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Sem pé, sem cabeça e sem emoção

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Ponto de vista

Sem pé, sem cabeça e sem emoção


1 de outubro de 2012 - 1h14

De tempos em tempos (mais do que ano sim, ano não) visito a Bienal de Artes de São Paulo para confirmar minha tese de que “quem viu uma bienal, viu todas”.

A tese tem um Q de ignorância proposital, necessária no contexto em que qualquer bobagem assume importância desproporcional. Agora mesmo todos nós brasileiros engordamos o cofrinho de um ex-jogador de futebol que sem propõe a emagrecer na frente das câmeras e chamamos isso de superação.

A Trigésima Bienal de Artes de São Paulo decepciona. É exatamente o que não se espera dela. Um conjunto de propostas pessoais que transformam o visitante, na maioria do percurso, em um passivo espectador.

Visito a Bienal à procura de referências para aplicá-las na minha vida profissional ou em sala de aula, portanto estou ávido por aquilo que me encanta, me impressiona, me desafia ou me enoja.

A sexagenária bienal não me fez de bobo porque eu não entendi suas propostas, e sim porque ela não tem propostas, nem aquelas que provocam a nossa ira, o nosso ódio. Há uma dissociação entre os artistas, suas propostas e o público, esse último, sempre generoso, à procura de uma surpresa que, depois da cansativa visita, descobre que não existe.

Parece que tudo já está resolvido sob o manto da sensibilidade exclusiva do artista. Ele se basta e não resta nada para quem visita a exposição. O que é incompreensível aos olhos dos mortais assim o é não como conseqüência das experiências do autor levadas às ultimas conseqüências e depois compartilhadas com a platéia, custe o que custar, é voluntariosamente preparada para não provocar nenhuma emoção.

A trigésima bienal reproduz o ambiente das redes sociais onde o difusor cospe conteúdos desconexos alheios à audiência generosamente chamada de “amigos”, as emoções são comoditizadas e se limitam às fotos e o cúmulo de apropriação da mensagem é uma expressão que em português tem significado asséptico, curtir.

A bienal tinha oportunidade de falar e preferiu ficar calada e assim permanecerá até o ano da Copa em que, como todos sabemos, tudo será melhor e, porque não, mais magro. 

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