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Marketing

Uma pá de cal no carnaval de São Paulo

No caminho da profissionalização, escolas de samba da capital paulista veem em silêncio polêmicas e agressões que podem interferir em patrocínios futuros


22 de fevereiro de 2012 - 5h51

Da tela da TV para as páginas policiais. O desfile das escolas de samba de São Paulo de 2012 terminou de forma melancólica, com agressões, incêndio e um inusitado caso de invasão que interrompeu a apuração das notas das agremiações. Faltando apenas a nota de um jurado para garantir o título para a Mocidade Alegre (o que acabou se concretizando), Tiago Ciro, integrante do Império de Casa Verde, invadiu a área de apuração e rasgou o envelope com as últimas notas para as escolas. Seguiram-se, aí, agressões e cenas de selvageria realizadas por torcedores da Gaviões da Fiel na Marginal Tietê, que culminaram com um incêndio que destruiu um dos carros da Pérola Negra. O invasor foi preso.

Mas, em destaque, em todas as televisões, estava estampada a marca da Transitions, patrocinadora da escola da zona norte de São Paulo.

O carnaval de São Paulo, que parecia entrar num caminho de profissionalização, em uma edição só acaba voltando vários anos rumo à Idade da Pedra. Nunca as escolas tiveram tantos patrocínios, mas a gestão de seus diretores continua amadora. Das maiores, apenas Rosas de Ouro e Vai-Vai têm profissionais dedicados ao departamento de marketing – Renê Rodrigues e Renato Maluf, respectivamente.

Os exemplos de patrocínios se multiplicam. Em 2011, por exemplo, a China in Box investiu na Rosas de Ouro. A Comgás colocou dinheiro na Águia de Ouro, que contou a história do fogo. E a Nova Schin bancou o enredo sobre cerveja do Império de Casa Verde.

Este ano, além da própria Transitions, que patrocinou o Império de Casa Verde, outros destaques ficaram para a Vai-Vai, que para fazer uma homenagem às mulheres recebeu cerca de R$ 700 mil da Bombril; a X-9 Paulistana, que destacou o Rally dos Sertões e a cidade de Itanhaém, que foi retratada pela Pérola Negra.

A Rosas de Ouro ainda misturou uma lenda húngara com a história do publicitário Roberto Justus e conseguiu patrocínio de Pantene e Devassa (veja uma matéria com o publicitário: "É a maior homenagem da minha vida", afirmou).

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Mas vale a pena correr o risco de investir numa escola de samba sem que se tenha certeza do resultado? Como os diretores das escolas vão se comportar com as marcas dos patrocinadores? Apesar de toda a mídia negativa em torno dos acontecimentos desta terça-feira 21, três dos patrocinadores das escolas enviaram comunicados oficiais para a reportagem de Meio & Mensagem.

Segundo a Dunas Race, “no carnaval cada escola tem um valor próprio, porém, somente juntas e agregando valor uma a outra, elas transformam um competição em uma festa sem igual no planeta”. Para Lucas Moraes, diretor de marketing da escola, “o desafio era enorme quando decidimos levar o Sertões para o carnaval paulista. Foi uma atitude ousada. Mas, vê-lo cantado em samba e história, exaltando o valor do sertão brasileiro e sua gente, nos fez ver quão acertiva foi essa decisão”.

“É muito triste o que aconteceu. Como patrocinador, lutamos pelo crescimento do Carnaval de São Paulo e 2012 estava sendo considerado o melhor ano até o ocorrido. Mas nada abalará a seriedade do trabalho e esforço de quem seriamente quer e luta por esta realização. Estamos muito felizes com a parceria com a Vai-Vai e todos os resultados”, disse Marcos Scaldelai, diretor de marketing da Bombril.

Para a Transitions Optical, principal prejudicada nas imagens da da prisão do baderneiro, "o intuito da ação foi reafirmar o compromisso da empresa em promover e alertar a população para a necessidade de uma visão saudável, além de homenagear os profissionais do mercado óptico", destacando que "graças a esse apoio foi possível, por exemplo, realizar uma ação social para a comunidade da Casa Verde, com exames oftalmológicos e distribuição gratuita de óculos".

A empresa afirmou que "lamenta o ocorrido na apuração do desfile das escolas de samba de São Paulo" e que "tal fato que nada tem a ver com o patrocínio e seus objetivos, e espera que o Carnaval da cidade seja novamente a celebração de uma festa popular".

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Investimento
De olho em toda confusão, o prefeito Gilberto Kassab reuniu a imprensa na manhã desta quarta-feira, 22, para reforçar que a partir do próximo ano a Prefeitura irá cuidar da segurança dos desfiles e da apuração, responsabilidade até então da Liga das Escolas de Samba de São Paulo.

Além disso, Kassab reforçou que se os responsáveis pela confusão não forem punidos, ele poderá alterar o contrato que possui com as escolas, diminuindo a verba destinada à elas. Para o carnaval deste ano, cada escola do Grupo Especial da capital paulista recebeu cerca de R$ 500 mil e as agremiações do Grupo de Acesso receberam pouco mais de R$ 300 – o que totaliza mais de R$ 10 milhões de investimento direto da Prefeitura nos desfiles (num total de R$ 23 milhões em todo o carnaval). Além desta verba, as escolas também recebem um polpudo repasse da Rede Globo, que este ano teve patrocínio de Nova Schin, Pantene, TIM, Bradesco e Perdigão.

Liga e religa
Segundo alguns dirigentes das agremiações, a insatisfação que culminou no incidente da apuração em São Paulo se iniciou com uma falha na comunicação da presidência da Liga das escolas de samba. Isso porque dois jurados foram trocados ás vésperas dos desfiles e algumas escolas não ficaram sabendo da mudança antes do momento da apuração. Com isso, uma votação decidiu que tais notas valeriam para a escolha da escola campeã – mas, mesmo com a suposta democracia, a insatisfação dos derrotados se mostrou clara após o começo do anúncio das notas.

Mas a discussão sobre a gestão do carnaval de São Paulo é uma sinuca de bico há tempos. Apesar do Censo do Samba, projeto da SPTuris que aponta dados relativos ao carnaval, ter mostrado que a festa gera mais de 4,3 mil empregos na cidade, as escolas não conseguem entrar num acordo em relação à realização dos desfiles.

Em 2008, escolas dissidentes formaram uma federação paralela, a “Superliga”, mas como continuavam com contratos com a Rede Globo não conseguiram sucesso em organizar dias alternativos de desfiles. Depois de dois anos, as agremiações voltaram a se reunir numa Liga só, mas várias pendências continuam e o acontecimento desta terça-feira é apenas mais uma prova disto.

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Do blog Ponto de Vista: Pagar para ver e pagar para ser visto, por André Porto Alegre

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