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7 de agosto de 2013 - 9h00
Jornalista do Washington Post, Liza Mundy, autora de três livros, veio ao Brasil mesmo com o tornozelo quebrado para participar de um evento dedicado às mulheres, o Fórum Nossa Felicidade, organizado pelas revistas Claudia, Nova, Elle, Estilo e pelo portal M de Mulher, em parceria com o HSBC, em São Paulo, nesta terça-feira, 6. Liza fez uma palestra centrada em seu livro “O sexo mais rico”, que acaba de ser lançado no Brasil pela Editora Paralela.
Com base no argumento de que em uma geração haverá mais mulheres sustentando lares do que homens sendo o principal provedor do lar, a jornalista entrevistou diversas pessoas e analisou dados que mostram como as relações entre homens e mulheres tiveram um importante impacto que foi a evolução educacional, profissional e financeira do público feminino. Como disse à plateia do evento, seu interesse estava em estudar o que acontecia com os relacionamentos da mulher enquanto ela se tornava autossuficiente do ponto de vista financeiro. “Há uma ideia de que ela se torna desagradável quando tenta crescer profissionalmente. Mas quando entrei no Post eu só tinha chefes homens e hoje só tenho chefes mulheres. E o convívio é muito bom”, contou, para demonstrar que essa imagem é algo incutido na mente de todos, até de outras mulheres.
Por tudo que apresentou, Liza sustenta que inclusive o universo feminino precisa aceitar mais as novas configurações da sociedade e a evolução da mulher, que está mais dedicada aos estudos e ao trabalho (segundo a jornalista, 60% dos estudantes universitários nos EUA são mulheres). Nas entrevistas feitas para o livro, Liza detectou que muitas mulheres estavam casadas com homens que não ganhavam o mesmo que elas e que, para que seus maridos não se sentissem diminuídos, elas escondiam o sucesso em suas carreiras, ou mesmo mentiam. Esse tipo de comportamento acontece mesmo entre as solteiras. Uma das mulheres entrevistadas era uma médica que só se apresentava aos homens como enfermeira. Ser médica lhe conferia um status acima do que o de outras pessoas. Então, ela preferia dizer que trabalhava em um cargo mais associado à figura feminina. Com isso, não intimidaria tanto os homens.
Outro exemplo dado por Liza revela que as novas famílias, em que o pai por vezes não tem um trabalho fixo, dedicando-se mais à casa, não são bem aceitas pela sociedade. Outra entrevistada da jornalista, uma advogada, deixava os cuidados domésticos e dos filhos ao marido, que não se sentia em posição inferior por não ter um emprego rotineiro. O casal se sentia à vontade com essa situação, mas a família da advogada não aceitava o quadro, cobrando-lhe sempre que fizesse algo para que o marido arranjasse um trabalho de verdade e não fosse um parasita.
Como boa jornalista, Liza sondou as gerações mais jovens, ainda na faculdade ou recém saídas da universidade, sobre o que desejavam em um casamento – estatísticas mostram que as americanas casam, em média, aos 27 anos; eles, aos 28 anos. Muitas respondiam que não poderiam se relacionar com alguém que não estivesse no nível delas. O futuro marido deveria ter o mesmo status socioeconômico ou acima. Ou seja, estava fora de questão ter um parceiro em posição inferior, no sentido de ele ter uma profissão que não o remunerasse no mesmo patamar de salário que elas poderiam alcançar. “Mas você não precisa casar com alguém que compita com você”, afirmou Liza. Em suas pesquisas, os homens também manifestam desconforto em ganharem menos que suas companheiras. Nesse ponto, a jornalista brincou: “Os homens, com isso, são estúpidos. Em um mundo de transformações, seria muito mais fácil ter sucesso ao lado de uma mulher que tem sucesso”.
Novo fenômeno social
Ainda nesse ponto, Liza faz uma observação: o novo fenômeno da sociedade é o homem apoiando o crescimento da mulher, seja no sentido de assumir as tarefas de casa para que elas possam voltar a estudar ou para que elas se dediquem mais ao trabalho (quando estas têm sucesso). Esse cenário aponta que os dois gêneros precisam adequar seus conceitos. Isso porque diversas mulheres se queixam hoje que seus maridos não ganham mais dinheiro do que elas, como se o papel dele fosse o de ser o principal provedor da casa.
Por isso, a escritora defende que, quando as novas gerações manifestam a intenção de restringir relacionamentos a homens que tenham, no mínimo, o mesmo nível de sucesso delas, isso não implica em impulso em suas carreiras. A evolução do comportamento da sociedade ocidental deixa claro que muitas mulheres do passado abriram mão de diversos aspectos de sua vida para dar apoio ao marido e ajudá-lo a crescer. Por que elas não admitiriam que acontecesse o contrário? Por que ela cobra que o homem esteja em igualdades de condições financeiras em vez de aceitar a ideia de que ele, ao ganhar menos, possa assumir mais os cuidados com a família e abrir espaço para que ela, a mulher, invista em sua carreira? “Como vamos virar presidentes de uma nação ou CEOs de uma grande companhia se nós só aceitamos companheiros que estejam no mesmo nível financeiro?”, questionou Liza.
De acordo com o livro que acaba de chegar às prateleiras brasileiras, o salário das mulheres melhorou significativamente nas últimas três décadas nos EUA. Além disso, este século tem indicado que os homens têm saído do mercado de trabalho. Em meados dos anos 1950, praticamente toda a população masculina entre 25 e 54 anos trabalhava. Hoje esse percentual está perto de 80%, parte por causa do elevado índice de desemprego, mas também “por causa do número crescente de homens que simplesmente não querem mais trabalhar”. Uma projeção do Bureau of Labor Statistics, que analisa o mercado de trabalho nos EUA, sinaliza que em 2018 os índices de participação masculina no trabalho sofrerão uma queda histórica.
A autora de “O sexo mais rico” ponderou também que, embora a sociedade tenha um discurso pró-crescimento profissional da mulher, pouco se faz para facilitar a vida dela. Isso quer dizer que a postura é ambígua, que há uma diferença entre teoria e prática. Nos Estados Unidos, como afirmou Liza, o governo não está conectado com o dia a dia das mulheres que têm filhos. Benefícios para a profissional que virou mãe é algo feito pelas empresas, mas Liza disse que o governo poderia perguntar às companhias o que se pode fazer para que existam mais licenças remuneradas ou se ofereçam mais garantias para que elas possam ser profissionais e mães. Ela disse ainda que atualmente as mulheres representam 20% da base do Senado americano. É pouco pela representatividade da população feminina. No entanto, essa participação, ainda que pequena, consegue imprimir um novo olhar a diversas discussões políticas. “Com mais mulheres no comando, vamos fazer a diferença”, salientou.