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Opinião – Gian Martinez: Tenha filhos

No mundo dos negócios, assim como na vida, criar é só o começo. Garantir que seu filho vá crescer forte e saudável são outros 500


15 de abril de 2014 - 8h37

Por Gian Martinez (*)

Expectativa, medo, amor, cuidado, trabalho, cansaço, abraço, coração apertado, preocupação, mais trabalho, carinho, amor, paixão, família, sábado, atrasado, cabelo bagunçado, almoço importante, descansar um instante, café para ficar acordado, ligar, atender, deixar sempre recado, contas bem caras, ficar apertado, sempre com mais trabalho, experimentar algo novo, ensinar o que sabe e aprender todo dia que não sabe de nada, continuar descobrindo, sempre ouvindo, sem se sentir coibido, dizer a verdade, saber ficar calado, garantir que se sinta prestigiado, respeitar os outros, pedir por favor, falar obrigado, abraçar o erro, ficar acordado, sonhar bem grande, levantar a cabeça, deixar que se amem, não deixar que se percam, ter paciência com quem pensa o contrário, entender suas escolhas, continuar aberto, explorar o mundo, se jogar por um segundo, sem nunca se esquecer do trabalho, abraçar a rotina, reinventar todo dia, aprender, ajudar, crescer, criar, cocriar.

Essas foram algumas das sensações que tive nesse tempo como pai babão. Sebastian tem quase dois anos. Como se não bastasse, decidi empreender no mesmo período. E foi vivendo essas coisas juntas que entendi por que usamos a expressão “vamos criar” quando nos referimos a uma ideia, um projeto, uma obra, uma empresa, um serviço, um produto, uma solução. Quando empreendemos estamos, de um jeito ou de outro, criando um novo filho.

Sou um pai apaixonado. Choro quando estou longe, me emociono quando agarrado, tento passar o maior tempo possível junto e me orgulho de cada uma das suas conquistas. É uma experiência que me dá prazer e sentido de viver. Porém, não posso negar que ser pai dá um baita trabalho. São muitas noites mal dormidas, incertezas, angústias e tensões. Que são amplamente compensados por um amor incondicional que jamais vou conseguir traduzir em palavras.

Mas o fato é que esse lado menos reluzente da moeda não é muito compartilhado. Não conhecê-lo pode criar problemas para os pais de primeira viagem que, em geral, têm suas expectativas infladas e desconectadas com a rea­lidade. No mundo dos negócios, assim como na vida, criar é só o começo. Garantir que seu filho vá crescer forte e saudável são outros 500.

Geralmente, quando falamos de inovação e empreendedorismo a tendência é supervalorizarmos o lado romântico e bonito da coisa. Isso é sensacional, pois constrói uma memória positiva que estimula as próximas gerações a continuar inovando e empreendendo. Porém, encarar esse outro lado pode tornar as coisas muito mais fáceis para quem está prestes a colocar um filho no mundo. Lembrando que estou falando de todo tipo de filho (ideia, projeto, obra, empresa, serviço, produto, solução, etc).

Este filme da Coca-Cola argentina é uma bela ilustração do que estou dizendo:

Não é à toa que um mantra no mundo das startups é que “execução é tudo”. Vale ler o relato do Gurbaksh Chahal.

Ter um filho é um projeto de vida, de aprendizado permanente. Ser pai é viver em Beta. É absorver e se adequar constantemente ao contexto novo de cada dia. E, assim, crescer.

Por maiores preparativos e planejamento que façamos no período de gestação é apenas depois que o filho vem ao mundo que realizamos a magnitude da empreitada. Ali percebemos que entramos numa jornada permanente de descobertas. De ambas as partes. Enquanto tento ser um pai cada vez melhor, ele tenta caminhar, falar, correr, brincar, conversar melhor. É uma experiência maravilhosa de troca onde aprendemos tanto quanto ensinamos.

Um dia tive uma daquelas conversas reveladoras com meu pai. Perguntei: do alto dos seus 75 anos, qual é o maior aprendizado que tirou da vida. Sem pestanejar ele citou Sócrates: “aprendi que eu só sei que nada sei”.

Ele me explicou também que entender isso o mantinha vivo, curioso e com vontade de continuar descobrindo o mundo. Era o que alimentava a sua paixão pela vida. Talvez por isso siga firme e forte.

Nunca conheci um grande empreendedor (daqueles que você realmente admira) que não tivesse essa mesma fome por descobertas. Fome que alimenta a paixão por aquilo que fazem. Da Vinci, Beethoven, Kubrick, Jobs. Todos eram exploradores apaixonados.

Tenho aprendido muito recentemente. Aprendido que tenho muito que aprender. Mas se tem uma coisa que posso recomendar com convicção é: tenha filhos.

* Gian Martinez é cofundador da Coca-Cola Accelerator e escreve para o Meio & Mensagem mensalmente. Este artigo está publicado na edição 1605, de 14 de abril de 2014, de Meio & Mensagem, disponível nas versões impressa ou para tablets Apple e Android.

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