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A água vai batendo e os privilégios vão se corroendo

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Ponto de vista

A água vai batendo e os privilégios vão se corroendo


3 de julho de 2013 - 11h22

Nem Julio Verne seria capaz de prever o efeito da hiperconectividade Twitter, smartphones, Facebook e afins na nossa sociedade que está minando o mundo como a gente conheceu. O mercado de comunicação, como não poderia ser diferente, está em franca mudança, rumo ao buraco negro desconhecido.

O simples fato de alguém tuitar para Obama, Justin Bieber ou um deputado pé de chinelo, parece a primeira vista algo inofensivo, mas a revolução que está em curso, mostra que não é bem assim. O fenômeno vai desde pessoas que não buscam mais se hospedar em hotéis numa viagem e preferem arrumar um apartamento no Air BNB, revoluções como a que assistimos na rua, até na forma de consumir informação. Se antes era difícil encontrar um texto mais ousado, porque o departamento comercial de uma editora ou emissora brecava, a mídia Ninja, novos profissionais ousados e inusitados, jovens revoltados, ou demitidos rancorosos batem a porta da realidade. Se antes um jovem descobria a sexualidade comprando revista pornográfica escondido dos pais, hoje nenhum adulto consegue direito esconder da criança o acesso a pornografia online, que faliu com a maior parte dessa indústria e hoje permite que qualquer um vire ator pornô abrindo sua webcam para o planeta inteiro, dialogando e seguindo ordens de ilustres anônimos.

O sucesso dos novos canais de humor na internet, mostra que o público quer sim ter acesso a um conteúdo, que não passe pelo crivo (leia-se censura) de um departamento comercial de uma grande emissora. O público quer poder rir e zoar da operadora de celular, que vende mas não entrega, políticos que fazem o mesmo. A audiência quer questionar a lógica da mídia, e está meio cansada de pagar preços abusivos por conta de impostos e mídias físicas na distribuição de filmes, ou pelo simples roubo de distribuidores aos artistas geradores de copyright.

As marcas parecem se assustar e curtir, buscando novas formas de seduzir o público, mas francamente ainda num processo de barata meio tonta, sem saber para onde correr, mas fingindo que sabe exatamente para onde está indo, para ninguém perder o emprego ou a pose.

Comercial não pode ter palavrão, sangue nem pensar, não pode ser imoral, pornográfico, escatológico ou falar de maconha. Até quando? Pelas recentes empreitadas de algumas marcas, parece que é por pouco tempo. O de sempre cansou e a hiperconectividade apresenta novas possibilidades mais sedutoras e ousadas.

Fico me perguntando, o que vai acontecer com as grandes agências, com grandes BVs multilaterais, grandes salários para profissionais de criação que não podem criar nada que vá assustar a dona Maria que participa das pesquisas comendo coxinhas. Todos eles sentados nas suas cadeiras de design num ambiente caro que busca ser moderno e cool, mas que na verdade já parece a nova temporada de Mad Men.

Se antes para fazer um filme era preciso uma pequena fortuna, para sorte de uns e azar de outros, hoje já não é mais. A direção ou fotografia de filmes não parece algo mais tão inatingível e cheia de fetiches como era, submetida a conchavos com locadoras ou sindicados gordos. A trinca 5D, final Cut e boas idéias assusta muitos e muito; os bundões acomodados nos seus privilégios. O 171 que alguns passavam nos clientes, não tá colando mais tão fácil quanto antigamente.

O refluxo disso são as velhas estruturas sendo corroídas pela maresia do novo, e claro, os oportunistas, que vendem o novo, sem ter capacidade para tal. Da mesma forma que o petit gateau virou moda nos anos 90 nas sobremesas desbancando o creme de papaya com licor de cassis, da mesma forma que todo José Mané que acha que porque gosta de música pode ser DJ ou diretor, as ondas batem sem que ninguém saiba honestamente ao certo onde vamos parar. Enquanto isso, assistimos palestras e fotos de futurólogos sinceros, que não conseguem nem fazer astrologia.

Fernando Grostein Andrade, 32, é cineasta, sócio fundador da Spray Filmes, diretor de filmes publicitários e autor dos documentários Quebrando o Tabu, Breaking The Taboo e Coração Vagabundo 

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