O que é uma maratona?
Por definição é uma corrida realizada na distância oficial de 42.195 metros, normalmente em ruas e estradas. Talvez o esporte mais democrático atualmente.
O que é uma transformação digital?
Pra mim é toda iniciativa e prática que leva uma organização de estado atual para um outro estado futuro desejado, de maneira sustentável e que gere valor para todos seus stakeholders. A transformação digital é um capítulo que envolve o uso intensivo (e inteligente) da tecnologia. Uma transformação pode ser simples ou complexa dependendo da amplitude e da profundida, envolvendo diversas capacidades.
Artigo Harvard Business Review: Digital Trasformation is not about technology.
Como se preparar para uma maratona?
Considere, como hipótese, que você é sedentário (não pratica nenhuma atividade física regular) e nunca participou de uma corrida.
Primeiro, você precisa se planejar. Qual maratona vou escolher? Em que época do ano? Em qual cidade? Qual será o percurso? Terei tempo suficiente para treinar?
Com a prova definida, agora é entender qual o meu estado físico atual. Meu coração está bom? Minha estrutura óssea e muscular estão preparados? O quanto distante estou de um indicador saudável? O que eu espero ao completar uma maratona?
O próximo passo é pessoal e polêmico: contrate um mentor (ou treinador, professor, assessor, coach, como você preferir chamar). Conheço muita gente que correu uma maratona sem nenhum apoio profissional e, alguns casos raros, com desempenho competitivo. Infelizmente para a maioria da população, assim como eu, a chance de uma lesão ou falha durante a jornada é muito grande. Em 2017 iniciei com uma excelente assessoria e consegui uma evolução surpreendente (até mesmo para o meu nível de auto-cobrança). Julguei ter aprendido e segui sozinho. O resultado foram duas lesões e nenhum recorde pessoal atingido deste então. O ponto aqui é: você pode fazer sozinho, existe informação e ferramentas abundantes a disposição, mas um profissional pode te ajudar (e muito).
Com estes três primeiros passos, você tomou conhecimento do seu estado atual e definiu, em alto nível, seu objetivo. As próximas etapas são resumidas em: disciplina, investimento e inovação.
Disciplina em seguir um cronograma de treinamento, disciplina em mudar sua alimentação, disciplina em adaptar sua rotina e horários. A disciplina talvez seja o principal motivo de desistência ou frustração – sabemos como criar novos hábitos de maneira intencional é complexo.
O investimento é alto. Temos um investimento financeiro na contratação de bons profissionais, somado ao investimento de equipamentos decentes (pelo menos um bom tênis próprio para corrida). Temos um investimento de tempo: você acorda mais cedo ou substitui um evento social por um treino longo, sem falar na “falta de tempo” que muita gente insiste em acreditar ter. Por fim, temos um investimento social: em algum momento você vai ser rotulado de “chato” – existem vários motivos.
Inovação? A arte de se adaptar a situação e encontrar soluções criativas para problemas comuns ou complexos. Um exemplo de inovação durante a preparação para uma maratona é quando você descobre que precisa de carboidratos durante a prova mas não gosta (ou não quer) suplementar com géis próprios. Uma solução é descobrir seu próprio suplemento (por exemplo: banana, aveia e tâmaras batidas em pasta). Muitas vezes você nunca tinha comprado uma tâmara seca ou se aventurado a cozinhar algo improvisado antes.
No final de alguns meses de disciplina, investimento e inovações você completou sua primeira maratona. Qual a sensação? Isso eu ainda não posso responder, mas baseado nas provas de 21k e duathlon, digo que a sensação é de missão cumprida e a busca por mais e melhor.
Dizem que o melhor de tudo é quando você se olha no espelho alguns dias depois. A evolução é nítida e não apenas visual. Seu corpo provavelmente está melhor – mais eficiente com medidas mais enxutas. Porém a maior transformação está na sua mente. Você se torna uma pessoa mais concentrada sua tomada de decisão fica mais ágil.
Se você não acredita em algum trecho ou considere exagerada alguma passagem, recomendo que aceite o desafio de fazer sua primeira maratona. Ao finalizar o desafio, vamos tomar um café.
Mas como tudo isso se assemelha à transformação digital?
Disciplina. Investimento. Inovação.
Leia novamente a minha descrição sobre a jornada para uma maratona e faça um exercício substituindo os termos relacionados à corrida por termos relacionados a sua organização.
“Primeiro, você precisa se planejar. […] O próximo passo é pessoal e polêmico: contrate uma consultoria. […] O investimento é alto. […] Inovação?”
Assim como a maratona, tanto você como sua organização foram transformadas. Após a transformação é praticamente impossível voltar ao estado anterior. Você voltaria a ser sedentário? Sua organização voltaria a gerar menor valor?
O que muita gente não enxerga ou não quer acreditar é que a transformação em ambos os casos não é uma jornada puramente teórica. Você não compra uma planilha de treinamento, os melhores equipamentos e a melhor nutrição e fica sentado no sofá assistindo uma série sobre “Como correr minha primeira maratona”. Também não adianta ter uma disciplina “mais ou menos” ou investir “mais ou menos”.
Da mesma forma a transformação não funciona se você investe em um planejamento estratégico detalhado, na melhor tecnologia emergente e disruptiva e na contratação de profissionais experientes e fica sentado em sua sala tomando exatamente as mesmas decisões de sempre.
A jornada de uma maratona e de uma transformação está na prática. Em cada quilometro rodado, em cada pequena dor ou lesão, em cada momento de conquista ou derrota. Em cada processo alterado, em cada contratação ou perda de talentos, em cada momento de conquista ou derrota.
É preciso prática. Só a prática leva a disciplina. Só a disciplina entrega o retorno ao investimento realizado. E só investindo se inova. Com a soma dos três elementos você terá uma versão melhor de você e da sua organização.
Então. Você já correu uma maratona? Está se preparando? Quer se desafiar? Ou você já passou por uma transformação digital na sua empresa? Está no meio da jornada? Ou não sabe por onde começar?
(*) Rodrigo Sato é Service Designer e evangelizador da Transformação Digital