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Comunicação

“Haverá mais mudança nos próximos 5 anos do que nos últimos 30”

Arthur Sadoun, CEO do Publicis Groupe, fala ao Meio & Mensagem sobre o futuro das holdings e seus planos para liderar o grupo em meio à transformação do mercado


18 de abril de 2018 - 8h00

Arthur Sadoun, chairman e CEO do Publicis Groupe (Crédito: Arthur Delloye)

A saída de Martin Sorrell do comando do WPP no último sábado, 14, reacendeu como nunca as discussões sobre o rumo das holdings e o papel da indústria. Neste sentido, Arthur Sadoun carrega algumas marcas que naturalmente o colocam como uma figura central designada a repensar o futuro da atividade publicitária: é o mais jovem CEO a presidir uma grande grupo (tem 46 anos), o Publicis Groupe, fundado há 92 e que foi comandado antes somente pelo próprio fundador, Marcel Bleustein-Blanchet, e depois por Maurice Lévy. O sopro de nova geração veio tão logo assumiu os títulos de presidente e chairman, ao anunciar a ausência das agências da holding nas premiações do mercado durante a realização do maior evento do mercado, o Festival de Cannes, em junho passado. Uma das principais razões para a notória decisão é o investimento na plataforma de inteligência artificial Marcel, que promete transformar o dia a dia de toda a equipe da companhia. Nos meses seguintes, o Publicis encerraria 2017 com crescimento de 2,2% no último trimestre, atraindo olhares otimistas dos investidores em relação ao desempenho do grupo em 2018. Leia a seguir um trecho da entrevista concedida por Sadoun, publicada na edição de 40 anos de Meio & Mensagem:

Meio & Mensagem – Durante a apresentação do Publicis aos investidores em março, você disse que a Publicis é a única holding com chances de ser bem-sucedida. Você também afirmou que a transformação do mercado resultará em poucos vencedores. Na sua visão, as outras holdings, especialmente o WPP e o Omnicom, não estão se preparando da maneira correta para o futuro? Por que a Publicis está mais capacitada do que os concorrentes a longo prazo?

Arthur Sadoun – Nunca comento sobre agências em particular. Não quis dizer que a Publicis é a única que pode ter sucesso. Disse que somos o melhor lugar quando se analisa nossos assets e nosso modelo. Uma verdade é que quando se observa como o mercado está mudando, e a necessidade absoluta de criar convergência entre marketing e transformação de negócios, somos a única companhia que está operando essa mudança e se adaptando a esse novo mundo. E não é algo específico da nossa indústria, haverá mais mudança nos próximos cinco anos do que vimos nos últimos 30, então, por definição, em todas as indústrias, sobreviverão aquelas que passarem pela transformação. As outras vão morrer. Por isso nosso plano se chama “Sprint to the Future”.

M&M – Após o casamento malsucedido entre Publicis e Omnicom, o mercado global ficou à espera de novos movimentos de união entre gigantes. Com os recentes resultados ruins de algumas holdings, fusões entre gigantes são um caminho possível no curto prazo?

Sadoun – Não sei se no curto prazo, mas não há dúvida de que veremos isso acontecer no longo prazo. Sei que isso é inevitável no longo prazo, porque quando se analisa o que os clientes estão buscando e o modelo end to end que pode ser implementado, haverá consolidação.

M&M – E uma possível compra de uma grande holding por uma consultoria como a Accenture, como já foi aventado por analistas do mercado. Qual é a possibilidade real que isso aconteça, na sua opinião?

Sadoun – O problema com aquisições é que deve-se sempre cuidar da cultura. Parece-me que estão mirando pequenas aquisições porque aquisições muito grandes seriam demasiadamente difíceis sob o ponto de vista da cultura. Então, minha sensação é de que as consultorias partirão para pequenas aquisições porque grandes acordos dificultariam muito a integração.

M&M – Você começou seu mandato, em junho do ano passado, com a missão desafiadora de comunicar à indústria que nenhuma da agência do grupo participaria de Cannes este ano. Como essa decisão foi articulada?

Sadoun – O que anunciei quando assumi minha atual função não foi que não iríamos para Cannes, e sim que criaríamos uma plataforma única, a Marcel, que daria oportunidades para todos nossos talentos no mundo inteiro, para que aprendessem muito mais sobre o negócio, compartilhassem e tivessem, principalmente, mais oportunidade para criar. Queremos garantir que todos os talentos no Brasil tenham a mesma oportunidade de aprendizado para que assim a gente possa criar uma rede de talento global e possam trabalham em briefings ótimos e que possam ser visíveis no mundo inteiro. Em alguns meses, quem trabalha na Publicis no Brasil pode ser o próximo a criar o anúncio do Super Bowl. Por causa disso, estamos adotando uma série de medidas que incluem não ir a Cannes no ano que vem. Estamos organizando um incrível seminário em Paris com mais de 450 gerentes, para lançar a Marcel, olhar para o que alcançamos, celebrar nosso trabalho, e olhar para o direcionamento que estamos tomando rumo ao futuro. Não é sobre não ir a Cannes, mas criar algo que mudará totalmente nossa forma de trabalhar, dando oportunidades a todo mundo e garantindo que estamos envolvendo toda a equipe na reinvenção da indústria. Essa indústria precisa mudar e nós estamos comprometidos com essa mudança.

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