P&G patrocina projeto de formação de talentos negros na publicidade
Cria da Quebrada, em parceria com Miami AdSchool e Faculdade Zumbi dos Palmares, dará curso para estudantes selecionados atuarem na produção e criação publicitária
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Roseani Rocha
25 de agosto de 2022 - 19h06
A cúpula da P&G Brasil – acompanhada de visitas ilustres, como a ex-CEO Juliana Azevedo, que agora cuida de América Latina, e do chief brand officer global, Marc Pritchard – esteve reunida na manhã desta quinta-feira, 25, na sede da companhia em São Paulo, para anunciar um projeto considerado icônico.
André Felicissimo, CEO da P&G Brasil, abriu o encontro apresentando o Cria da Quebrada como parte da plataforma de ações do programa Racial 360, com o qual a companhia busca atuar contra o racismo estrutural no País. Para isso, as iniciativas visam melhorar a diversidade étnico-racial envolvendo as marcas da empresa, seus parceiros (fornecedores e clientes) e embaixadores. Tanto que a creator e influenciadora Camilla de Lucas, embaixadora das marcas Always e Downy, participou do encontro nesta manhã.
Nele, foi anunciado o projeto em que 25 jovens negros e negras serão selecionados para cursar ao longo de sete meses um curso voltado à produção publicitária com professores da Miami Ad School, na Faculdade Zumbi dos Palmares (que criou os primeiros cursos do País de Publicidade e Administração para estudantes negros). O curso será gratuito para os selecionados, já que a P&G bancará 100% dos custos. Uma primeira fase será de introdução geral e, na segunda, haverá jornadas, entre redação e direção de arte e os alunos terão mentorias, além das aulas em si. “A Miami Ad School completa 20 anos e estou muito emocionado, porque hoje, estamos fazendo história aqui”, afirmou Paulo André Bione, diretor acadêmico da instituição.
Camilla relembrou um pouco de sua trajetória, fazendo vídeos no YouTube sobre beleza, em que já criticava a falta de diversidade de produtos das marcas para peles como a sua, pois muitas delas esquecem que homens e mulheres negros/as são consumidores – mas, para isso, também precisam de oportunidades no mercado de trabalho. Quando tentou ser modelo, chegou a ouvir de um profissional do mercado que a beleza negra não vendia. “Hoje, estou aqui e vendo Always e Downy”, disse, emendando que gostaria de poder encontrá-lo e dizer que estava enganado.
“O que estamos fazendo aqui é uma mudança sistêmica”, afirmou Marc Pritchard, destacando que ações semelhantes estão em curso em outras partes do mundo, como o próprio país-sede da P&G, os EUA. Lá, a empresa tem conseguido envolver mais profissionais negros nos bastidores da produção publicitária por meio do projeto Widen the Screen. “Como maior anunciante do mundo, sabemos como a imagem na publicidade impacta como as pessoas vêm umas às outras”, argumentou, destacando que se as pessoas aparecem de forma enviesada, ou diminuídas, isso alimenta preconceitos. Mas mostrar as pessoas como elas realmente são pode ser uma força para o bem, socialmente, além de fazer essa parte da população – que no Brasil é a maioria, 56% – a confiarem mais nas marcas que têm essa postura.
Já o Dr. José Vicente, reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, destacou que ser negro no Brasil significou e ainda significa enfrentar barreiras e limitações. “Nossa pele traz um ‘defeito’ de nascença e isso nos tira do mundo do consumo”, afirmou. E, logo em seguida, comentou como a população negra primeiro foi demonizada e, depois, apagada pelo racismo estrutural, em que era preciso “se branquear” para entrar nas engrenagens sociais tais como elas ainda estavam montadas. E muitas vezes, disse, a estética da publicidade contribuiu para esse racismo. Por isso, a Zumbi dos Palmares foi a primeira instituição a criar um curso de Publicidade especialmente voltado a essa população. E, como também ressalta que “negro também precisa aprender a contar dinheiro”, o primeiro curso de Gestão e Administração. Além de exaltar o apoio de empresas como a Grey – que fez a premiada campanha Machado de Assis Real, que reviu o embranquecimento a que muitas editoras e outros meios submeteram um dos maiores escritores do País – José Vicente celebrou o fato de poder estar dentro de uma das principais empresas do mundo tratando de assuntos que até pouco tempo eram considerados tabus.
Já Luciana Rodrigues, CEO da Grey, destacou que representatividade não diz respeito apenas àquilo que se está vendo nas telas, mas também na hora de criar e produzir uma campanha. E, dado o poder econômico da indústria da publicidade, é preciso que ela também assuma responsabilidade em relação ao tema. “A gente precisa começar! É uma construção coletiva e tem uma ambição muito grande. A ideia é começar com 25 alunos, mas quando a P&G coloca como padrinho do projeto o Marc Pritchard, e hoje ele estava aqui representando um movimento global, sinaliza não apenas o começo de uma jornada, mas um compromisso”, disse.
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