Pyr Marcondes
26 de fevereiro de 2019 - 7h55
A indústria mundial de telecom se reúne anualmente em Barcelona para discutir-se a si mesma no MWC.
De alguns anos para cá, o evento transformou-se de um evento de tecnologias de infra-estrutura de redes, como nasceu, para um encontro das grandes tendências da tecnologia mobile, entendido mobile como tudo que se move na porra do mundo. Moveu, tá lá. De preferência, e cada vez mais, anabolizado por tecnologias que promovam a interatividade em tempo real e a onipresença.
Bom, o tema-chave dos últimos dois ou três anos tem sido o 5G. Por motivos óbvios. Será ele que virá para, é o que se espera, salvar de alguma forma as telecons de um destino cruel que se esboça a sua frente, que é como resolver o problema de um setor que tem alto grau de comprometimento de capital, operações nem sempre no azul, necessidade de investimentos recorrentes enormes e receitas tendendo vertiginosamente para baixo, naquilo que sempre sustentou as telcos, que foi voz e dados.
O 5G coloca possibilidade dessas companhias integrarem-se em outros elos da cadeia de telecomunicação, com ênfase na palavra comunicação. Elas tem diante de si a possibilidade de virarem players importantes no mundo dos dados e da distribuição de conteúdos, coisa que nunca fizeram direito. Netflix está aí para ensinar.
Mas para elas não é um movimento fácil.
Ano passado, os presidentes das grandes companhias mundiais do setor repetiram-se em seus discursos no palco afirmando que é a hora do 5G, dados e do conteúdo. Tudo isso anabolizado com a inimaginável chegada da Internet das Coisas, em que os objetos vão poder estar todos conectados, ampliando a possibilidade de potencialização e monetização de dados e interatividade num limite que nem conseguimos desenhar com clareza agora.
Pois já nos primeiros painéis deste ano, também na voz dos grandes presidentes de algumas das grandes empresa internacionais de telecom, a lenga-lenga continua. 5G, dados, conteúdo, IoT, etc.
O tema geral do evento, Welcome to the Era of Intelligent Connectivity, já revela a preocupação dos organizadores. Não é mais apenas conectar, mas conectar de forma inteligente. Isso quer dizer… dados.
Há uma choradeira regulatória geral, já que nenhum País tem ainda in place uma legislação que regule standards e procedimentos em cada mercado. Sendo que cada mercado é um mercado, cada continente tem suas características e está em um determinado ponto da evolução tecnológica.É uma suruba.
Mas tem também a dificuldade central, que é exatamente essas empresas encontrarem novos modelos claros de receita fora de sua tradicional caixinha de Pandora, que lhes garantiu grana até aqui (nem sempre a conta fechando, diga-se de passagem) suas receitas.
O MWC 2019 tem como verdadeiras novidades os gadgets e aparelhos celulares de toda natureza, com novos features, como telas dobráveis, 5 câmeras, futricas desse tipo. Tem sempre VR, AR e MR também, além dos fascinantes carros conectados. Tudo muito interessante, mas apenas gororobas para encantar o usuário e comprador de aparelhos de telefonia, autos e quetais, que asseguram a rentabilidade dos fabricantes de aparelhos e automóveis, mas que não ajudam de fato muito nas contas a pagar das operadoras. E sem elas, esses gadgets todos nem ligariam, não vamos nos esquecer.
Assim, vamos acompanhar o MWC 2019 porque ele segue sendo o evento que, em minha opinião, traz de fato a solução de infra que vai mobilizar, com perdão da palavra, o mundo. Tudo que acontece na NRF, na CES, no SXSW, etc., depende do que se discute todo ano em Barcelona. Acompanhar é necessário. Vou dar highlights aqui.