Fabio Caveira: “Recuperação chinesa será rápida”

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Fabio Caveira: “Recuperação chinesa será rápida”

Diretor de arte da agência in house da Oppo, publicitário brasileiro analisa a retomada da economia e do mercado publicitário chinês


23 de março de 2020 - 13h02

China foi o primeiro país a colocar em prática plano de quarentena para conter a disseminação do Covid-19 (Crédito da imagem: Kevin Frayer_GettyImages)

País de origem da pandemia que neste momento permeia todos os continentes, a China foi a primeira nação a colocar as cidades em bloqueio e a população em quarentena para impedir a disseminação do Covid-19. Automaticamente, o movimento que começou em janeiro obrigou as agências locais a adotarem o modelo home office. Depois de mais de dois meses de trabalho remoto no país, onde é diretor de arte da operação in house da gigante de produtos eletrônicos Oppo, o brasileiro Fabio Caveira voltou no começo deste mês de março ao escritório que fica em Shenzhen, metrópole que liga Hong Kong ao continente chinês. Na entrevista a seguir, o publicitário explica como o país asiático encara o coronavírus e quais são os seus impactos no mercado local.

M&M — Qual é a situação no escritório de vocês? As coisas estão se normalizando?
F
abio — Desde que voltamos, tivemos que nos acostumar a preencher um relatório de saúde online diário para permitir o acesso à empresa. Esses dados são cruzados com outros do governo e, por incrível que pareça, funciona. Todo dia recebemos duas máscaras, que são desbloqueadas por um QR code e temos álcool gel em elevadores e locais essenciais. Os andares são limpos de hora em hora e a temperatura de todos, sem exceção, é checada de tempos em tempos. Apesar disso, a situação hoje é bem próxima do normal, as pessoas já circulam novamente pelas ruas, scooters cruzam a cidade loucamente e o ritmo frenético volta a reinar. Como foi deixado claro desde o começo, o maior problema nunca foi apenas o vírus em si, mas a propagação de informações não acuradas sobre o problema. Tendo isso em mente, informações oficiais foram e continuam a ser divididas com a população, em chinês e em inglês, e circulam via WeChat, uma espécie de WhatsApp, com tudo que você puder imaginar em um único aplicativo.

M&M — Houve algum impacto direto em campanhas e projetos da agência?
Fabio — A Oppo, assim como quase todas as gigantes da área, estava com um grande evento preparado para o lançamento de um novo aparelho na maior feira de mobile do mundo em Barcelona, a Mobile World Congress (MWC). O evento foi cancelado e gerou enormes prejuízos para todo o setor. Todo o trabalho de meses foi jogado fora e todos os lançamentos que viriam a reboque tiveram que ser repensados. Outros lançamentos que seriam feitos na região da Ásia Pacífico também foram adiados em um primeiro momento. A única vantagem foi que tivemos mais tempo para pensar na estratégia e material a ser entregue e finalizado. Hoje a situação está praticamente resolvida, até porque muito dos trabalhos feitos pela empresa são planejados com muita antecedência e os desvios de rotas puderam ser ajustados ao se analisar o cenário atual.

M&M — Como está o clima e o sentimento das pessoas e do governo no país?
Fabio —
As primeiras providências são sempre as mais duras, mas necessárias. Todos os serviços e empresas foram obrigadas a parar por tempo indefinido. Pessoas perderam parcialmente o direito de ir e vir e, em um primeiro momento, o desconforto era evidente. Mas o governo foi rápido, bloqueou cidades, construiu hospitais em tempo recorde, criou um sistema de checagem diária da saúde de seus cidadãos e se preparou para o pior. Desde então, as autoridades passaram a exigir que as pessoas reportem seu estado de saúde por meio de um questionário online, e a partir das respostas você recebia um QR code vermelho, amarelo ou verde que autorizava o seu acesso, ou não, a diversos locais. Máscaras viraram item obrigatório em todos os lugares, pessoas com possível infecção pelo vírus devem reportar o caso e se dirigir a clínicas e hospitais específicos. O processo imposto pelo governo é seguido à risca até hoje, até porque as penalidades são duras, variando desde três anos de reclusão até a pena de morte. Desabastecimento? Corrida aos supermercados? Ágio em produtos essenciais? O país se uniu, existe uma agenda em comum. Ficou claro para mim que a China, diferentemente de muitos países do Ocidente, é focada no bem coletivo em detrimento do individual.

M&M — De que maneira essa pandemia afetou até agora a economia chinesa?
Fabio —
 O governo acenou com ampla linha de crédito, renegociação de dívidas e injetando dinheiro na economia em geral, evitando assim uma catástrofe. Mas, como a situação ainda é muito recente, é difícil quantificar o tamanho do prejuízo e quais mercados foram mais afetados e ainda vão ser. Uma coisa é certa, a China tem um mercado interno gigantesco. Estamos falando de um universo de mais de 1,3 bilhão de pessoas, o que por si só dá fôlego à economia do país. Quanto a problemas dessa autonomia, a China se basta, então me parece que a recuperação se dará de maneira mais rápida do que no restante do mundo.

M&M — Quais foram os impactos no comportamento de consumo?
Fabio —
 A economia se reorganizou rapidamente e a sociedade parece se adaptar tão rápido quanto. Novos meios pareceram surgir, como a educação online, o boom dos serviços de food delivery e o trabalho remoto, entre outros. O hábito de se comprar online, que é uma febre da sociedade de consumo chinesa, parece ter se consolidado de vez e praticamente anunciado a morte dos sistemas tradicionais de compra e venda. Os celulares na China são quase uma extensão do corpo das pessoas, nunca presenciei nada parecido e foi a partir dele que a sociedade se mobilizou.

Crédito da imagem de topo: DKosig/iStock

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