Como acelerar a presença de negros no mercado de comunicação?

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Como acelerar a presença de negros no mercado de comunicação?

Para além de discursos e participação das pautas da sociedade, empresas devem fincar raízes em ações mais profundas e significativas


10 de fevereiro de 2022 - 6h02

Atualmente, mulheres negras ocupam apenas 2,4% de postos de diretoria ou gerência no Brasil (Crédito: Jono Erasmus/shutterstock)

Quantos executivos negros em cargo de lideranças você conhece? Esse é um dos questionamentos geralmente feitos quando o assunto é diversidade e inclusão em corporações, sobretudo ético-racial. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) provam que o mercado de trabalho ainda carece da diversidade em cargos de hierarquia mais alta: homens e mulheres negros e negras ocupam 2,6% e 2,4% de colaboradores em cargos de diretoria ou gerência, respectivamente. Apesar dessa desigualdade ainda presente, esse cenário vem assistindo ao surgimento de projetos e ideias que visam, justamente, fazer com que esse desequilíbrio se atenue.

Diversas companhias já promovem iniciativas para o recrutamento de mais talentos negros, bem como vem investindo em capacitação e treinamento. Mas, muitas vezes, apenas essas ações não são o suficiente, de acordo com o Carreira Preta, que se apresenta como um hub de inclusão e integração social em companhias, surgiu com a proposta é ser uma consultoria de ações afirmativas que traz soluções de consultoria, talent acquisition, desenvolvimento e informações ao mercado. A empresa foi fundado por Michele Salles Villa Franca entre 2019 e 2020, que recentemente assumiu o posto de gerente de diversidade, inclusão e saúde mental da Ambev para a América do Sul

“Estamos no momento de falar do profissional — da capacidade de gerar valor para a sociedade”, ressalta João Villa Franca, cofundador e sócio do Carreira Preta. Ele destaca a importância de empresas atuarem em ações efetivas, que vão além de meros discursos para promoção e publicidade, destacando que o primeiro passo é entender que os projetos de inclusão têm a característica de serem movimentos de auto-inclusão. “Quando a sociedade, no caso desse recorte, conta com mais de 56% da população se autodeclarando preto ou pardo no nosso País, e uma empresa é majoritariamente masculina, branca, que só se comunica, faz publicidade ou pensa produtos olhando para essa mesma população, a realidade é que ela está fora da sociedade”, salienta João.

Com base nesse conceito, o sócio da empresa alerta para a necessidade de um preparo prévio à iniciativas de aceleração de talentos negros, como o desenho de currículos, funcionários financiados para treinar e trabalhos de letramento antiracista na organização, por exemplo.

Para que sejam, de fato, motores da inclusão, empresas devem incluir em suas operações uma estratégia de negócio para garantir um lugar na nova sociedade, que está se reconfigurando. As opções, segundo o trabalho do Carreira Preta, são inúmeras, e vão desde intervenção com executivos em formato de palestras até um cenário que inclui a inovação, com design de serviço, trabalho ao lado de antropólogos, pesquisas e soluções adequadas de acordo com cada realidade. Além disso, um ponto de atenção deve ser tomado em todos os âmbitos que envolvem a empresa, com a presença de atores negros em toda a cadeia de valor.

Um método abordado pelo hub na implantação de iniciativas é o da intersecção entre ancestralidade, afrocentrismo e afrofuturismo. A estratégia perpassa o trabalho de reconexão para a construção de um ambiente inclusivo, que inclui o resgate de uma potência abafada, apagada e dilacerada ao longo da história de violência, conforme detalha João. Em seguida, parte-se para a etapa em que pessoas negras são colocadas no centro das histórias não só como protagonistas, mas como autores, com poder de se desenvolver profissionalmente para estar nos locais em que quiserem, e não apenas naqueles que os foram concedidos. 

Finalmente, o afrofuturismo é o resultado esperado para que pessoas possam desejar e aspirar carreiras diferentes, e que profissionais negros sejam valorizados em qualquer âmbito e espaço. “Quando falamos de afrofuturismo, não falamos de uma utopia para daqui cem anos, mas sim de criar novos arquétipos profissionais”, declara João.

Para o Carreira Preta, a chegada da fundadora Michele a um cargo em uma das maiores empresas do País é um acelerador do movimento que veio para consolidar o desejo de atuação enquanto consultoria, mas aliado à crença de que corporações com boas estratégias podem potencializar e acelerar o mercado, expandindo o propósito da atuação do negócio. “A maior parte da dificuldade do trabalho com diversidade e pluralidade é que existem nuances muito importantes, são detalhes que dependem do olhar de um especialista para fazer grandes programas e iniciativas darem certo”.

A consultoria já atuou ao lado de marcas de diversos segmentos. Entre elas estão a Gupy, plataforma de recrutamento e seleção, e Livelo, com programas de estágio. No segmento da comunicação, a consultoria está atualmente trabalhando ao lado da Publicis em uma iniciativa que será anunciada em breve, e que abrange recortes de gênero e raça por meio de um projeto de formação de publicitárias negras para o mercado de trabalho. Outras ações também estão em andamento.

Outro ponto que deve ser bastante explorado é o do acesso à informação, conforme indica João. Um exemplo da busca por sanar tal questão é o lançamento da revista Carreira Preta, que aconteceu no ano passado. Digital e trimestral, a publicação visa garantir a solidez do projeto e tem como editor chefe Fran Oliveira e jornalistas que escrevem para veículos como Forbes e Uol.

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