A TV paga e o desafio da brasilidade
Marco regulatório, que impõe uma cota mínima de produção nacional na programação televisiva é uma das principais questões que movimenta a indústria no Brasil
Marco regulatório, que impõe uma cota mínima de produção nacional na programação televisiva é uma das principais questões que movimenta a indústria no Brasil
Bárbara Sacchitiello
1 de agosto de 2012 - 5h30
A indústria de TV por assinatura no Brasil passa por um momento de profundas transformações. De um lado, a base de assinantes continua crescendo em um ritmo considerável e deve, em poucos anos, ultrapassar a marca dos 30 milhões de pessoas. Do outro, o novo marco regulatório do setor, que impõe novas regras de conteúdo as empacotadoras e programadoras de canais, também exige uma movimentação rápida e eficaz de todas as empresas envolvidas na cadeia da indústria.
O painel de abertura do segundo dia da Feira da Associação Brasileira de TV por Assinatura (ABTA) explanou os detalhes do marco regulatório e seus impactos no cenário da TV paga nacional. Ancorado na apresentação do presidente da Agência Nacional do Cinema (Ancine), Manoel Rangel, o debate contou com a participação de representantes de programadoras, empacotadoras e produtoras para ressaltar as dificuldades que a nova regulamentação impõe e, sobretudo, por quais transformações o conteúdo dos canais terá que passar para se adequar à legislação e agradar ao público.
“A tendência é de que aconteça no mercado brasileiro o mesmo que já ocorre em grande parte dos outros países: a presença da TV por assinatura aumenta e que, tanto nas receitas com assinaturas quanto em publicidade, ela se destaque diante da TV aberta. A proposta da Lei 12.485 é, portanto, regulamentar esse setor e dar sustentação para que ele cresça com qualidade”, defende Manoel Rangel.
O principal ponto da nova regulamentação destaca por ele é a cota mínima de produção independente e de conteúdo nacional – determinação que, há tempos, vem tirando o sono das programadoras de canais e movimentando o setor das produtoras. Segundo Rangel, não são válidos os argumentos de que a obrigatoriedade da inclusão de conteúdo nacional em todos os pacotes de canais culminaria em uma queda da qualidade na programação. “A qualidade é determinada pelo espectador, que determina o que irá assistir. Esse dilema não existe. A produção nacional tem um nível excelente e deve se qualificar ainda mais a partir de agora, possibilitando, inclusive, uma penetração maior do conteúdo brasileiro nos países latino- americanos”, defende o presidente da Ancine.
Entraves no controle remoto
Embora tenham se posicionado a favor da nova regulamentação para o setor, os demais palestrantes não esconderam suas divergências acerca dos termos propostos pela Ancine. Para Anthony Doyle, diretor geral da Turner no Brasil, o principal problema da nova Lei é a inflexibilidade dos prazos oferecidos às programadoras. Apesar disso, ele admite que os canais do grupo já começaram, há tempos, a investir e conteúdo nacional para obedecer as regras. Do mesmo ponto de vista compartilha o vice-presidente do grupo Bandeirantes, Paulo Saad. Ele promete que o grupo já possui conteúdo brasileiro para atender às exigências da Lei, mas ressalta a necessidade de rever a burocracia do marco e, também, de considerar os ônus que ele traz à indústria. “Com a demanda da Lei, os custos de produção do mercado nacional também crescerem . Hoje, para se comprar filmes e produções nacionais, o preço é maior do que antes”, pondera.
Apoiadores do marco regulatório, a Net Serviços (representada no painel pelo diretor Rodrigo Marques) e a Globosat (representada por Fernando Ramos, diretor geral da nova empresa G2C, responsável pela comercialização dos canais), defendem que a regulamentação contribuirá para a expansão dos serviços de TV por assinatura. “O único ponto que é preciso ser considerado com mais atenção é a qualidade. As programadoras vão ter que inserir conteúdo nacional, mas ele terá de ser um bom conteúdo”, considera Fernando Ramos.
Já por parte das produtoras, o cenário apontado pelo produtor executivo da Conspiração, Luis Antônio Silveira, é bastante promissor. “No Brasil persiste a cultura de que as emissoras de TV, sobretudo as abertas, produzam seu próprio conteúdo. São os canais pagos que abriram o mercado para a produção de conteúdo independente na TV e, agora, com a Lei, já percebemos que a demanda aumentou”, conta Silveira.
Leia mais sobre a ABTA 2012:
– Quem paga pelo conteúdo da TV
– Expansão e conteúdo desafiam TV paga
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