Mauro Segura
18 de julho de 2013 - 1h09
Ele deita na cama. O soninho já tá batendo. Já é tarde da noite. O quarto está escuro, somente uma branda luz do abajur ilumina a parede lateral do cômodo. Tenta fechar os olhos, mas vem aquela vontade de olhar só mais um pouquinho. Estica o braço, e mesmo sem ver, acha o celular com o tato. Abre o Facebook e percorre o feed de notícias. Em menos de 15 minutos, já sem controlar os olhos, o celular cai de suas mãos e pousa em cima do peito… e dorme. Ao acordar no dia seguinte, com o próprio alarme do celular, ele dá uma olhadinha em quantas curtidas ele recebeu naquele post que publicou depois de meia-noite. Levanta e vai escovar os dentes.
Essa história parece conhecida? Ela é praticada por um contingente cada vez maior da população terrena.
Uma pesquisa publicada na Mashable, realizada pela Harris Interactive a pedido da MyLife.com, mostrou dados contundentes de como estamos nos tornando viciados e dependentes da vida online. A tendência é piorar, pois os gadgets nos cercam de todas as formas.
A pesquisa apontou que 56% das pessoas sofrem de FOMO – Fear of Missing Out – ou seja, medo de estar desinformado ou deixando de saber algo importante. Esta é a suposta razão para que as pessoas fiquem cada vez mais antenadas, com a obsessão de saber tudo que está ocorrendo e participar das redes sociais a todo instante.
Outros números reforçam o FOMO:
27% dos pesquisados dizem que acessam as redes sociais assim que acordam.
42% dos participantes do estudo têm várias contas na redes sociais, e o percentual aumenta para 61% para aqueles com idades entre 18 e 34 anos.
Na média, cada pessoa gerencia 3,1 endereços de email. No ano passado esse índice era de 2,6.
35% das pessoas gastam mais de 30 minutos nas redes sociais ou lendo/escrevendo emails pessoais, por dia.
Esse sensação de perder alguma coisa é que nos faz dar uma olhadinha no Facebook no meio daquele filme formidável que está passando na TV. Aliás, o fenômeno da segunda tela é algo real e irreversível. Uma pesquisa em 2011 já dizia que 50% das pessoas usavam notebook ou gadgtes enquanto assistiam TV. Atualmente esse número já deve ser bem maior.
Ironicamente, apesar de estarmos mais conectados e ligados, alguns especialistas afirmam que as redes sociais diminuem as nossas habilidades sociais. Estamos aumentando o números de relacionamentos, mas eles estão ficando mais superficiais pois o dia continua com as mesmas 24 horas por dia.
E se aplicássemos esse mesmo comportamento no mundo do trabalho? Como funciona a cabeça desse novo funcionário antenado e conectado? Como o cérebro desse novo ser funciona ao longo do dia dentro de uma empresa? Ele está trabalhando, mas preocupado e participativo das redes sociais. É um ser multitarefa, que a princípio parece ser positivo, mas também pode ser ineficiente e estressante.
Se a participação desses novos trabalhadores nas redes é inevitável, por que as empresas não incentivam e encaram esses novos "funcionários sociais" como parceiros e cúmplices de suas marcas nas redes sociais? Incrivelmente um grande contingente de empresas ainda proíbe que seus funcionários acessem às redes sociais dentro de seu ambiente de trabalho, empurrando-os para acessarem tais redes através de seus gadgets pessoais, especialmente celulares.
Pois é, esse tal de FOMO nada mais é do que o "o medo de ficar por fora". No Festival youPix, realizado em julho, rolou uma apresentação chamada PORFORAFOBIA, que foi um nome carinhosamente criado pela física e blogueira Rosana Hermann. Numa palestra divertida ela conta sobre o pavor de se desconectar. Veja o vídeo abaixo 🙂
E você, tem FOMO?
Mauro Segura é líder de marketing e comunicação na IBM Brasil
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