Cleber Mata: “A maior vacina é a informação”
Secretário de Comunicação do Estado de São Paulo explica os esforços do governo para conter notícias falsas e preservar população
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Thaís Monteiro
2 de abril de 2020 - 6h00
Na segunda-feira, 30, mesmo dia em que foi noticiado um aumento do número de pessoas nas ruas e transportes públicos na capital paulista, o Governo do Estado de São Paulo lançou mais uma campanha, desta vez para pedir que a população do estado fique em casa para conter a disseminação do novo coronavírus. Os eventos não são relacionados, mas a campanha estreia mais um pilar importante da movimentação pública em prol de remediar a pandemia no País.
Antes de focar a mensagem no movimento #FiqueEmCasa, o governo estava empenhado em educar a população sobre higiene e alertar para as notícias falsas. De acordo com Cleber Mata, secretário de comunicação, há uma guerra ainda não vencida contra a circulação de notícias falsas e, no caso da Covid-19, a informação é a única vacina disponível até o momento. O governo tem um guia digital com entrevistas, infográficos, ilustrações e dados atualizados diariamente.
Como o estado é o que carrega o maior índice de casos e mortes pela doença no País, o Governo de São Paulo tem buscado estar aliado à imprensa. Em um dos andares do Palácio dos Bandeirantes foi instalado um espaço para emissoras de televisão do interior do estado realizarem entrevistas com especialistas da saúde disponíveis o dia todo. Além disso, houve uma negociação para que os veículos de comunicação cedessem um maior desconto para o poder público veicular suas campanhas.
A relação com os processos publicitários também mudou: teve de ficar mais ágil. A campanha lançada na segunda-feira levou quatro dias para ser criada, período mais curto do que normalmente se leva para produzir um anúncio. Esta, de acordo com o secretário, foi a mais criativa se comparada às demais já veiculadas. As anteriores foram mais informativas, com vídeos do infectologista David Uip, coordenador do Centro de Contingência do coronavírus, e uma corrente de vídeos com o apelo de artistas e jogadores de futebol. Estas duas últimas não tiveram custo algum para o governo do estado.
Na rede Sicom (Sistema de Comunicação do Estado), o Governo de São Paulo envia peças para as 400 cidades e os municípios podem alterar conforme sua necessidade. Há um secretário responsável por fazer a interface com todas as prefeituras e elas recebem boletins diários do governo.
Ao Meio & Mensagem, Cleber compartilhou a evolução da estratégia de comunicação do governo frente ao avanço no número de casos e mortes relacionadas à doença no mais populoso estado brasileiro.
Meio & Mensagem – Como a área de comunicação do governo atua nessa situação de pandemia? O que muda em relação aos demais tipos de crise?
Cleber Mata – Modéstia à parte, minha especialidade é crise. Eu vivi a crise hídrica e o cartel do metrô. Não acabou a água e o estado sobreviveu. Estava no governo durante o surto do H1N1, quando o avião da TAM caiu e quando os estudantes invadiram as escolas. Com saúde, o problema é maior porque lidamos com a vida. A maior vacina contra o corona é a informação, então aumenta a minha responsabilidade como difusor e o governador entende que a informação é essencial. A imprensa tem colaborado bastante nesse papel. Há pesquisas que mostram que 86% das pessoas sabem sobre o coronavírus e 75% sabe como evitá-lo. Então ambos a imprensa e o governo estão juntos nesse objetivo.
M&M – Qual foi a estratégia adotada no início da disseminação?
Mata – A primeira coisa que fizemos foi criar um Centro de Contingência e eles começaram a nortear todas as nossas ações por aqui. Toda peça, cartilha ou spot que criamos passa pelo crivo dos médicos. Eles tem maior sensibilidade sobre o assunto. Além disso, todo o nosso material tinha de ser pedagógico. Criamos um site em janeiro e estamos alimentando esse site diariamente com conteúdo informativo, campanhas e dados oficiais. Todas as demais estratégias de comunicação que não estão relacionadas ao coronavírus estão paralisadas. Tudo será sobre o coronavírus pelos próximos 30 dias, pelo menos.
M&M – São Paulo é o epicentro da pandemia no Brasil. Existe uma responsabilidade maior do estado em liderar a conversa?
Mata – Acredito que sim, sobretudo porque 46 milhões de habitantes do País estão aqui e é um estado que, pela sua dimensão, vai ter mais vítimas.
M&M – Algumas prefeituras ameaçaram fechar os acessos entre cidades vizinhas. Qual é a orientação do governo sobre isso?
Mata – Houve uma tentativa, mas nada como um bom diálogo. Eles estavam com um grande pavor da disseminação da doença, mas o secretário de logística e transporte resolveu a situação.
M&M – Os pilares abordados com intensidade na comunicação do governo são o do combate à disseminação, mas também à notícias falsas. Qual é o impacto que as notícias falsas estão tendo nesse momento?
Mata – Duas coisas que me surpreenderam fizeram com que nossa estratégia fosse nesse sentido. Fomos atrás do TikTok para criarmos um perfil. Publicamos algumas orientações por lá e o sucesso foi tão grande que a empresa chamou o governo para ser a fonte de informação oficial da plataforma. Temos cards com milhões de visualizações publicados no nosso perfil. Então vimos que há um terreno vasto e pantanoso na área da informação. E há uma guerra que não está vencida que é a da criatividade das pessoas para criar maldade. É uma energia do mal que vai na contramão do que a gente tem combatido agora. Apostamos porque deu certo, mas eu devo dizer que, para cada dez informações verídicas que divulgamos, surgem 30 distorcidas. Estamos lançando esta semana um canal de comunicação oficial no WhatsApp para a população enviar perguntas e receber respostas sobre o coronavírus.
M&M – As primeiras campanhas do governo foram mais orientadas a ensinar a população a se proteger e a tomar cuidado com notícias falsas. A nova campanha faz um apelo para a população ficar em casa. De onde surgiu essa necessidade? E não estão divulgando em impresso, revistas e OOH. Isso é proposital?
Mata – A ideia para essa campanha surgiu porque o Instituto Butantan nos informou que, com as pessoas em casa, o índice de contágio é menor — a taxa de contágio da Covid-19 caiu de quase seis pessoas para menos de duas no Estado paulista depois que medidas de distanciamento social foram adotadas. A campanha está sendo veiculada em TV, rádio e digital. Tínhamos projetos em apostar em novas mídias, mas não faz mais sentido, até porque o número de pessoas circulando caiu graças as medidas adotadas pelo poder público.
M&M – O governo firmou diversas parcerias com empresas privadas para disseminar materiais informativos. Com quantas empresas vocês já possuem esse tipo de parceria? Existe algum acordo financeiro?
Mata – Não existe acordo financeiro. Primeiro oferecemos para as companhias aéreas um serviço para que eles reproduzissem e disseminassem cartilhas de informações de prevenção do governo, o que dá mais peso para a situação e a população viajando pode levar mais a sério. Depois, chamamos a Uber para encaminhar o material produzido pelo estado para motoristas e usuários cadastrados no aplicativo. Operadoras de telefonia também começaram a disparar mensagens para seus clientes com informativos. Nessa guerra, não podemos ter um muro entre o público e privado, guardada as devidas legalidades. Assim como o governo, as empresas têm o papel de contribuir prevenindo a população de se contaminar.
M&M – Há a possibilidade de ainda entrarmos no pico da pandemia. Quais são os cuidados que vocês buscam comunicar agora?
Mata – Todo nosso radar é científico e nos baseamos no que o nosso Centro de Contingência nos informa. Então estamos aguardando os próximos passos.
**Crédito da imagem no topo: Reprodução/Governo do Estado de São Paulo
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