Eu tenho o cabelo duro, mas não o miolo mole
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Meio & Mensagem
21 de janeiro de 2013 - 10h14
No filme Paris – Manhatan (2012), de Sophie Lellouche, em cartaz no Brasil (40.686 ingressos até o dia 13 de janeiro), a personagem Alice é fascinada pela obra de Woody Allen, com quem estabelece diálogos imaginários, deduzindo as observações do ator/diretor para as situações de seu cotidiano parisiense.
A parte a correção do roteiro e da direção, o filme se pauta pelo frequente questionamento dos amigos e familiares a respeito da admiração de Alice pelo artista norte-americano, ou se preferirem, e nesse caso mais pertinente, o artista estadounidense. A empolgação por Woody Allen é tanta que a protagonista, proprietária de uma farmácia, indica seus filmes como forma de cura para os clientes.
É evidente a contrariedade dos personagens franceses com a devoção da Alice para um artista de cultura tão distinta, o que sugere reflexões sobre o verdadeiro sentido da globalização. Mais adaptado aos discursos do que às práticas, esse mundo globalizado é grande demais para ser aldeia e diferente demais para ser global.
Peguei o título desse artigo emprestado de um trecho da música Cabelo Duro de Itamar Assumpção (1949 – 2003), uma homenagem à brasilidade, que inspira a questionar se não está na hora de termos uma linguagem própria para a nossa propaganda, um traço comum que caracterize a forma de atuar (pesquisar, planejar e criar) tipicamente brasileira, sem os maneirismos importados. Um movimento.
Não será o primeiro. Em 1969 a agência Norton reuniu cinco criativos que se autodenominavam “os subversivos”. Eram eles: Neil Ferreira, Jarbas José de Souza, José Fontoura da Costa, Anibal Guastavino e Carlos Wagner de Moraes. Considero esses profissionais, suas posturas e suas criações a tradução do tropicalismo na propaganda.
Os anúncios que vemos hoje na mídia não refletem um jeito brasileiro de se comunicar, portanto me incluo no coro dos inconformados amigos de Alice. No meu caso, à procura de uma propaganda brasileira, e para não fugir do filme, a propaganda Oiapoque – Chuí.
Não acredito que isso acontecerá da noite para o dia, tão pouco prosperará nas agências de negócios em que se transformaram as empresas de comunicação no Brasil. Mas acredito que as escolas de publicidade podem experimentar o desafio de apostar em uma linguagem brasileira de criação publicitária e iniciar a formação de uma nova geração de profissionais de propaganda, afinal, como diz a canção de Itamar Assumpção: Eu tenho cabelo duro / Mas não o miolo mole / Sou afro brasileiro puro / É mulata minha prole /Não vivo em cima do muro / Da canga meu som me abole / Desaforo eu não engulo / Comigo é o freguês que escolhe / Sushi com chuchu misturo / Quibebe com raviole / Chopp claro com escuro / Empada com rocambole /Tudo que é falso esconjuro / Seja flerte ou love story / Quanto a ter porto seguro / Tem sempre alguém que me acolhe / É com ervas que me curo / Caso algum tombo me esfole / Em se tratando de apuro / Meu pai Xangô me socorre.
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