor ainda, do vídeo resposta da empresa.

Eline Kullock, em seu texto "O presentismo da geração Y e o vídeo de demissão da Marina Shifrin", faz uma excelente reflexão sobre essa tal "banalização da demissão". Vale muito ler. Para a geração mais antiga, o ato de se demitir é algo complicado, mexe com a autoestima, precisa de muita reflexão e planejamento. É algo que dói no coração, para fazer escondido. A demissão sempre foi tratada como tabu e era algo discutido dentro de ambientes controlados.

Nos tempos atuais, parece que o processo de demissão ficou menos importante, parece ser algo natural, corriqueiro, como um almoço ou uma ida a esquina. O "pleno emprego" e a "carreira longa na mesma empresa" estão em extinção.

Qual foi a real motivação da Marina para fazer um vídeo, postá-lo no YouTube, em vez de realizar um pedido de demissão numa sala fechada com seu chefe? Por que fazer de sua saída um desabafo público? O que ela queria como imagem a partir dessa atitude? Ela pretendia conquistar algo? Qual o legado deixado por ela na antiga empresa? Será que a "dancinha da demissão" ajuda ou atrapalha na busca dela por um novo emprego?
Será que ela vai conseguir um melhor emprego depois dessa experiência e iniciativa?

Marina explicou a razão de sua demissão em seu blog, Deu para entender muito bem, mas não ela comentou a ideia do vídeo. Seria divertido e interessante se fizesse.

Marina trabalhava na Next Media Animation, uma produtora de vídeos de Taiwan. A resposta da empresa para a ex-funcionária veio no mesmo remédio, ou seja, na forma de um vídeo bem humorado onde os funcionários fazem uma performance e tentam responder a Marina (veja abaixo). O chefe também respondeu a altura as acusações apresentadas por Marina. Ele diz algo na linha: "Eu gostaria que a Marina tivesse aplicado a criatividade mostrada por ela no vídeo em seu trabalho diário aqui na empresa".

O vídeo é divertido, valoriza alguns benefícios da empresa, mostra cenas gravadas na piscina e diz que está com vagas abertas para novas contratações.

Apesar de ser uma empresa pequena, produtora de vídeos, a resposta foi bastante surpreendente. Se fosse uma companhia grande, mais burocrática, certamente o desdobramento seria outro. Mas o exemplo é válido para mostrar que vivemos outros tempos.

Trata-se quase de uma "guerra" pública, de posicionamento, onde uma funcionária deixa a empresa através de um vídeo no YouTube que já alcançou mais de 16 milhões de views, sem pudor, mas com criatividade. A empresa, em contra-ataque, responde na mesma moeda, com sarcasmo, alavancando sua imagem, posicionando-se publicamente para fazer frente a uma exposição pública não planejada. O seu vídeo resposta já tem mais de 4 milhões de views.

São sinais de novos tempos, onde conversas e atitudes anteriormente privadas se tornam públicas. Milhões de pessoas acompanham.

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