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Izabela Anholett: “As pessoas aceitam ads, desde que faça sentido”

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Izabela Anholett: “As pessoas aceitam ads, desde que faça sentido”

Chief technology officer da Exame detalha a importância da tecnologia no mercado editorial e comenta mudanças no comportamento de um usuário digitalizado


8 de agosto de 2022 - 10h28

Do varejo ao mercado editorial, Izabela Anholett ampliou seu campo de atuação quando assumiu o posto de CTO da Exame em maio deste ano. Desde então, a profissional vem procurando mostrar a importância da tecnologia em uma indústria que nasceu impressa.

Tal origem, inclusive, dá espaço à revolução com o surgimento de cargos como o dela em veículos jornalísticos e Izabela ressalta os esforços de tentativa e erro na implantação de novas funcionalidades no site da Exame, que não são exclusivas à essa marca, mas sim, algo intrínseco à tecnologia e aos novos hábitos do consumidor.

A profissional reforça a necessidade de CTOs estarem alinhados aos modelos de negócio e não apenas à tecnologia em si: “É importante saber o tamanho do seu pé para calçar a tecnologia. Nesse momento, talvez não seja possível fazer algo tão disruptivo. Na Exame estamos começando a nos estruturar para sermos disruptivos. Essa é a parte chata. Não é legal, mas é preciso fazer”, diz.

 

Izabela Anholett, CTO da Exame (Crédito: Divulgação)

 

Ao Meio & Mensagem, Izabela falou sobre as mudanças do mercado e esforços por trás da revolução digital no mercado editorial:

Meio & Mensagem – Por que você acredita que o cargo de CTO começou a ganhar espaço nas redações dos veículos?
Izabela Anholett – Estava tendo uma conversa com um time sobre metaverso e logo depois que a palestra terminou, uma pessoa falou: “Mas eu não sou digital. Eu não aceito o digital na minha vida”. Eu parei e perguntei: “Você se encontra com suas amigas, liga por telefone, ou você fala com elas pelo WhatsApp? Se você fala por WhatsApp, você já aceita o digital”. Digital não quer dizer plataforma social. Para mim, o grande papel de um CTO hoje, principalmente em uma indústria como a editorial, é: não existe como fazer editorias sem tecnologia. É preciso ter um site, uma inteligência para publicar conteúdo, é preciso conhecer quem é o seu consumidor e o que ele consome na sua plataforma. Por mais que ainda não consiga trazer questões de inteligência, de predição, no mínimo um site no ar você precisa manter. Um site funcional, que faça sentido, que funcione tanto no desktop — que raramente as pessoas usam — mas principalmente que funcione nos smartphones. Falamos muito de uma indústria que não é só uma indústria impressa, e por isso ela precisa muito de uma boa área de tecnologia funcionando.

M&M – No mercado editorial, como em todos os segmentos atualmente, muito se fala sobre como a tecnologia e processos de automação vão substituir o capital social. Qual sua visão acerca de colocações do tipo?
Izabela – De verdade, para mim, alguns papéis, empregos e cargos vão deixar de existir na sociedade para surgir outros, ainda mais quando falamos de Web 3.0, blockchain — que tem um poder imenso, por exemplo, de substituir cartório. […] Me preocupa muito falar de força de trabalho no Brasil. Ela ainda é em grande maioria uma força trabalho braçal e um pouco menos ligada a serviços ou a questões que envolvam tecnologia, é muito mais operacional. Me preocupa muito saber que vamos perder o espaço de muitas pessoas. O que elas vão fazer? Como elas estão se preparando para isso? Um porteiro, por exemplo, pode deixar de existir. Existem prédios que não tem mais portaria. Por enquanto isso desvaloriza o prédio, mas até quando? Temos soluções de vigilância que substituem os seguranças. Tem muita coisa que ainda vai mudar ao longo desses próximos anos, ainda mais que o advento do metaverso. Vão surgir muitas novas profissões, mas vão deixar de existir muitas outras. A discussão é como nós enquanto País está se preparando para isso. Eu não vejo uma preparação para essa adequação.

M&M – Sobre a preparação do País, você vê essa carência mais por parte do público consumidor das tecnologias ou de fato por quem está por trás das máquinas?
Izabela – Um pouco mais de quem está operando. Querendo ou não, o porteiro não tem a visão de que aquilo vai acabar. O que ele vai fazer para manter sua família sendo sustentada? Na Exame conseguimos desenvolver uma outra vertente que é de educação exatamente para preparar as pessoas para esse novo mercado. […] Mas quantas outras empresa preparadas pra isso e quantas outras pessoas estão fazendo o mesmo? Quantas outras pessoas também estão fazendo isso? Ou como as pessoas estão vendo que o que fazem não vai funcionar mais?

M&M – Quão adepto esse mercado já está à tecnologias como metaverso, Web3 e blockchain,  por exemplo?
Izabela – O mercado todo ainda está testando o que é metaverso, porque é muito novo — não em tecnologia, porque ela já existe desde 1990, 2000, mas teve o boom em outubro de 2021. Muitas marcas estão provando e testando. Talvez para o varejo isso seja um pouco mais claro, e eu vejo o editorial começando a entender como o impacto. Na Exame, por exemplo, estamos criando o ambiente imersivo no metaverso paras nossas aulas. Vamos começar a desenvolver outras experiências para ver se o público gosta e se realmente engaja essa geração nova que consome muito o metaverso. Como engajamos todo mundo e não viramos uma marca de Baby Boomers ou de Geração X. No Brasil eu não ainda não vejo grandes marcas editoriais fazendo isso.

M&M – Em uma matéria publicada pela própria Exame, você aponta que o brasileiro ainda tem vantagem competitiva nesta pauta quando comparado com o mercado internacional. O que isso significa?
Izabela – Por muitos anos da minha vida, trabalhei com empresas globais e tive contato com franceses, americanos, alemães, chineses… E é incrível como dá 18h e a caneta cai. Brasileiro não tem isso. Nós trabalhamos 14h horas por dia. Nós somos a população que mais trabalha. E além disso, temos uma outra coisa que é fantástico: nós somos muito criativos, tanto para o bem, quanto para o mal. Quando oferecemos um problema para um estrangeiro, ele tende a pensar só na caixinha dele enquanto jornalista. Já o brasileiro não pensa só no dele. Conseguimos fazer conexões de outras pessoas, experiências e áreas, e ter esse jogo de resolver problemas muito mais fácil. Isso nos dá uma vantagem competitiva em criatividade, em vontade de entregar. […] O emprego tem uma importância muito grande na nossa cultura.

M&M – O consumidor e os leitores estão preparados para essa revolução e transformação digital?
Izabela – Não só preparados, eles estão esperando que isso aconteça. O lançamento do nosso curso de metaverso bateu o Top10 no YouTube. isso é gigante. Tivemos mais de 100 mil pessoas nos assistindo. Nossos consumidores não estão parados esperando. Se eles não verem isso no seu veículo, vão procurar em outro. A Geração Z é uma geração que que espera experiência, personalização, que a empresa entenda exatamente o momento que ela está dizendo pra ofertar algo que faça sentido. O ramo editorial em si tem mudado muito por causa desse comportamento do consumidor. As pessoas aceitam ads, desde que faça sentido. Temos que acertar muito o momento em que o nosso cliente está para entregar o certo. Para nós, o desafio em tecnologia é o de que muitas vezes não reparamos o tanto de tecnologia existe por trás de algo que já usamos: como achar o restaurante ideal com menor tempo, para poder te manter informado do que está acontecendo no iFood; achar o Uber ideal; oferecer a acomodação ideal no Airbnb… tem um trabalho de tecnologia imenso. Essas empresas se destacam por estarem na vanguarda hoje. […] Acho que conseguir mostrar para o consumidor que estamos com essa tecnologia e temos correr dentro de casa, porque o cliente não está interessado em saber se é difícil ou não — ele quer ter. É nosso papel entender e fazer com que fique cada vez mais fácil. O time to market está muito menor.

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