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Como a Inteligência Artificial pode ajudar o Governo a ser mais eficiente?

A Inteligência Artificial será a oportunidade, que não pode ser perdida, da administração pública melhorar a qualidade de atendimento e os índices de satisfação dos cidadãos.


28 de março de 2018 - 8h00

 

 

Salomão Filho (*)

 

Fonte da imagem: recode

 

Que o brasileiro não está (talvez nunca esteve) feliz com os serviços públicos que recebe em troca dos impostos que paga não é novidade. Uma pesquisa da Ipsos apontou que somos o segundo povo mais insatisfeito com o atendimento prestado pelo Executivo com um índice de 70%, apenas 1% atrás dos mexicanos, que lideram o ranking da reclamação.

 

Com notas de 0 a 10 em uma outra pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas realizada em São Paulo e no Rio de Janeiro, os piores serviços públicos avaliados foram saúde, com nota 3,2, e segurança, com 3,6. Transporte recebeu 4,7 e universidades ficou com 4,6, mesma nota de escolas e creches.

 

Caso a média fosse 5 estavam todos reprovados.

 

Os números mostram que a equação (altos impostos + má gestão dos recursos públicos + serviços de baixa qualidade) = (insatisfação + desperdício + corrupção). Essencialmente, o maior desafio na gestão pública está na captura e análise de dados para estruturar planejamentos mais eficazes que resultem em um melhor atendimento ao cidadão.

 

Processar exabytes de informações e transformá-las em indicadores que aprimorem e acelerem a engrenagem da máquina pública se tornou o maior desafio dos governantes. Justiça seja feita, o e-gov (governo eletrônico) já vem fazendo avanços importantes no Brasil com a estruturação de serviços em canais digitais.

 

Mas o cidadão brasileiro ainda passa muitas horas na fila e muitas vezes volta para casa com as mãos abanando. Paga tributos altos e não consegue atendimento nos hospitais, sofre com o transporte público e lamenta não encontrar uma escola que garanta uma educação de qualidade aos filhos.

 

Se quiser dar um salto e sair da lanterna nos rankings da qualidade dos serviços públicos, nossos próximos governantes precisarão definir políticas públicas claras para investimentos em tecnologia, especialmente em setores que ajudem a desburocratizar e melhorar a produtividade, trazendo, em outras palavras, inteligência aos processos administrativos e uma melhor governança.

 

Até aqui a Internet nos permitiu construir uma enorme base de dados. Nestas duas décadas em que nos tornamos uma sociedade conectada, colocamos nos servidores e depois na nuvem um acervo de conhecimento que nos levará agora, com o avanço da Inteligência Artificial, para uma nova Era.

 

As máquinas (mais e mais) inteligentes estão avançando em inúmeros setores da iniciativa privada – no mercado financeiro, no agronegócio, na saúde, na educação, na indústria automotiva. Desnecessário dizer que os próximos anos, décadas serão decisivos na germinação de uma nova economia resultante da revolução digital – a economia dos algoritmos.

 

E nos Governos, em todas as esferas, não poderá (esperemos que não) ser diferente.

 

A tendência mundial, que o Brasil não pode fechar os olhos, é implementar serviços públicos alicerçados pela Inteligência Artificial para atender os contribuintes. Um estudo do Ash Center for Democratic Governance and Innovation da Harvard Kennedy School indica que os benefícios mais óbvios no uso da IA pela gestão pública são aqueles que possam “reduzir encargos administrativos, ajudar a resolver os problemas de alocação de recursos e assumir tarefas significativamente complexas” e indica que hoje os serviços estão concentrados em cinco categorias – responder questões, preencher e pesquisar documentos, gerenciamento de pedidos, tradução e elaboração de documentos.

 

Mundo afora, governos estão adotando IA e colocando em operação chatbots que funcionam como servidores públicos para atender a população. Os bots estão ajudando a responder a maioria das dúvidas mais frequentes, liberando os funcionários para atender as mais complexas. Com o tempo, provavelmente estes robôs conseguirão interpretar os sentimentos dos cidadãos e entender melhor o que desejam.

 

E o que mais a IA pode fazer na área governamental?

 

As possibilidades são muitas: colocar nas ruas veículos autônomos para o transporte pública; evitar fraudes na requisição de benefícios e em obras públicas (será o desejado fim da corrupção?); evitar quebras no mercado financeiro; identificar riscos de segurança e problemas no trânsito; e prevenir ciberataques.

 

Quem está na frente?

 

Entre os países que vêm realizando os maiores investimentos em Inteligência Artificial estão o Canadá, que lançou o Pan-Canadian Artificial Intelligence Strategy, liderado pelo Canadian Institute for Advanced Research, com US$ 98,7 milhões em caixa aportados pelo governo canadense para colocar o País entre os líderes no desenvolvimento de IA; a ambiciosa China, que planeja avançar para assumir a primeira posição até 2030 como centro de inovação, criando uma indústria de IA avaliada em US$ 147,8 bilhões; o Japão, que criou o Artificial Intelligence Technology Strategy Council para estimular pesquisa e desenvolvimento através da integração de indústria, governo e universidades; o Reino Unido, que reservou US$ 22,3 milhões em fundos para universidades desenvolverem tecnologias de IA; e os Estados Unidos, que também vêm investindo pesado em pesquisas para fazer a transição para a economia algoritmizada.

 

A Inteligência Artificial será a oportunidade, que não pode ser perdida, da administração pública melhorar a qualidade de atendimento e os índices de satisfação dos cidadãos. Porém, todo cuidado é pouco, o estudo da Harvard também sinaliza seis estratégias que devem ser adotadas na implantação de projetos de IA pelos gestores públicos: estruturar um programa baseado em metas e centrado no cidadão; receber sugestões do cidadão; desenvolver em cima de recursos já existentes; cuidar da privacidade dos dados; eliminar riscos éticos e evitar a total autonomia da IA para tomada de decisões; e aumentar o número de funcionários ao invés de reduzi-los.

 

Se o Brasil quiser melhorar seus índices é bom seguir estes passos e não ignorar os avanços da Inteligência Artificial. Ou continuará entre os piores alunos da classe.

 

(*) Salomão Filho é investidor em startups de tecnologia e sócio da

Stradigi AI, empresa canadense desenvolvedora de soluções de Inteligência Artificial.

 

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