Por que notícia falsa faz tanto sucesso?
Para Demetrius Paparounis, a falta de experiência em discernir o verdadeiro do falso, faz com que os novos leitores formem um terreno fértil para a proliferação da boataria
Para Demetrius Paparounis, a falta de experiência em discernir o verdadeiro do falso, faz com que os novos leitores formem um terreno fértil para a proliferação da boataria
Meio & Mensagem
22 de outubro de 2013 - 10h50
O Brasil se tornou e deve continuar a ser, mesmo que por algum tempo, o paraíso para a divulgação de notícias falsas na internet. Poderia ser engraçado, não fossem as vítimas. E justamente por denegrir imagens, é bem provável que a indústria da boataria ganhe ainda mais força no ano que vem, por conta das eleições presidenciais.
A vítima mais recente foi a secretária Maria do Rosário, dos Direitos Humanos, que teria defendido aquele assaltante que roubou uma moto e foi baleado – cena gravada em vídeo e viralizada na internet. Mas a lista de histórias semelhantes é extensa. A notória Suzane Von Richthofen teria virado evangélica e saído da cadeia. Com a ajuda do deputado-pastor Marco Feliciano, a jovem condenada por matar os pais seria agora presidente da Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados.
Marta Suplicy, à frente do Ministério da Cultura, teria assinado um cheque de R$ 4 milhões para criar o Memorial do Funk e um monumento ao derrière das funkeiras. O cacique Raoni teria desabado no choro ao ver que o governo continuaria a construir a Usina de Belo Monte.
O sucesso desses boatos certamente está relacionado com a força das ideologias e dos preconceitos. Quem acha que “bandido bom é bandido morto” tem predisposição a acreditar que a “turma dos direitos humanos” vai aprontar mais uma. Assim como quem odeia este ou aquele partido político também está mais propenso a se deixar enganar por notícias que confirmem suas paixões.
Mas, no Brasil, existe outro fator que favorece esse fenômeno. Aqui, a leitura de jornais e revistas sempre foi muito restrita – e apesar disso, ou talvez justamente por isso, a mídia impressa sempre desfrutou de grande prestígio. Não é à toa que campanhas políticas na televisão sempre utilizam imagens de jornais e revistas para fortalecer suas afirmações. Se está escrito, é verdade – uma tradição que guarda óbvia relação com os livros sagrados.
Com a popularização da internet e, sobretudo, do Facebook, o hábito da leitura se difundiu rapidamente. Hoje, 50 milhões de brasileiros acessam o Facebook todo santo dia! Sem muita experiência em discernir o verdadeiro do falso, os novos leitores formam um terreno fértil para a proliferação da boataria – que invariavelmente vem embrulhada em forma de jornal, revista ou site de notícias.
Do outro lado, há dois tipos distintos de boateiros. Um faz isso como diversão, só para ver suas invenções se espalharem, como no caso da mulher que teria engolido o celular para esconder a mensagem do amante; já o outro utiliza esse recurso para destruir adversários. É essa segunda vertente que deve jogar pesado nas eleições do próximo ano.
Como resolver o problema? Chamar a polícia e punir os culpados pode até fazer parte da solução. Mas o que vai resolver mesmo é a experiência. Com o tempo, as pessoas vão aprender a distinguir as boas fontes e a evitar o engano involuntário.
Teremos uma população muito mais descrente na notícia escrita – mas isso não é de todo ruim.
*Demetrius Paparounis é jornalista e consultor em comunicação para a nova classe média
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