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Comunicação

Branded content é velho, diz produtor de Me Chame pelo seu Nome

Rodrigo Teixeira, produtor de filmes aclamados pela crítica global, esteve no Festival do Clube de Criação para debater o papel das marcas como curadoras de contéudo


24 de setembro de 2018 - 11h00

A Cinemateca Brasileira foi sede do Festival do Clube de Criação, que reuniu, no último final de semana, profissionais de produtoras e agências para discutir os rumos do mercado criativo. O produtor cinematográfico Rodrigo Teixeira, responsável pela produção de longas como Me chame pelo seu nome, A Bruxa e Frances Ha, foi um dos destaques da programação de sábado, 22. Em uma conversa com Guga Ketzer, sócio da Suno United Creators, Rodrigo falou sobre os desafios para aproximar a publicidade da linguagem cinematográfica.

 

Me Chame Pelo Seu Nome foi vencedor do Oscar na categoria Melhor Roteiro Adaptado em 2018, e reconhecido em diversas premiações, entre elas o BAFTA e o Critic’s Choice Awards. Foto: Reprodução

Netflix e a era das “marcas curadoras”

Na avaliação de Rodrigo, o branded content é um conceito envelhecido. Ele acredita que, da maneira como vem sendo executados, os projetos de entretenimento de marca acabam criando filmes publicitários alongados, que não necessariamente colocam o entretenimento em primeiro lugar.

Por outro lado, ele defende uma vertente de conteúdo de marca mais ligada à curadoria e à compra de programação proprietária. “Associo o branded content muito mais a uma marca como a Netflix, por exemplo, que financia e compra conteúdo que tem a ver com a empresa, e assim consegue dizer muito sobre o que ela é”, avalia. Seguindo esta linha, ele afirmou que uma opção para marcas seria investir em curadores internos para criar e comprar uma programação proprietária de filmes, séries, peças de teatro ou até livros compatíveis com o universo da marca.

Assumindo riscos

O produtor disse ainda que a publicidade – e o setor audiovisual como um todo – precisam assumir mais riscos em relação ao teor dos projetos. Em um contexto de radicalismo político e mercado audiovisual dominado por grandes produções de super-heróis, ele afirma que marcas têm muito a aprender com filmes independentes e narrativas socialmente engajadas, que convidem o espectador a refletir sobre suas realidades.

“Ninguém queria investir em Me Chame Pelo Seu Nome porque achavam que o mercado não iria absorver o tema, uma história de amor entre dois homens”, exemplifica. Depois que o filme começou a estourar em festivais mundo afora, o interesse dos players pelo filme aumentou exponencialmente, conta o produtor.

Roteiro adaptado

Durante o debate, Rodrigo afirmou que é fácil perceber a diferença entre roteiros que vêm de profissionais de publicidade e materiais propostos por roteiristas de cinema. “O ritmo e o tempo colocado em um comercial e em um longa são muito diferentes. Não basta escrever um roteiro longo, mas que segue o formato da publicidade, onde as cenas não respiram e passa-se informação demais ao espectador. Vejo que falta um pouco de referência”, avalia.

“Existe um luxo no set de publicidade que não precisa existir. Já vi diretores premiados no exterior que são tratados com menos pompa do que diretores de publicidade no Brasil”, diz Rodrigo.

Por isso, pode ser difícil para diretores de publicidade fazerem a transição para o universo das séries e filmes, e vice-versa. “Pessoalmente, tenho muita dificuldade em fazer roteiros curtos, de 5 minutos ou 30 segundos”, por exemplo, conta.

Luxo publicitário

Tomando como base a experiência no exterior, Rodrigo afirma que o set de cinema também costuma ser diferente do set de publicidade. O primeiro, segundo ele, é muito menos luxuoso do que o ambiente publicitário. “Existe um luxo no set de publicidade que não precisa existir. Já vi diretores premiados no exterior que são tratados com menos pompa do que diretores de publicidade aqui. Fora do País, trabalhar com audiovisual é uma profissão como qualquer outra”, explica.

A ideia de fazer um bom filme com verbas enxutas também pode soar desafiadora para as agências e anunciantes, acostumadas a orçamentos mais robustos do que os dos produtores independentes. “Depois que fizemos Frances Ha, algumas marcas nos procuraram dizendo que gostariam de fazer coisas parecidas, o que é completamente possível, já que elas normalmente têm muito mais verba do que tivemos para fazer o filme”, exemplifica.

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