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Qual é o futuro do hambúrguer do futuro?

Marcos Leta compartilha sua experiência junto ao desenvolvimento de carne vegetal, sua chegada ao mercado e as oportunidades para foodtechs


23 de maio de 2019 - 6h00

O burburinho em torno do Impossible Burger e da Beyond Meat nos EUA deixou muita gente curiosa para provar o hambúrguer que promete ter gosto de carne sem ter carne na composição. Na semana passada, a Lanchonete da Cidade, em São Paulo, e o T.T. Burger, no Rio de Janeiro, passaram a incluir em seus cardápios a versão brasileira do disco de carne vegetal, sem parentesco direto com a versão norte-americana. A carne de plantas nacional é produzida pela foodtech Fazenda Futuro, em Volta Redonda (RJ) e segue uma receita autoral: um preparado proteico (17 gramas de proteína, no total) com grão de bico, ervilha e soja, condimentos como sal, pimenta e cebola, e suco de beterraba, que emula a cor e o sangue da carne.

Os primórdios da empresa, no entanto, remontam ao continente norte-americano. Tudo começou em 2016, quando o fundador Marcos Leta (o empresário também fundou a empresa de sucos Do Bem) e seu sócio, Alfredo Strechinsky, vislumbraram um potencial para a carne vegetal no Brasil, um mercado em que as próprias empresas de proteína animal se destacam. A dupla então viajou para os EUA, investiram na empresa Good Catch Foods, produtora de atum plant-based e estudaram como funcionavam as food techs por lá. Conseguiram, a partir da experiência, coletar dados e diretrizes sobre como poderiam desenvolver esse tipo de tecnologia no Brasil.

A formulação do hambúrguer na Fazenda Futuro começou a ser viabilizada em 2017 e foi batizada de Futuro Burger 1.0 porque a empresa continua desenvolvendo versões aprimoradas do produto, que começou a ser comercializado pelo Pão de Açúcar no sábado, 18. Na entrevista a seguir, Leta conta mais sobre a produção do hambúrguer, a identidade de marca da Fazenda Futuro e as oportunidades para o segmento de alimentos plant-based:

Marcos Leta, fundador da Fazenda Futuro: (Crédito: Divulgação)

Meio & Mensagem – Quais são seus objetivos de negócio com a Fazenda Futuro?
Marcos Leta –
Basicamente são dois: conseguir cada vez mais acessibilidade para proteínas e carnes à base de planta e distribuir esses produtos para mais gente. Queremos fazer com que essa carne fique mais barata do que a carne de origem animal e aprimorá-la com novas versões para que se aproxime cada vez mais da carne normal.

Vocês se inspiraram no Impossible Burger ou no hambúrguer da Beyond Meat?
Óbvio que a gente olha em volta e observa o que todas as marcas estão fazendo. A gente usa um blend diferente do da Beyond e do da Impossible. E, do ponto de vista de marca, a gente quis criar algo realmente proprietário da Fazenda Futuro. Essas empresas são muito focadas em carne, falam muito disso. A gente não. A ideia é conseguir ter uma marca que lembre todos os dias os nossos colaboradores e parceiros a sempre pensar para frente, desenvolver novas tecnologias e versões. Até por isso utilizamos o FF como algo que remete a fast foward e por isso nosso smile tem o símbolo de avançar, dos controles remotos antigos. Queremos fazer a disrupção de certos sistemas antiquados no Brasil e no mundo.

Há alguma agência por trás da comunicação e identidade visual da marca?
A Hardcore faz toda a parte de branding. E a comunicação é 100% digital. Fazemos ações de trade dentro do varejo. Nossa comunicação é 80% digital e 20% trade marketing dentro das lojas.

Qual é o processo que norteia o desenvolvimento do hambúrguer?
A gente basicamente trabalha com três pilares em termos de desenvolvimento. Iniciamos nosso estudo sob os pilares de sabor, saudabilidade e sustentabilidade. É uma escadinha que a gente usa porque a gente começa desenvolvendo a parte de sabores: a mistura, o índice proteico, o sabor – porque tem de ser saboroso, não adianta ser um negócio somente funcional. E precisa trazer aporte proteico, são 17 gramas de proteína, se não é igual ao da carne, não faz sentido. Os ingredientes são seguros e livres de transgênicos e aí o projeto começa a se fechar do ponto de vista de matéria prima. A gente trabalha para dar acessibilidade ao mercado de carne, então precisamos encontrar ingredientes como a ervilha e a soja que sejam de qualidade e oferecer o produto final de forma acessível para o consumidor.

Como é a estrutura da empresa e que tipos de profissionais a compõe?
Começamos o projeto em mais ou menos cinco pessoas. A Fazenda Futuro ainda em um momento pré-operacional. Hoje, temos em torno de 30 pessoas e temos uma capacidade produtiva interessante, produzimos cerca de 150 toneladas de hambúrguer por mês e temos capacidade de chegar, com a estrutura de hoje, a 500 toneladas por mês. Temos as áreas comercial, administrativa, financeira, de pesquisa e desenvolvimento, engenheiros de alimentos e parceiros para fazer testes.É basicamente o organograma de uma empresa normal.

Como foi o processo de achar os primeiros parceiros para comercializar o Futuro Burger?
A gente tem experiência no mercado há dez anos, então já conhecemos as pessoas, sabemos como trabalhar um produto premium no Brasil, temos um ótimo relacionamento com os varejistas. Sabendo do perfil de cada um e de como trabalham, fomos apresentando, fazendo degustações.

Na sua opinião, qual o potencial para a expansão do mercado de carnes à base de planta?
É um mercado que não tem mais volta por alguns motivos. A sustentabilidade é um deles. As pessoas podem querer manter um caminho de equilíbrio, reduzir o consumo de carne por vários motivos, como colesterol ou conscientização. E existe também a gente sente na pele certas ações do planeta. Cada vez mais pessoas estão tendo acesso às informações sobre a produção de carne que, se continuar crescendo, até 2050 não vai ter terra para produzir. A gente vai ter que mudar e repensar não só as variações do alimento, mas como desenvolver novas ofertas para realmente deixar os produtos mais baratos. O T.T. Burger, por exemplo, comprou essa ideia: o sanduíche Futuro T.T. é o mais barato do cardápio. Isso pode incrementar a venda com novos entrantes, pessoas vegetarianas e veganas que não comiam em uma hamburgueria, por exemplo.

Vocês também firmaram uma parceria com o Spoleto para a comercialização de almôndegas e carne moída para molho bolonhesa. Há outros produtos pela frente?
A gente está testando algumas texturas e o Spoleto representa um avanço bacana pela carne moída, que tem outra característica de textura e sabor. Temos um pipeline de inovação para o hambúrguer, vamos evoluir para a versão 2.0 já, já. Não somos estilo iPhone, a ideia é evoluir muito rápido, de acordo com a demanda.

Crédito imagem do alto: Reprodução/@fazendafuturo

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