Quem são os fãs e usuários do Musical.ly
Aplicativo de vídeo e dublagem já possui uma base de mais de 200 milhões, mas é pouco conhecido pelas marcas
Aplicativo de vídeo e dublagem já possui uma base de mais de 200 milhões, mas é pouco conhecido pelas marcas
Thaís Monteiro
3 de agosto de 2017 - 6h57
Em princípio, ele não parece muito diferente das demais redes sociais lançadas nos últimos anos. Nele, o usuário pode fazer vídeos curtos de comédia, dublagens, transmissões ao vivo e usar hashtags, como em qualquer outro aplicativo moderno. Mas o Musical.ly, um colorido e multifuncional app cuja linguagem é audiovisual, em três anos de existência, adquiriu um público de 200 milhões de usuários ativos, um salto de 53% no número de dezembro de 2016 (40 milhões) a junho de 2017, uma média de 30 minutos de retenção e 12 milhões de vídeos publicados por dia.
Todo esse engajamento se reflete em perfis como o de Baby Ariel, uma das maiores usuários da plataforma com 21 milhões de fãs, que está prestes a lançar seu próprio disco com músicas que colocava na plataforma para divulgação, e Jacob Sartorius, que se lançou no app e, segundo estudo da Hoffmann, grupo de pesquisa de mídia da Universidade de Cambridge, é mais influente que os cantores Drake e Selena Gomez nas redes socais. Esse alcance já atraiu a atenção de importantes players de televisão, entre eles os grupos NBCUniversal e Viacom, que firmaram parcerias para produção de conteúdo original para o app, e marcas brasileiras, ainda que poucas, como Avon, Nestlé, Multishow e algumas distribuidoras de filmes.
“Os adolescentes são muito mais ativos no que eles assistem. Eles gostam de responder, de serem respondidos, notados. Gostam de comentar tudo, de ver tudo, de dar like em tudo”, diz Calú Spallicci, influenciadora com 921 mil seguidores na plataforma
Um dos motivos de seu crescimento é a faixa etária do público, geralmente crianças e adolescentes de 6 e 16 anos. Alguns dos criadores de maior sucesso também estão nessa faixa etária. Valentina Schulz tem 14 anos e ficou famosa como participante da primeira edição do Masterchef Júnior. Hoje é uma das personalidades mais ativas na plataforma e relaciona a preferência de crianças e adolescentes ao jeito descontraído do aplicativo“A gente faz por brincadeira e para se divertir. Lá é muito mais seguro você ter um perfil aberto, as pessoas são da mesma idade. É diferente do YouTube e do Facebook, por exemplo, que tem gente mais velha”.
O relacionamento entre usuários também é diferente, como uma relação de consumo. No Musical.ly, os seguidores podem optar por pagar os demais usuários, mesmo que eles não sejam necessariamente denominados “musers” — classificação feita por meio de um símbolo de coroa que define os influenciadores digitais do app — por meio das transmissões ao vivo. São as chamadas “moedinhas” que os usuários acumulam assistindo à anúncios, usando o aplicativo ou então pagando um valor para tê-las. Acumuladas as moedas até 20 mil pontos, elas podem ser resgatadas pelo usuário no equivalente à US$ 200. Metade do valor é reservado ao aplicativo e a outra metade para o produtor da live. “Os musers recebem mais em live do que seria no YouTube. Nós do Brasil ainda não recebemos tanto, mas os musers norte-americanos recebem mais do que os youtubers de lá”, explica Fernando Pagani, influenciador nomeado “Muser do Ano 2016” na categoria masculina, que hoje conta com 1,3 milhões de seguidores.
Outra estratégia encontrada pela equipe que compõe a plataforma foi recrutar usuários com uma base de fãs em outras plataformas para se juntar ao aplicativo. Fernando foi convidado a ingressar na rede social durante os últimos meses do Vine, que acabou no fim de 2016. “O próprio pessoal do Musical.ly entrou em contato comigo falando que tinha uma proposta que seria bacana, que eles estavam procurando produtores de conteúdo no Brasil e que se produzissem bastante conteúdo para eles eles dariam um destaque, uma atenção maior e foi assim que eles conseguiram bastante produtor de conteúdo no começo”, explica Fernando. Ele afirma que esse é um dos maiores diferenciais da plataforma, um contato “caseiro”, como define, que não tem com as outras redes sociais em que atua. Já Ananda Morais, de 13 anos e com 268 mil fãs na rede social, diz que começou a usar o app há um ano atrás e apenas como consumidora. “Aos poucos eu fui descobrindo as hashtags e comecei a fazer vídeos que foram parar no destaque. Mas hoje eu posto mais de dez vídeos por dia nas férias”, diz. Para ela, o aplicativo ampliou sua rede de amigos e até melhorou sua relação com os pais, que a ajudam a administrar o novo perfil.
Também foi dessa forma que o aplicativo começou a adquirir afinidade com os usuários do País. Pagani, como é conhecido entre os amigos, foi nomeado pelo app como “Embaixador do Musical.ly no Brasil”, porque contribui para a fomentação de novos conteúdos na plataforma próprios do Brasil. “Eu fui nomeado porque fui um dos primeiros a entrar na plataforma e fazia muita coisa por eles: conteúdo, falava o que estava acontecendo no País para ter a chance de criar conteúdo original e novo mesmo”, afirma. Hoje o Musical.ly conta com um espaço com hashtags periódicas para os usuários se apropriarem e produzir seus conteúdos originais e elas são da língua do País. “Cada dia tem uma hashtag para cada categoria de vídeo que existe no aplicativo (comédia, dança, lip-sync, moda, entre outros). Isso é uma forma de estímulo para você estar sempre criando coisas novas. Nunca é uma rotina cansativa”, conta Alice Oliveira, de 21 anos, dona do perfil @alicereja, em que produz vídeos de comédia, que conta com 1,6 milhões de fãs. Alice também diz que a equipe do Musical.ly sempre está em contato com ela para ouvir um feedback sobre o app a fim de fazer melhorias.
O que esperar do futuro
Como o futuro das redes sociais é sempre imprevisível, as chances de o app acabar ainda são grandes, mas não nos próximos meses ao menos. Como o Musical.ly começou a fazer sucesso em 2016 no Brasil e ainda mostra sinais de longevidade nos Estados Unidos, onde o aplicativo já tem três anos de grande uso, a tendência é que ele continue em voga no próximo ano.
Calú Spallicci, 23 anos e 921 mil seguidores na plataforma, foi premiada como “Muser Talento 2016” entre os usuários brasileiros e acredita que o futuro do Musical.ly depende de duas coisas: produção constante de conteúdo e a prevalência dos vídeos de comédia. “Primeiro de tudo: não pode parar. Foi o que aconteceu com o Vine, o pessoal parou de produzir conteúdo porque estavam com outras coisas acontecendo na vida deles e acabaram parando. Assim que eles param de produzir, o público parou de assistir. Ainda tinha gente menor criando, mas os grandes pararam, o que fez com que muita gente saísse e fosse pra outras plataformas. E eu acho que a comédia original é o que vai mais dar certo daqui pra frente, porque acredito que esse é o mais difícil de se cansar e é sempre um assunto inédito, uma risada nova a cada publicação”, justifica.
Leia mais sobre o Musical.ly em reportagem a ser publicada na edição 1772, de 7 de agosto, exclusivamente para assinantes do Meio & Mensagem, disponível nas versões impressa e para tablets iOS e Android.
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