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Marketing

O digital por trás de relações experimentais

Relacionamentos Beta pautam comportamento das marcas, que precisam criar estratégias que as tornem desejáveis em termos de imagem e produtos


17 de agosto de 2018 - 10h00

Sair de casa sem o smartphone é provavelmente um contratempo maior do que ir para compromissos sem a carteira ou os documentos. A vida digital deixou de ser aquela que acontece atrás de uma tela e passou a fornecer experiências no mundo físico. Estar conectado se tornou pré-requisito e auxilia em atividades como pagar contas, procurar um emprego, abrir uma empresa ou arrumar um namorado. De olho nisso, a consultoria especializada no comportamento brasileiro Consumoteca busca entender como as novas ferramentas podem alterar as formas de relacionamento e o processo de manutenção de imagem das marcas. O estudo, realizado neste ano, incluiu um questionário online com mil respondentes; e entrevistas presenciais com diversos heavy users de plataformas digitais e pessoas que vivenciaram relações via aplicativos.

 

“Nos próximos anos, inovar mercadorias será um critério indispensável para estabelecer comunicação entre marcas e clientes”, diz Michel Alcoforado, antropólogo e sócio da Consumoteca (crédito: Fancycrave.com/Pexels)

As relações experimentais pautam a sociedade, segundo Michel Alcoforado, antropólogo e sócio da Consumoteca. A pesquisa aponta que, na contramão do aumento de inovações tecnológicas, o número de pessoas que encontram facilidades em criar pontos de contato com outros indivíduos diminuiu. Por conta das possibilidades geradas pelo ambiente digital, novas regras de etiqueta não verbalizadas surgem diariamente. De acordo com a consultoria, isso quer dizer que o ser humano sente necessidade de se sentir alguém importante no mundo e que o único caminho para não se decepcionar consigo mesmo é despertando o interesse de alguém . “Essa relação é chamada de Beta e apresenta alguns problemas como o surgimento de quadros de depressão e ansiedade nos jovens, que não entendem que a vida dos aplicativos não representa o real”, diz Michel.

Segundo o profissional, a autoestima da classe A é superior a da C, “porque, sem potencialidades financeiras, as pessoas não conseguem se enquadrar no padrão de vida apresentado na internet”. Em tempos de excesso de conteúdo e cobranças, as relações Beta carecem de feedbacks constantes. “As marcas, por exemplo, trabalham suas estratégias em busca de likes nas redes sociais. Cada vez mais, estão em busca de manter a audiência viva e de serem desejáveis”, aponta Michel.

Dentro desse contexto, o consumo brasileiro de produtos e marcas está relacionado à aquisição de produtos que atraiam a atenção de terceiros no digital. “Nos próximos anos, inovar mercadorias será um critério indispensável e forte para estabelecer comunicação entre marcas e clientes”, afirma. Assim como as pessoas, que criam personas diferentes para cada situação e assumem a responsabilidade de gerenciar a imagem em diversas áreas da vida, as marcas devem apostar em variados modos de relacionamento e formas de criar desejo no outro.

Selfies (59%); fotos de viagem (37%) e hobbies (35%) são alguns recursos usados para expor personalidades. De acordo com pesquisa da Consumoteca, as imagens ganharam força nas relações Beta. O desejo surge por meio de fragmentos que são revelados pouco a pouco nas redes sociais. Para o antropólogo e sócio da consultoria, o indivíduo relaciona-se primeiro com as fotos, uma vez que esse recurso cria uma carta de apresentação virtual que sinaliza se as pessoas podem avançar no conhecimento do próximo em outros espaços. Para Michel, a valorização de estilo de vida é um dos principais recursos para vendas de produtos.

“Para as pessoas, o que importa é entrar em contrato com diversas marcas, ou seja, não existe mais fidelidade”

Os relacionamentos Beta deram origem aos contratos invisíveis. De acordo com o estudo da Consumoteca, isso toma o tempo, a energia, as alegrias e as tristezas dos seres humanos, porque são relacionações não nomeadas, sem fim e início estabelecidos. Os contratos, originados por meio da internet, surgem por conta da vontade de experimentar muitas coisas ao mesmo tempo. “Para as pessoas, o que importa é entrar em contrato com diversas marcas, ou seja, não existe mais fidelidade”, aponta o executivo da consultoria. Para ele, quando uma pessoa acessa o perfil de um outro anunciante, não significa que ele abandonou sua marca, mas que estabeleceu relação com variadas empresas ao mesmo tempo.

*Crédito da foto no topo: Pixabay/Pexels

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