O Globo discute papel do jornal
Estado, Folha e Valor participaram do encontro; evento foi promovido na semana em que o veículo carioca se prepara para apresentar novo projeto gráfico
Estado, Folha e Valor participaram do encontro; evento foi promovido na semana em que o veículo carioca se prepara para apresentar novo projeto gráfico
Teresa Levin
24 de julho de 2012 - 7h28
Executivos dos principais jornais do país reuniram-se na tarde desta terça-feira, 24, no Rio de Janeiro para discutir o papel do jornal no cenário atual. Representantes do Estado de S. Paulo, da Folha de S.Paulo e do Valor Econômico, além do Globo, participaram do debate promovido na sede do veículo carioca, como parte das ações que precedem o lançamento de seu novo projeto gráfico. O novo Globo será lançado neste domingo, 29. Ele foi redesenhado pelo escritório de design catalão Cases i Associats.
Discussões em torno do papel da mídia impressa em meio a inúmeras plataformas digitais nortearam o debate. Para Vera Brandimarte, diretora de redação do Valor Econômico, o tema tem atraído as atenções e alterado a forma com a qual os jornalistas trabalham. “A profusão de informação na internet tornou relevante o papel do jornal para avaliar informações, filtrar e analisar os fatos”, observou. Por outro lado, a internet afetou o modelo dos jornais. “Com matérias copiadas e reproduzidas por todo mundo. As empresas não se apropriam de seu próprio conteúdo, do ponto de vista financeiro. Isto vem afetando todo modelo de negócios dos jornais”, avaliou. Ela acredita no futuro do impresso, mas com um texto mais compacto. “A elite intelectual vai continuar querendo e vai pagar mais por este privilégio, terá um jornal com impressão cada vez melhor”, disse.
Já Sergio D’Ávila, editor executivo da Folha de S.Paulo, lembrou que, sempre que há uma inovação tecnológica, os jornais param e discutem qual o seu papel. “Mas as inovações tornam os jornais melhores. Quando surgiu o telégrafo, os jornais passaram a ter lead. Com o rádio, sumiram as edições vespertinas. A TV fez os jornais colocarem mais fotos na primeira página, já a TV colorida fez as páginas ficarem coloridas. Cada inovação teve uma leitura e fez uma transformação, mas eles foram seguindo. A internet talvez tenha gerado com uma velocidade maior esta atualização constante”, apontou.
Para ele, a perenidade do jornal será mantida, mesmo com todas as inovações. “Ainda não inventaram um meio que dê o prazer tátil do jornal, a portabilidade que ele tem. Além disso, ele tem papel fundamental na curadoria de informações que foram despejadas no último ciclo noticioso. Este mandato é dado por assinaturas e vendas em bancas”, complementou. O editor executivo da Folha citou dados desta semana do IVC para reforçar a importância do meio. “4,5 milhões exemplares impressos de jornais são vendidos por dia no Brasil, sendo que apenas metade dos jornais são auditados. Com isso podemos falar em 9 milhões de jornais vendidos todos os dias, cada um lido em média por três leitores. Com isso seriam 27 milhões”, falou. E fez uma comparação com a medição da televisão. “Um ponto no Ibope equivale a 500 mil pessoas nacionalmente. Estamos falando de um veículo que tem 54 pontos de Ibope, é um produto campeão brasileiro. Não deveríamos ter atitude de fracasso, mas sim de sucesso colocando na casa das pessoas a cada dia um campeão de audiência”, concluiu.
Ricardo Gandour, diretor de conteúdo do Estado de S. Paulo, comparou o jornal a uma rede social. “A carteira de assinantes e leitores de jornal sempre foi uma rede se seguidores e curtidores, recomendadores. É uma rede de mobilização. Em algumas capitais, pelos jornais que a pessoa lê identificamos quem ela é, seu jeito, preferências”, falou.
Ascânio Seleme, diretor de redação do Globo, destacou o otimismo dos executivos. “Não podemos negar que há uma crise batendo na porta, e por isto discutimos o futuro. Há todo tipo de debate: uns dizem que os jornais vão se tornar gratuitos, outros defendem a tabloidização, outros querem transformar os jornais em plataformas locais, para fidelizar mais a comunidade. Há quem fale em veículos de nicho. São vários os cenários. Redesenhar graficamente o jornal ajuda? Acreditamos que sim. E não para aumentar a circulação, esta é uma tarefa do conteúdo. O redesenho procura facilitar a vida do leitor, fazer o contato com um veículo mais agradável. Para nós, significa quase relançar, apostar na plataforma, que tem caráter e personalidade”, concluiu.
Cobrança online
A cobrança de conteúdo online também norteou parte das discussões. Para Gandour, o jornal é uma atividade privada, mas de elevado interesse público. “É um pilar histórico das democracias das sociedades modernas. Os próximos anos vão determinar se este modelo de negócio vai se valorizar ou não, mas parece inexorável que, com a pulverização da publicidade, esta seja substituída por algum pagamento, seja nos meios digitais pelos leitores”, avaliou.
Vera Brandimarte lembrou que não existe jornalismo independente se não houver independência financeira. “Cobrar pelo conteúdo é uma saída, talvez a mais interessante que temos visto. Produzir notícia de qualidade de forma independente custa caro”, falou. Já Ascânio Seleme frisou que há uma luta intensa para que a publicidade na plataforma digital se fortaleça. E brincou: “Vale US$ 1 milhão a resposta para a pergunta de quando o impresso vai parar de subsidiar o online”.
Para finalizar, D’Ávila disse que a experiência da Folha com a cobrança de conteúdo online tem sido bem sucedida, mas não quis antecipar números que prometeu divulgar ainda este ano. “A audiência não só não caiu como subiu. As assinaturas também aumentaram. Foi um risco que o jornal decidiu assumir há um mês e acho que não haverá recuo neste modelo nos próximos anos”, afirmou.
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