A segunda onda de marcas que abandonaram Trump
Conselho do presidente deixa de existir após a saída de executivos da Intel, Under Armour e Merck (foto) em resposta aos conflitos extremistas na Virgínia
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Luiz Gustavo Pacete
17 de agosto de 2017 - 8h24
O conselho do presidente americano Donald Trump, formado por líderes de grandes de empresas, se desfez nesta quarta-feira, 16. Stephen Schwarzman, diretor do Blackstone Group e um dos membros, convocou uma reunião do Fórum de Estratégia e Política da Casa Branca para decidir como reagiriam à debandada de executivos importantes nos últimos dias e a decisão foi a de acabar com o grupo.
Na segunda-feira 14, Kenneth Frazier, CEO do grupo farmacêutico Merck &Co, afirmou que deixava o conselho por uma “questão de consciência pessoal” que o fez tomar “uma posição contra a intolerância e o extremismo”. “Os líderes da América devem honrar os nossos valores fundamentais, rejeitando claramente expressões de ódio, intolerância e supremacia de um grupo, que vai contra o ideal americano de que todas as pessoas nascem iguais”, disse Frazier, em uma nota divulgada no Twitter da empresa.
Um dia depois, Kevin Plank, fundador da Under Armour, e Brian Krzanich, CEO da Intel, também deixaram o grupo. “Saio para chamar a atenção para os sérios danos que o nosso clima político dividido causa em assuntos críticos, incluindo a necessidade urgente de resolver o declínio da indústria americana,” disse Krzanich no blog da Intel. Já Plank, da Under Armour, disse que a empresa deve se envolver em sua premissa. “Não há lugar para o racismo nem discriminação neste mundo dos esportes. Escolhemos o amor e a união”, escreveu em seu Twitter.
A saída dos executivos foi uma resposta à atitude considerada “indiferente” de Donald Trump ao comentar os casos de extremismo em Charlottesville, na Virgínia. No final de semana, durante atos de extremismo racial, um carro atropelou e matou uma mulher de 30 anos e feriu dezenas de pessoas. Sobre o caso, Trump declarou que a violência é inaceitável “de qualquer lado que venha”. Em fevereiro, Travis Kalanick, CEO da Uber, já havia abandonado o conselho de Trump após sofrer um boicote por parte dos usuários da plataforma que discordavam do presidente. Em junho, Elon Musk, da Tesla, e Robert Iger, da Disney, tomaram a mesma atitude.
Clarisse Setyon, professora de marketing do curso de Relações Internacionais da ESPM, explica que o pragmatismo dos executivos que estavam ao lado de Trump chegou ao limite. “Eles estão dando um recado de que não é sustentável esse estilo de gestão em que o líder considera que os Estados Unidos são capazes de sobreviver sozinhos em um mundo tão conectado”, diz Clarisse. Segundo ela, ainda que estivessem ao lado de Trump, esses executivos estavam muito à frente do presidente no que diz respeito a temas como diversidade e direitos humanos. “Todas essas empresas dependem de imigrantes em suas estruturas e o recado foi dado”, diz Clarisse.
Marcus Vinicius de Freitas, professor do curso de Relações Internacionais da Faap, explica que a atitude dos executivos deve ser avaliada em duas vertentes. “A primeira é que muitos dos que permaneceram no conselho do Trump aproveitaram, agora, um motivo para desfazer essa associação com o presidente. As pessoas cobravam desses executivos e suas empresas tudo aquilo que Trump dizia ou fazia”, diz Freitas. “Outra questão é que existe uma grande dificuldade de diálogo ou aceitação de ideias contrárias à de Trump e isso causou uma sensação aos executivos de que não fazia mais sentido eles estarem ao lado do presidente”, avalia Freitas.
Unidos contra o ódio
As marcas que discordam de Donald Trump
Na tarde desta quarta-feira, 16, Mark Zuckerberg, fundador do Facebook e uma das vozes contrárias a Trump, publicou um texto em seu perfil comentando a disseminação de ódio na plataforma. “É importante que o Facebook seja um lugar onde pessoas possam compartilhar seus diferentes pontos de vista e ideias. Debates são parte de uma sociedade saudável. Mas quando alguém tenta silenciar ou atacar os outros com base em quem eles são ou naquilo em que eles acreditam, isso atinge a todos e é totalmente inaceitável”, escreveu.
O executivo ainda deu sua opinião pessoal a respeito da onda extremista nos Estados Unidos. “Os últimos dias têm sido difíceis de processar. Sei que muitos de nós têm se perguntando de onde vem esse ódio. Como judeu, essa é uma questão que toma muito da minha vida. É uma vergonha que ainda tenhamos de dizer que neonazistas e supremacistas brancos estão errados — como se isso não fosse óbvio. Meus pensamentos estão com as vítimas do ódio ao redor do mundo e todos os que têm a coragem de enfrentá-lo diariamente”, declarou.
Essa é a segunda onda de boicotes de empresários para com o presidente. Em fevereiro, um grupo de dezenas de empresas se posicionou contra o decreto de Trump que impedia a entrada de cidadãos de países mulçumanos e refugiados nos Estados Unidos. Do Airbnb à Starbucks, do Facebook à Ford, mais de 15 empresas se posicionaram. Brian Chesky, presidente do Airbnb, por exemplo, afirmou que a plataforma iria oferecer alojamento gratuito a refugiados e aos que fossem proibidos de entrar nos Estados Unidos.
Jeff Bezos, presidente da Amazon, afirmou, em comunicado, que não apoiava o decreto de Trump. A Budweiser, em campanha para o Super Bowl, escolheu como tema de seu comercial a narrativa da história de Adolphus Busch’s, imigrante que veio da Alemanha. E Muhtar Kent, CEO da Coca-Cola, disse que “como uma empresa dos EUA com operações em mais de 200 países” a Coca-Cola respeita pessoas de todas as origens.
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